Hipnoterapia individual

Dr. Júlio César de Almeida Barros Psiquiatra com 36 anos de experiência clínica e formação em  hipnoterapia individual e de grupo. Criou e inaugurou o Pronto Atendimento Psiquiátrico em 1987, desde então, adquiriu grande conhecimento e prática em emergências psiquiátricas.

Caso Antônia – transtornos fóbico-ansiosos.

34 anos de idade, casada, professora.

1ª sessão

Primeira crise, no ano de 2000, Antônia disse:

- Não enfrento fila, não saio sozinha, sinto muito medo e pânico. Não estou dormindo bem.

Recordou do tratamento comigo, há um ano. Submeteu-se por três meses, à psicoterapia. Uma sessão por semana, ou seja, foram dozes sessões num total. Interrompeu o tratamento, por que sentiu injustiçada quando o terapeuta cobrou uma sessão em que ela não havia comparecido.

Antonia continuou:

- Agora estou passando mal. Sinto taquicardia. Fiz um grande check-up e o cardiologista e não achou nada. Estou passando mal, há dois, e não te procurei com o medo de você não querer me atender direito, pois, interrompi o tratamento e achei que você ia me tratar mal.

Regressão Dirigida (RD)- a indução transcorreu no modelo do relaxamento corporal, dos pés a cabeça.

Ao final da RD a paciente diz sentir melhor, porém com o corpo pesado.

Comentários:

Destaco o sintoma fóbico. Típico das personalidades excessivamente ansiosas. No Código Internacional de Doenças (CID)-10, aponta o F40, transtornos fóbico-ansioso.

A justificativa da interrupção do tratamento pelo medo do terapeuta, fundamentada racionalmente pela cobrança dos honorários é a repetição de um comportamento padrão, de natureza cognitiva. O medo atende a um propósito consciente de não prosseguir, de não ir adiante, da não superação, seu efeito é paralisante. Tanto que a palavra utilizada por ela- ‘’eu interrompi’’. O medo é consciente, mas à que ele se presta é inconsciente.

Esta interrupção, a não conclusão, passa a sensação de insegurança, e na vida cotidiana ela terá inúmeros problemas.

Do ponto de vista pratico do outro lado, há de se perguntar, como o terapeuta poderá atingir um horário em sua agenda, sem receber os honorários? Nesta mesma hora o terapeuta poderia estar disponibilizando o horário para atender outra pessoa.

2ª sessão

Antonia inicia a sessão falando suas dúvidas sobre os efeitos dos medicamentos prescritos, fluoxetina e Olcadil:

- Não tomei a dose certa por causa dos prováveis efeitos colaterais que li na bula. Na bula está escrito que os remédios provocam problemas cardíacos. Também tenho medo do remédio me deixar dependente.

- Há uma diferença entre sedativos, ansiolíticos, hipnóticos e antidepressivos. A fluoxetina é um bom medicamento para a síndrome do pânico. Em determinado momento do tratamento são necessárias doses maiores, e na fase de melhora haverá a diminuição da dose. Como as crises de pânico são recorrentes e recomendado seria que você pudesse utilizar 40 mg de fluoxetina ao dia.

- comecei passar mal, e não tive coragem de te procurar. Fiquei chateada com você. Vi-te no parque de exposições e me escondi de você. Meu marido reprovou ‘’você não pode esconder dele, você está passando mal e esta semana tem que procurá-lo. Em seguida, sugeri que a paciente se acomodasse na cadeira e fechasse os olhos e induzi o transe. Regressão dirigida (RD):

- Imagine que você esteja neste parque de exposições e você caminha para o parque de diversões. Imagine que você é uma criança, por volta dos quatro, cinco ou seis anos de idade. Chamaremos esta menina de Toninha, seria mais ou menos assim. Você e Antonia com a Toninha, brincando no carrossel, depois no minhocão, o pula-pula. Depois, caminham um pouco mais, saboreia algodão doce, maçã do amor. Vocês duas estão bem à vontade, com os pés descalços. Brincando na areia, na poeira. Agora... vou deixar vocês a sós. Você e a Toninha, vocês duas. O parque é de vocês. Daqui a pouco volto a encontrar com vocês... (silêncio). Encontrei com vocês novamente, e você Antonia está toda satisfeita e feliz. Daqui a pouco você vai voltar, e pouco a pouco, respire fundo, três vezes pode vim abrindo os olhos, trazendo-se de volta no aqui e agora.

- Nossa! Que bom! Fui à roda gigante, mas tenho muito medo de roda gigante.

- Mas eu não te coloquei na roda gigante.

- É! Mas eu fui por minha conta, para ver se eu quebro este medo da roda gigante. Dei muitas voltas, sozinha. Engraçado o meu filho me perguntar por que somente eu não andava com ele nos brinquedos. Os outros meninos andavam com as mães deles. Estou sentindo muito pesada, parece que estou fora de mim. Parece que cresci. Quando respiro fundo o peso e a sensação desaparece, parece que fico cheia. Respiro fundo e desaparece.

- aceite de bom grado, todas estas sensações, lhe será muito útil proveitoso. Na próxima semana continuaremos.

Comentários:

Às vezes é necessário explicar ao paciente sobre os efeitos terapêuticos e os efeitos colaterais dos medicamentos. É natural que os pacientes queiram informar-se sobre o porquê e a finalidade dos remédios. No caso dos psicotrópicos a curiosidade é maior. Há muito preconceito e informações equivocadas. A polêmica maior é sobre o risco de se tornar dependentes. Aqueles medicamentos que para serem prescritos necessitam de receita azul, são fármacos dependentes.

Outra diferença importante, o que é necessidade e o que é dependência? Exemplo, o diabético é dependente de insulina. Então é uma dependência reguladora e estabilizadora, neste caso é uma necessidade. O fumante não dependente do cigarro, mas o prazer de inalar o tabaco lhe provoca graves doenças. É uma escolha, que o torna dependente, mas o cigarro não é necessário, ao contrário é totalmente dispensável.

Porem no caso da Antonia o medo dos remédios se assemelha a todos os outros medos. O medo de psiquiatra, o medo de roda gigante, o medo de se sentir bem. A indução do transe trouxe uma revelação espontânea do inconsciente quando ela disse ‘’fui à roda gigante e fui por minha conta’’. Esta é a questão ela assumir que pode dar conta de muitas coisas boas na vida dela. A hipnose permitiu a elaboração do inconsciente sem a necessidade de fazer o uso direto da interpretação.

Para a indução do transe o terapeuta utilizou o material que ela trouxe. Foi à paciente que falou de parque de exposições, e o terapeuta trocou por parque de diversão. A técnica de utilização quase sempre é mais palatável com resultados comprovados.

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