Modo Malomar de ensinar

Texto:  Malomar Lund Edelweiss 

(* in memoriam)
Fundador e dirigente do Curso e Grupo de Estudos de Hipnoterapia e Hipnoanálise em Belo Horizonte (MG). Psicólogo com mais de cinquenta anos de experiência em hipnose. Fez psicanálise didática em Viena, no Círculo Vienense de Psicanálise. Fundou, em 1956, o Círculo Brasileiro de Psicanálise.

O curso, o seminário

Em nosso estudo, habitualmente, dividimos o tempo dos seminários em duas partes: a discussão de um texto e a casuística.

A finalidade natural desta é procurar resolver dúvidas sobre medidas terapêuticas tomadas do cliente, o exame das mesmas, sua crítica, que pode ser de aprovação ou de acréscimo de sugestões, hipoteticamente mais eficazes para o resultado terapêutico.

Há alguns dias, num dos grupos, chegado o momento de exposição do caso, ao perguntar eu quem no tinha, houve um silêncio absoluto por um momento relativamente longo. Diante disto, uma colega que, com freqüência, tem algo a apresentar, falou que, não se havendo ninguém proposto, desejava reexpor uma psicoterapia já trazida à apreciação do grupo, com novas perguntas sobre a mesma.

Nenhum sinal de ninguém. Após encerrado o que essa colega aduziu, outra declarou que,também, tinha perguntas sobre um paciente, a respeito do qual desejava ouvir a opinião dos demais. Indaguei, com curiosidade, porque não se havia ela manifestado antes, quando, ao início, a palavra fora posta à disposição. Titubeou um pouco e respondeu que não lhe havia ocorrido nada. Achei meu dever pedir a atenção para o que tem sucedido várias vezes em momentos idênticos: o silêncio, quando a palavra é oferecida a todos, precisamente, em ocasiões como a descrita.

Isto é tanto mais importante porque, sobre a mesma psicóloga que falou primeiro, já fora insinuado que ela tendia a preencher, abusivamente, o tempo que, afinal, pertence ao grupo inteiro, absorvendo-o como num leso-coleguismo. Note-se: esta terapeuta, na realidade, além do que traz aos seminários, não hesita em marcar supervisão particular quando a julga indispensável. Ora, o que há em tela, indiscutivelmente, é o modo pessoal de cada um, de interessar-se pelo que faz. Cada qual tem, como próprio e legítimo, seu estilo no estudo e na prática do que apreende. Para esta aprendizagem, em nossa situação concreta, é que se faz mister a visão multidisciplinar, difícil, dos fenômenos hipnóticos, em si, e por concomitância, de sua multiforme aplicabilidade técnica ao alívio do sofrimento humano, sendo, o que mais próximo está de nós, o de ordem psíquica.

O estudo ascentrado de qualquer tema leva a conclusões. Algumas, imprestáveis, que se refugam. Outras, válidas, que enriquecem. Sem isso, não se conhece o terreno em que se pisa. Negligenciando saber onde se põem os pés, há o risco de afundar-se leviana e incompetentemente. Já é bastante sério o desconhecimento inevitável gerado pela impossibilidade científica de total e absoluta certeza.

A hipnose facilita a obtenção de resultados na clínica, sejam sucessos ou malogros. O bom uso do transe hipnótico é maior e mais produtivo onde o anseio pelo efeito miraculoso, mágico, apressado, é substituído pelo insistente e diuturno intercâmbio de experiências e achados. A literatura especializada, ao alcance, já não é, hoje, nem parca em número, nem indigente em qualidade.

Na medida em que for pulsada e discutida é que se formularão questões novas, referentes às lacunas que se sentirem. Este é o avanço que, se desejado, de nenhum modo pode atolar-se na veleidade do esforço ausente de participação.

Em que pesam as vulgares e superficiais aparências contrárias, o domínio do hipnotismo é árduo. Mas é, por igual, extremamente rendoso de resultados por ser o campo de ampla e variada configuração, a ser muito bem explorada pela inestimável riqueza dos processos psíquicos em curso, mediante sua atenta indagação, e da "práxis" consequente. Os fatos, com os quais iniciei estas linhas, são reveladores.

Vieram-me, com eles, perguntas que faço agora, e que podem ser respondidas para uso interno: você realmente, estuda, pratica, interroga-se (pois estas três coisas são inseparáveis) sobre o que acontece em suas mãos? tem questionamentos, com você mesmo, e os expõe, abertamente, já que não é possível ser adivinhado sobre aquilo que acha estar-lhe faltando? Qual o seu empenho em ler o que existe ouvir o que é exposto e, sem medo de ser tido como "atrasado", perguntar? Só assim é possível receber.

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