Hipnose Malomariana

Hipnose Malomariana  Aplicada às Práticas Psiquiátricas.        

Dr. Júlio César de Almeida Barros Psiquiatra com 36 anos de experiência clínica e formação em  hipnoterapia individual e de grupo. Criou e inaugurou o Pronto Atendimento Psiquiátrico em 1987, desde então, adquiriu grande conhecimento e prática em emergências psiquiátricas.

  Indice                                        Página

  1. In Memorian.....................................................................1
  2. Definição da Hipnose........................................................4

Associação Americana de Psicologia

  1. Modo Malomar de ensinar................................................6

Prof. Malomar Lund Edelweiss

  1. Hipnose e sua associação a terapia....................................8

Prof. Malomar Lund Edelweiss

  1. Indução da Hipnose -1.......................................................11

Prof. Malomar Lund Edelweiss

  1. Algumas ferramentas da Hipnose......................................23

Dr. Júlio César de Almeida Barros

  1. Imagens da infância e hipnoterapia de grupo.....................27

Dr. Júlio César de Almeida Barros

  1. Hipnoterapia de grupo aplicada em deficiência mental......29

Dr. Júlio César de Almeida Barros

  1. Hipnoterapia individual em transtorno fóbico-ansioso......34

Dr. Júlio César de Almeida Barros

  1. Aplicação da hipnose no tratamento do alcoolismo..........39

Dr. Júlio César de Almeida Barros

  1. Casos Clínicos- Aplicação da medicação depot...................47

Dr. Júlio César de Almeida Barros

  1. Casos Clínicos- Fator estressor e a psicose........................49

Dr. Júlio César de Almeida Barros

  1. Hipnose- Psicoterapia e linguagem hipnótica....................50

Dr. Júlio César de Almeida Barros

  1. Prática Psiquiátrica- Atestados Psiquiátricos e perícias.....52

Dr. Júlio César de Almeida Barros

  1. Prática Psiquiátrica- Perícia e ganhos secundários............54

Dr. Júlio César de Almeida Barros

                                                                                  

 

  1. In Memorian

 Malomar Lund Edelweiss

Nasceu dia 11 de janeiro de 1917 em Santa Cruz do Sul sendo filho mais velho de Frederico Edelweiss, empresário e professor universitário e de Henriette Lund Edelweiss. Estudou até os 9 anos no Colégio Marista São Luís em Santa Cruz. Dos 9 aos 11 anos estudou no Colégio Elementar Júlio de Castilhos, colégio do governo em Santa Cruz.  Aos 14 anos foi trabalhar no Banco da Província do Rio Grande do Sul como auxiliar de serviços gerais.

Aos 17 anos foi estudar em Porto Alegre, sendo aluno no Colégio Rosário de 1934 a 1937. Em 1938, já aluno da Faculdade de Direito de Porto Alegre, passou a lecionar Inglês e Português para o 3º e 4º anos do Curso secundário do Colégio Rosário. Em 1939 através do Círculo Operário, que mantinha, juntamente com algumas paróquias, diversas Associações e Tropas Escoteiras, teve o primeiro contato com o Movimento Escoteiro.

No ano de 1941, com apoio da direção da escola (Irmão Ambrósio) e sob a imediata orientação da Diretoria da Federação Rio-Grandense de Escoteiros, fundou no dia 04 de novembro a Associação dos escoteiros de Tupã-Ci, no Colégio Marista Rosário. O nome da Associação, cujo significado guaranítico é “Mãe de Deus”, presta homenagem a Maria Santíssima, padroeira do Rosário.

O ato de fundação, ao qual compareceram representações de todos os núcleos escoteiros da Capital, foi especialmente paraninfado pelo Reverendo Irmão Weibert, fundador das casas Maristas no Rio Grande do Sul.

A cerimônia de fundação teve início com uma Missa seguida pela Promessa de 20 escoteiros noviços divididos em três Patrulhas: Águia, Pantera e Tigre. Encerrou-se num esplêndido Fogo de Conselho. No mesmo ano de 1941 formou-se na Faculdade de Direito de Porto Alegre. No início de 1944 ingressou no Seminário Central de São Leopoldo, passando a Chefia da Tropa –CI para o Chefe Reinaldo Fernando Cóser.

O fundador da Tupã-CI (já seminarista e usando batina) no desfile dos escoteiros e bandeirantes na Semana da Pátria, em Porto Alegre, em setembro de 1945.

Em 1945 mudou-se para Roma a fim de continuar seus estudos na Pontifica Universidade Pio-Brasileira, tendo visitado o Papa XII em 12 de outubro desse ano. Por motivos de saúde retornou para o Brasil em 1947. Em 28 de novembro de 1948 foi ordenado padre da Diocese de Pelotas. Durante sua permanência no Movimento Escoteiro também desenvolveu atividades junto à Federação Rio-Grandense de Escoteiros, como Comissário da Federação de cursos para Chefes e Monitores. Apesar de seu ingresso no Seminário não se afastou totalmente da Tropa Tupã-CI, participava dos acampamentos de final de ano em Vila Elsa (município de Guaíba), indo inclusive vestido de batina. Também até final de 1947 continuou auxiliando no Movimento Escoteiro como membro da Federação Rio-Grandense de Escoteiros.

Em 1952 tornou-se professor universitário, pela Fundação da Faculdade Católica de Filosofia de Pelotas, na qual assumiu a cadeira de Filosofia, além de cargo de Diretor. Estudioso dos fenômenos hipnóticos, dedicou-se, desde 1982, à prática da hipno-análise e da hipnoterapia, pela experiência crescente de que o transe hipnótico, estado natural de consciência, variável e induzível, é de valia na agilização do acesso ao inconsciente e no aumento da eficácia dos processos terapêuticos da técnica usada.

Em 1956, no Rio Grande do Sul, deu início ao Círculo Brasileiro de Psicanálise. Em 1963, em Belo Horizonte, fundou o Círculo Psicanalítico de Minas Gerais. Foi o primeiro analista didata neste estado. Após desligar-se das instituições que criara, fundou o “Curso e Grupo de estudos de Hipnoterapia e hipno-análise”, exerceu suas atividades em Belo Horizonte até os seus últimos dias para a formação de profissionais especializados no estudo e atividade clínica aliada ao emprego da hipnose na área da saúde. Suas idéias sobre a interligação entre a psicanálise e a hipnose estão expressas no livro “Com Freud e a Psicanálise, de volta à Hipnose” (1994).

Malomar Edelweiss formou-se em 1942 em Direito pela Faculdade de Direito de Porto Alegre e em 1952 tornou-se professor universitário no Rio Grande do Sul na Faculdade Católica de Filosofia de Pelotas, trabalhando como filósofo e diretor. Interessou-se por Freud e aprofundou seus conhecimentos estudando psicanálise didática em Viena com o escritor Igor Caruso. Acreditava que a teoria psicanalítica fazia parte do acervo do conhecimento psicológico.

A atividade clínica de Malomar desenvolveu-se assimilando os procedimentos psicoterapêuticos de Milton Erickson, enfatizando o uso da hipnose na psicanálise. Em 1982 começou a praticar a hipnoanálise e a hipnoterapia, constatando que o transe hipnótico é instrumento valioso tanto para agilizar o acesso ao inconsciente quanto para o aumento da eficácia dos processos terapêuticos psicossomáticos usados. E em 1956 deu início ao Círculo Brasileiro de Psicanálise no Rio Grande do Sul e na cidade de belo Horizonte em 1963, fundou o Círculo Psicanalítico de Minas gerais, com três analisandos. É o primeiro analista didata de Minas gerais, sendo considerado o fundador da Psicanálise nesse estado. Fundou o Grupo de Estudos de Hipnoterapia e Hipnoanálise, para a formação de profissionais especializados no estudo da hipnose e na atividade clínica aliada ao seu emprego. (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre) 

 

  1. Definição da Hipnose 

 Definição de descrição da Hipnose de acordo com a Associação Americana de Psicologia:

A hipnose é um procedimento durante o qual um pesquisador ou profissional da saúde sugere que um cliente, paciente ou qualquer indivíduo experimente mudanças nas sensações, percepções, pensamento ou comportamento.

O contexto hipnótico é geralmente estabelecido por um processo de indução. Embora haja muitas induções hipnóticas diferentes, a maior parte inclui sugestões de relaxamento, calma e bem-estar. Instruções para imaginar ou pensar sobre experiências agradáveis são também comumente incluídas nas induções hipnóticas.

As pessoas respondem à hipnose de maneiras diferentes. Algumas descrevem sua experiência como um estado alterado de consciência. Outras descrevem a hipnose como um estado normal de atenção focalizada, no qual se sentem muito calmas e relaxadas. Independentemente de como e até que grau elas respondem, a maioria das pessoas descreve a experiência como muito agradável. Algumas pessoas são muito responsivas às sugestões e outras o são menos.

A capacidade de alguém experimentar sugestões hipnóticas pode ser inibida por receios e preocupações despertadas por alguns equívocos. Ao contrário de algumas pessoas que são hipnotizadas não perdem o controle de seu comportamento. Tipicamente, elas permanecem conscientes de quem são, onde estão e recordam o que aconteceu durante a sessão hipnótica, a não ser que a amnésia tenha sido sugerida especificamente. A hipnose torna mais fácil para as pessoas experimentar as sugestões, mas não as força a ter experiências.

A hipnose não é um tipo de terapia como a psicanálise ou a terapia comportamental. Mas é um procedimento que pode ser usado para facilitar a terapia. Em vista de não ser um tratamento em si mesmo, o treinamento em hipnose não é suficiente para a condução de uma terapia.

A hipnose clássica só deve ser usada por profissionais de saúde devidamente experientes e registrados (por exemplo, psicólogos clínicos licenciados), que também estejam trabalhando na área de sua especialidade profissional.

A hipnose tem sido usada no tratamento da dor, da depressão, da ansiedade, estresse, hábitos viciosos e muitos outros problemas psicológicos e médicos. Entretanto, ela pode não ser útil para todos os problemas psíquicos nem para todos os clientes. A decisão de usar a hipnose como auxiliar do tratamento só pode ser feita mediante consulta com um profissional de saúde qualificado, que tenha formação quanto ao uso e às limitações da hipnose clínica.

Em complemento ao seu emprego no meio clínico, a hipnose é também usada em pesquisas, com o objetivo de aprender-se mais sobre a natureza da própria hipnose, bem como do seu impacto nas sensações, percepção, aprendizagem, memória e fisiologia. Os pesquisadores também estudam o valor da hipnose no tratamento de problemas físicos e psicológicos.                                          

 

  1. Modo Malomar de ensinar

Texto:  Malomar Lund Edelweiss

Fundador e dirigente do Curso e Grupo de Estudos de Hipnoterapia e Hipnoanálise em Belo Horizonte (MG). Psicólogo com mais de cinquenta anos de experiência em hipnose. Fez psicanálise didática em Viena, no Círculo Vienense de Psicanálise. Fundou, em 1956, o Círculo Brasileiro de Psicanálise.

O curso, o seminário

Em nosso estudo, habitualmente, dividimos o tempo dos seminários em duas partes: a discussão de um texto e a casuística.

A finalidade natural desta é procurar resolver dúvidas sobre medidas terapêuticas tomadas do cliente, o exame das mesmas, sua crítica, que pode ser de aprovação ou de acréscimo de sugestões, hipoteticamente mais eficazes para o resultado terapêutico.

Há alguns dias, num dos grupos, chegado o momento de exposição do caso, ao perguntar eu quem no tinha, houve um silêncio absoluto por um momento relativamente longo. Diante disto, uma colega que, com freqüência, tem algo a apresentar, falou que, não se havendo ninguém proposto, desejava reexpor uma psicoterapia já trazida à apreciação do grupo, com novas perguntas sobre a mesma.

Nenhum sinal de ninguém. Após encerrado o que essa colega aduziu, outra declarou que,também, tinha perguntas sobre um paciente, a respeito do qual desejava ouvir a opinião dos demais. Indaguei, com curiosidade, porque não se havia ela manifestado antes, quando, ao início, a palavra fora posta à disposição. Titubeou um pouco e respondeu que não lhe havia ocorrido nada. Achei meu dever pedir a atenção para o que tem sucedido várias vezes em momentos idênticos: o silêncio, quando a palavra é oferecida a todos, precisamente, em ocasiões como a descrita.

Isto é tanto mais importante porque, sobre a mesma psicóloga que falou primeiro, já fora insinuado que ela tendia a preencher, abusivamente, o tempo que, afinal, pertence ao grupo inteiro, absorvendo-o como num leso-coleguismo. Note-se: esta terapeuta, na realidade, além do que traz aos seminários, não hesita em marcar supervisão particular quando a julga indispensável. Ora, o que há em tela, indiscutivelmente, é o modo pessoal de cada um, de interessar-se pelo que faz. Cada qual tem, como próprio e legítimo, seu estilo no estudo e na prática do que apreende. Para esta aprendizagem, em nossa situação concreta, é que se faz mister a visão multidisciplinar, difícil, dos fenômenos hipnóticos, em si, e por concomitância, de sua multiforme aplicabilidade técnica ao alívio do sofrimento humano, sendo, o que mais próximo está de nós, o de ordem psíquica.

O estudo ascentrado de qualquer tema leva a conclusões. Algumas, imprestáveis, que se refugam. Outras, válidas, que enriquecem. Sem isso, não se conhece o terreno em que se pisa. Negligenciando saber onde se põem os pés, há o risco de afundar-se leviana e incompetentemente. Já é bastante sério o desconhecimento inevitável gerado pela impossibilidade científica de total e absoluta certeza.

A hipnose facilita a obtenção de resultados na clínica, sejam sucessos ou malogros. O bom uso do transe hipnótico é maior e mais produtivo onde o anseio pelo efeito miraculoso, mágico, apressado, é substituído pelo insistente e diuturno intercâmbio de experiências e achados. A literatura especializada, ao alcance, já não é, hoje, nem parca em número, nem indigente em qualidade.

Na medida em que for pulsada e discutida é que se formularão questões novas, referentes às lacunas que se sentirem. Este é o avanço que, se desejado, de nenhum modo pode atolar-se na veleidade do esforço ausente de participação.

Em que pesam as vulgares e superficiais aparências contrárias, o domínio do hipnotismo é árduo. Mas é, por igual, extremamente rendoso de resultados por ser o campo de ampla e variada configuração, a ser muito bem explorada pela inestimável riqueza dos processos psíquicos em curso, mediante sua atenta indagação, e da "práxis" consequente. Os fatos, com os quais iniciei estas linhas, são reveladores.

Vieram-me, com eles, perguntas que faço agora, e que podem ser respondidas para uso interno: você realmente, estuda, pratica, interroga-se (pois estas três coisas são inseparáveis) sobre o que acontece em suas mãos? tem questionamentos, com você mesmo, e os expõe, abertamente, já que não é possível ser adivinhado sobre aquilo que acha estar-lhe faltando? Qual o seu empenho em ler o que existe ouvir o que é exposto e, sem medo de ser tido como "atrasado", perguntar? Só assim é possível receber.

 

  1. Hipnose e sua associação a terapias

Texto: Malomar Lund Edelweiss

Fundador e dirigente do Curso e Grupo de Estudos de Hipnoterapia e Hipnoanálise em Belo Horizonte (MG). Psicólogo com mais de cinquenta anos de experiência em hipnose. Fez psicanálise didática em Viena, no Círculo Vienense de Psicanálise. Fundou, em 1956, o Círculo Brasileiro de Psicanálise.

O termo hipnose evoca, naturalmente, a ieia de sono. Foi o que pretendeu James Braid, ao criá-lo, em 1841. Parecido com o sono fisiológico, à noite, há um sono psicológico que, de natureza diferente, possui, no entanto, caracteres semelhantes aos daquele.

Esse estado mental recebeu o nome de hipnose (do grego: hypnos=sono). Pode ser induzido em alguém, por outrem. Seu ponto máximo é o sonambulismo, no qual o hipnotizado pode caminhar (ambular) e perfazer os iguais aos de vigília. O nome lhe foi atribuído por analogia ao sonambulismo natural: alguém durante o sono, levantar-se da cama, perambular pela casa, executar determinadas ações, voltar a deitar e, no dia seguinte, não ter lembrança alguma do que fez (perda de consciência).

No estado sonambúlico hipnótico, normalmente, o sujeito não se põe a caminhar, a menos que se lho sugira. Neste sentido, a rigor, a denominação é incorreta. O fato maior é a docilidade do hipnotizado ao hipnotizador. Nunca, porém, total, segundo a crença popular.

Em resumo: submeter-se ao comando de outrem (o hipnotizador), pela ação do qual se entra num estado com aparência de sono (hipnotizado) passando a agir de acordo com as sugestões daquele, e não lembrando o que ocorreu (amnésia pós-hipnótica)-eis, por mais de um século, a noção comum de hipnose, que persiste até hoje, mesmo entre pessoas de bom nível intelectual, sem excluir profissionais da área de medicina e da psicologia.

Concorrem para isto, já no século XIX, textos romanceados, sucedendo-lhes os espetáculos de palco, as fitas cinematográficas e, por último, a televisão.

O estudo e a prática da hipnose, hoje, tem como objeto uma gama variável de estados de consciência, que podem ir, desde o que corresponde a um simples absorver-se numa ideia ou pensamento e se distrair dos demais, até o sonambulismo.

Este sob aparentes traços específicos do sono, revela, pelos dados da ressonância magnética, profunda concentração mental. Braid, que forjou o vocábulo hipnose, tentou substituí-lo mais tarde sem sucesso, por monoideísmo, que define melhor a natureza da realidade ocorrente: uma ideia ou representação central polariza o fenômeno consciência e torna todas as demais periféricas, secundárias.

No século passado, Josef Breuer cunhou, para isto, a classificação de estados hipnóides. Em 1892, Freud afirmou que tais estados pertenciam à mesma linha dos fenômenos psíquicos normais do dia-dia, os quais apresentam natural variação de clareza de consciência. Mas o que quer que fossem essencialmente, eram considerados imprescindíveis na clínica psicológica.

A essa época, o pai da psicanálise, no tratamento hipnótico dos clientes com distúrbios mentais, praticava o que aprendera dos mestres franceses, Charcot, Liébeault e Bernheim, em síntese: transe profundo, acompanhado da sugestão autoritária de desaparecimento dos sintomas.

A exigência era demasiada (nem sempre se atinge o sonambulismo) e o resultado, escasso (com frequência, os sintomas voltavam). Foi esta hipnose que Freud abandonou por volta de 1896. Não é essa hipnose que, hoje se pratica. - Sem a desilusão com o malogro da hipnose que exercia, Freud não teria tido o estímulo para criar a psicanálise.

Não obstante a decepção sofrida, declarou, com honestidade, que a psicanálise tinha uma enorme dívida de gratidão para com a hipnose, pois: "a hipnose tornava palpável o inconsciente". Hoje, o fato recíproco, de que a hipnose atual é enormemente obrigada á psicanálise, é igualmente verdadeiro.

Sem a hipnose de Freud, a psicanálise não teria surgido. Sem a psicanálise de Freud, a hipnose não teria alcançado o estágio em que se encontra hoje. A hipnose de ontem (de Freud) tornava palpável o inconsciente. A hipnose de hoje (pós-Freud) facilita o acesso ao inconsciente.

A hipnose em si, não é terapia. decisiva é a sugestão terapêutica que a acompanha, de modo claro ou implícito. Confere acesso mais ágil ao inconsciente, facilita o manejo dos seus processos e a abordagem de seus conteúdos. Dá-se, assim, uma potencialização da técnica psicoterápica usada, que age mais direta e eficientemente.

Os estados de consciência que se apresentam durante o transe também podem surgir fora deste por qualquer outra causa natural. São como efeitos colaterais, possíveis em qualquer tratamento. O profissional deve estar capacitado a resolvê-los. É imprenscidível, pois, seja o terapeuta competente, também no uso da hipnose.

Em 1923, Pierre Janet, que nunca abandonou a hipnose em sua vasta e selecta clínica afirmou: "A hipnose está morta... até que ressuscite!". O mestre francês assistiu, ainda em vida, a realização dessa profecia, na década de quarenta.                                                                              

A psicoterapia

O homem, com mente e corpo, forma original e indissolúvel unidade psicossomática. Como pessoa, obrigatoriamente, vive num contexto social, de certa natureza e tamanho. Do qual é parte, queira ou não.

O útero anatômico, órgão corpóreo, gera o homem biologicamente. Sua função exige pai e mãe reais, ainda que venham a desaparecer. O útero social, a família, gera o homem psicologicamente. Sua função, também, exige pai e mãe, reais ou substitutivos, ainda quando, eventualmente, neste último caso, não se torne claro quem, de fato, desempenha esse papel.

A saúde ou patologia da mente ou do corpo, do indivíduo ou do grupo no qual se insere, interagem de modo recíproco e fatal. A vida do homem se desenvolve num contexto onde nada é indiferente ou inerte. Nenhum de seus fatores é único e absoluto, nem pode, artificial e imprudentemente, ser pensado como tal.

No curso ora proposto, entrosam-se conceitos da psicanálise freudiana, os da personalidade de Igor Caruso e os da terapia de Milton H. Erickson, numa síntese além do mero ecletismo descoordenado.  No domínio da psicoterapia, como noutros, vale que o bom resultado é tanto mais provável, quanto mais instrumentos úteis houver.

O estado de transe inclui, sempre, naturalmente, alguma regressão, que é um dos fatores atuantes na sondagem de vivências soterradas pela amnésia. Não é o único nem o mais claro deles. Malgrado os progressos, pouco se sabe, ainda, sobre os aspectos fundamentais da vida psíquica. Seu conhecimento normal está sujeito às correções provindas de novas descobertas.

O novo é, de que algum modo, contrário ao antigo. Em qualquer momento, porém,  a defasagem entre as formulações intelectuais vigentes e a realidade, não é jamais, inócua. A distinção correta entre hábito, modismo e achado autêntico, dará qualidade ao saber e ao valor do seu uso na clínica.

  1. Indução da Hipnose -1

Prof. Malomar Lund Edelweiss

Fundador e dirigente do Curso e Grupo de Estudos de Hipnoterapia e Hipnoanálise em Belo Horizonte (MG). Psicólogo com mais de cinquenta anos de experiência em hipnose. Fez psicanálise didática em Viena, no Círculo Vienense de Psicanálise. Fundou, em 1956, o Círculo Brasileiro de Psicanálise.

Há maneiras sem conta de induzir a hipnose. Exponho, a seguir, uma das modalidades entre as muitas que existem: através do relaxamento, expediente dos mais comuns, que amolda a variações de formas e medidas consoantes com as preferências do operador e em vista do sujeito real. É das menos ameaçadoras por ser não autoritária. Não tem, ao mínimo, ares verdadeiros ou falsos de pretender subjugar: propõe, apenas. Note-se, inclusive, que o relaxar puro e simples, sem qualquer outro acréscimo, tem sido aplicado para obter efeitos psicoterapêuticos, com resultados benéficos dignos de crédito. A presente exposição aduz, em seus fundamentos, linhas que, mesmo contendo algumas particulariedades, constituem certo padrão disposto a refinar-se, obrigatória e logicamente, pelas adaptações próprias à situação concreta, caso a caso. O objetivo, dentro do meu propósito específico, é induzir o estado de transe com finalidade terapêutica. Na qualidade ancilar de elemento coadjuvante, ele se faz partícipe de boa e preciosa liga com as técnicas válidas existentes, nos tratamentos psicológicos.

Nada obsta, porém, que a indução se faça tão só para estudar o fenômeno em si mesmo, sem outras sugestões secundárias e indevidas, de qualquer natureza. Da maneira mais simples, convido o sujeito a sentar-se diante de mim com o máximo conforto possível. A cadeira pode ter braços ou não. Se houver espaldar alto, ele permitirá reclinar a cabeça para trás, naturalmente. Como substituto desse, a cadeira poderá encostar-se a uma parede. Será, então, fácil, descansar nesta a cabeça, se o cliente o desejar, pois, em algumas pessoas, esta posição provoca repuxamento da parte frontal do pescoço. Pode convir se coloque uma almofada entre a cabeça e a parede ou o espaldar da cadeira, para maior comodidade.

Não raro, alguns se sentem muito bem mantendo a cabeça ereta, a equilibrar-se, espontânea, solta, sem apoio nenhum. Os pés devem permanecer um pouco afastados, um ao lado do outro, naturalmente sobre o chão, evitando se equilibrem nos artelhos, ou seja, na ponta do calçado, ou de qualquer modo que produza retesamento dos músculos das pernas. Muitos, à primeira entrevista, mesmo dizendo-se confortavelmente sentados, têm o hábito de colocar as pernas de tal modo para trás, que os pés têm de apoiar-se na ponta, não ficando, pois, como é o normal, toda a planta dos pés assentada no chão.

Sempre que isto acontece, peço que por um momento, não se mexam, mas olhem os pés e observem como estes estão mal acomodados, retesando as panturrilhas (popularmente denominadas batatas ou barriga das pernas). Muito freqüentemente a resposta é: “Assim, você está gastando energia inutilmente. Mudar a posição das pernas ou dos pés, de quando em quando, é normal e ajuda descansar. Mas, desta forma, você está praticando algo semelhante a sair de casa, deixando todas as luzes acesas, sem necessidade, e aparelhos elétricos funcionando no vazio...”

As pernas também, não devem ficar cruzadas. Se o cliente for de estatura baixa um banquinho, ou sucedâneo, remedeia o incômodo de as mesmas ficarem pendentes, com os pés no ar. É comum ver pessoas se sentarem numa posição defeituosa e, por hábito arraigado, nem darem a menor atenção ao fato.

As mãos podem alojar-se, com facilidade, sobre as coxas, mesmo numa cadeira provida de braços, sobre os quais os cotovelos se descansam, caso a altura e o volume do corpo o permita. A palma das mãos, normalmente, toca a parte frontal das coxas. (1). Quem está exercitado nas posições de relaxamento da ioga pode preferir deixar as mãos bem descontraídas, com o dorso sobre as coxas ou sobre o assento da cadeira e a palma voltada para cima. Os obesos, pelo abdome crescido, são comuns se acomodem com os braços e mãos pendentes ao lado do corpo ou os descansem sobre os braços da cadeira.

Nada impede que o sujeito se deite num divã, necessário em alguns casos de deficiência física que impossibilite a posição sentada. Em geral, prefiro a cadeira, pela razão de permitir observar melhor, frente a frente, a postura, os gestos, os movimentos corporais e a expressão fisionômica do hipnotizando. È da maior relevância acompanhar, atentamente, tudo o que está ocorrendo, desde os pés até o rosto de quem está sendo hipnotizado.

Antes de qualquer outra coisa, pergunto (o que também vale por uma recomendação):

- “Você está, de fato, bem instalado aí no seu lugar, bem à vontade, com todo o conforto, ao seu modo? Este é que importa, e não o meu, ou seja, de quem for...” (Ou: “O seu modo é o seu, não o meu!”).

A linguagem do terapeuta será a própria dele, adaptada às condições do cliente, a começar pelas culturais. A naturalidade do operador, sincera, é um dos elementos que contribuem para facilitar a indução. O sujeito poderá responder que está muito bem na posição em que se encontra. Ou pode reacomodar-se melhor. Ou, ainda, poderá o terapeuta, em verificando que haja algo forçado ou tenso na posição do outro, sugerir, por exemplo, que altere tal ou qual coisa no modo como está sentado, seja a posição do corpo na cadeira, a dos pés no chão, etc. Em certos casos, o sujeito só consegue, de início, estar em posição algo rígida, inatural. Em maior ou menor tempo, com toda probabilidade, o processo acabará por atenuar e corrigir o defeito.

O cliente, ainda plenamente alerta, ouve então, de mim, em tonalidade clara, branda, pausada, que vai, cada vez mais, assumindo esse diapasão:

- “Daqui a pouco, vou pedir-lhe para fechar os olhos... e nós dois, juntos, vamos respirar profundamente, três vezes... sentindo o ar entrar friozinho pelas narinas... o que é natural pela temperatura mais baixa do ambiente... e, depois sair morninho, porque se aqueceu nos pulmões... Após essas três vezes... peço que continue de olhos fechados por uns instantes... a respirar normalmente... E uma observação: para respirarmos juntos, de olhos fechados você não mais vai me ver respirar... Mas acho que vai ouvir!"

Respiro a seguir, profundamente, com algum ruído proposital, e interrogo:

- “Deu para ouvir?...” A resposta que recebo é, invariavelmente, afirmativa. – “Então, continuo, “pode fechar os olhos!...”

Faço, devagar, a respiração anunciada, acompanhando o ritmo respiratório do cliente, inspirando e expirando sincronicamente com ele, isto é, começando e terminando, o mais aproximadamente possível, no tempo em que ele o faz. Completadas as três vezes, posso dizer:

- Muito bem...! (Ótimo!) Agora, peço continue, por alguns instantes, de olhos fechados, a respirar normalmente... ...E vou pedir-lhe mais uma coisa: sinta os pés no chão... e deixe-os à vontade...largando-se...como por vontade própria...Para isto, não precisa fazer força nenhuma...nem mesmo  ‘fazer força para não fazer força’... Sentindo os pés, obrigatoriamente você sente os sapatos (tênis, sandálias, etc. – ou, de modo geral, ‘o calçado’, principalmente quando houver dificuldade de definir melhor) que envolvem e protegem os pés... e, se forem de número certo e forma adequada, cumprem essa missão esplendidamente...Sinta a sola ou planta dos pés ...debaixo delas, sinta a palmilha interna que as toca...-E mesmo através do solado dos sapatos...debaixo deles...sinta o chão firme sobre o qual os pés se assentam e se apóiam...”

Quando há tapete, é possível intermediar: “... debaixo do solado e através dele, aqui, provavelmente..., você consegue captar, alguma coisa do macio do tapete (felpudo)... e, mais além... abaixo dele... o chão firme sobre o qual os pés se assentam e se apóiam...”

- "Sinta os tornozelos...dos tornozelos aos joelhos, sinta as pernas propriamente ditas...canelas, panturrilhas (ou batatas, ou barrigas das pernas)...e deixe as panturrilhas, como os pés...à vontade...relaxando...largando-se...como, também, não tem a menor obrigação de conseguir coisa nenhuma..."

É bom momento, a esta altura, o operador, respirar profundamente, como ao início. Serve para verificar a reação do hipnotizado. Este pode de imediato, também respirar profundamente. está, pois, já num bom vínculo para com o hipnotizador, num 'rapport' mais intenso. (Poderíamos dizer, em linguagem psicanalítica e em senso amplo, em relação transferencial positiva.) Em não se dando isto, poder-se á fomentar esse processo dizendo, por hipótese: “Você poderá acompanhar-me quando eu respirar fundo...respirando junto...

como poderá, também, fazê-lo por conta própria quando quiser...a qualquer momento”. Há indivíduos que embora hipnotizados, pelo menos de começo, não acompanharão o ato de respirar. Não será nada mau, pouco adiante, se repita a proposta. Entretanto, existem os que muito dificilmente aderem à solicitação de acompanhar o terapeuta nessa respiração, mesmo após algumas sessões. Isto não impede, entretanto, o resultado positivo do transe.

- “sinta os joelhos... eles estão flectidos (dobrados), necessariamente pela sua posição Sentada... nem haveria outro jeito de eles poderem estar...-Dos joelhos aos quadris...sinta e Deixe relaxarem as coxas... elas fazem certa pressão sobre o assento da cadeira...tanto que na parte posterior delas (“mais para perto dos joelhos”, se for o caso)... você percebe onde começa o assento da cadeira...Na parte anterior das coxas...você sente o peso e o calorzinho das mãos... e, nas mãos, que também relaxam...você sente o calorzinho das coxas...e, mais para a ponta dos dedos, onde a sensibilidade táctil é maior...você capta algo da própria textura da fazenda (ou ‘tecido’) da roupa...” (podendo citar, explicitamente, o tipo da peça de vestuário: calça, short,saia, macacão, etc.).  Evidentemente, isto depende do modo como a pessoa se apresenta. Esta verbalização, supõe que as mãos estejam descansando sobre as coxas, tocando a saia,calças ou que for. Serão diferentes as palavras se a ponta dos dedos tocarem a pele do corpo ou as mãos estendidas sobre os braços da cadeira.

- "Sinta e deixe à vontade os quadris...Assim como as coxas, eles também fazem pressão sobre o assento da cadeira...pelo motivo natural de que o tronco... verticalmente...no espaldar da cadeira...Assim, bem apoiado, pelas costas e pelos quadris...o tronco pode relaxar ‘numa boa’...costas...quadris...nádegas...baixo ventre...genitais...abdome ...se apóia pelos quadris...no assento da cadeira...e o tronco, pelas costas, se apóia nas costas,(barriga)...peito ...à vontade...”

- “Dos ombros aos cotovelos... relaxam os braços propriamente ditos... dos cotovelos até as mãos... relaxam os ante-braços...” (se tocarem os braços da cadeira, será isto lembrado: “que ... apóiam nos braços da cadeira...e você sente... no ponto de contacto... a superfície lisa...e o friozinho agradável...dos braços da cadeira...mesmo através das mangas” – se isto deveras ocorrer). Retrata-se, assim, verbalmente, a situação de fato, o que é muito importante, porque, dentro de si mesmo, sem dar-se conta, o cliente está como que confirmando que tudo é real porque, de fato, o é.

- “O pescoço pode relaxar todos os músculos...desde o peito e os ombros...até o queixo e a nuca...porque a cabeça está bem apoiada...” ou: “porque a cabeça se equilibra perfeitamente...” – se não houver almofada, nem a cabeça se apoiar contra a parede.

- “O rosto... pode relaxar... músculos do queixo... bochechas... mandíbulas... Os músculos das órbitas dos olhos, ao relaxarem... dão certa sensação de repouso, descanso... e as pálpebras podem até parecer... agradavelmente... um pouco mais pesadas... A testa relaxa... desde as sobrancelhas... até onde começa o couro cabeludo...” (ou: “até onde começa, anatomicamente, o couro cabeludo...” se, porventura, o cliente tiver cabelos escassos). Adaptam-se os termos à realidade do paciente, que poderá ser portador de qualquer outra peculiaridade.

- “O couro cabeludo, igualmente, relaxa... a parte superior, o cimo da cabeça (ou cocoruto)... a parte posterior, que desce até a nuca... e as laterais... direita... esquerda...”- E assim, você está... dos pés à cabeça...relaxando...sossegado...tranqüilo...ao seu modo...no seu ritmo...e na sua medida...nem mais, nem menos...(pode-se, convenientemente, dar  certa  ênfase ao tom de voz, principalmente neste final.

Permita-se, sentir-se assim, por alguns momentos... enquanto eu não lhe pedir outra coisa...”

O sujeito está, constantemente, sendo observado com atenção, de modo a que se percebam as modificações que se operam na postura do corpo, no rosto, nos gestos eventuais produzidos. Habitualmente, o tronco e os membros assumem posição mais descontraída, bem visível. Os traços fisionômicos se apresentam mais distendidos, etc. A seguir, depois de alguns instantes, mais breves ou longos, conforme o que for observado prossigo:

- “Enquanto fui falando aqui... suas pulsações e batimentos cardíacos foram se tornando... pouco a pouco... algo mais lentos... ou, em linguagem mais exata, foram se tornando, saudavelmente... mais compassados... Pelo afrouxamento muscular geral... a circulação se faz mais desimpedida... desde o coração... até todas as extremidades do corpo... e todos os órgãos internos... levando, até lá... nutrição... saúde... bem-estar... E a própria respiração está mais livre... mais solta... (se for conveniente, pode acrescentar-se: “Por mais uns momentos permita-se sentir-se dessa forma...”). E pela sua mente... podem passar mil e uma coisas... imagens... pensamentos... fantasias... sensações... lembranças... seja o que for... Ou pouca coisa... ou, mesmo, nada... como que você, por instantes... desligue completamente... e minha voz pareça distante... ou até suma... em alguns momentos... por completo... (o terapeuta pode baixar o tom da voz para tornar mais real a afirmativa)... Nada disto impede que você esteja aí... como que mais á vontade com você mesmo... sem ter obrigação de haver conseguido coisa nenhuma... e, portanto... sem ser cobrado... do que quer que seja... por ninguém... nem por você mesmo...”

Decorrido certo lapso de tempo, em geral, alguns segundos a mais do que os intervalos entre os fragmentos de frases que emprego para a indução:

- “daqui a pouco, vou fazer-lhe uma pergunta... que, por ser muito simples e natural..., você também poderá responder do mesmo modo... com toda a naturalidade... continuando tal como está... a relaxar de olhos fechados... E a pergunta é, apenas, esta: “Como é, (Fulano), que você está se sentindo agora... Pode responder? ... (ou: dá para responder?...).

Suponha-se a resposta: “Bem!”, ou “Muito bem!”, ou “Relaxado”... “Como anestesiado...” “Flutuando...” “Pesado...” Qualquer coisa deste padrão, pode merecer o reforço: “Ótimo...! curta (saboreie), simplesmente, seu bem-estar... ele é todo seu... sem nenhum artificialismo...! Eu não posso lhe passar coisa nenhuma... Posso, apenas, tentar ajudar-se... somente... tudo o mais é inteiramente seu...”

Se a resposta recebida foi dúbia ou de tal natureza que o terapeuta não entenda bem o que sucede ou o que foi dito, inclusive porque haja incerteza quanto à profundidade do transe, ou, mesmo, quanto à existência deste, pode aclarar-se com a pergunta: “E isto faz você sentir-se bem?... À resposta afirmativa, cabe, então a seguir, a aprovação com a fórmula acima: “Ótimo...! etc.”

Surpreendentemente, há de quando em quando, quem não consiga relaxar de modo nenhum e, ao inverso, se declare ansioso, mal contendo os olhos cerrados, invadido de medo ou agitação interior.

Claro, então, que o processo deve ser interrompido, pelo menos por esta vez, para que se tomem outras medidas oportunas cabíveis, antes de qualquer nova tentativa. Passados alguns instantes, desde logo, é de bom aviso, promover o condicionamento que tem por finalidade abreviar as induções futuras, com notável economia de tempo e esforço. É prático o formato seguinte, embora possa haver outros:

- “Daqui a pouco..., vou contar de cinco a zero... E, ao contar de cinco a zero... seus olhos poderão tender a ir-se abrindo... devagarinho... sem pressa... de cinco a zero... e, o que é importante... você conservando todo o bem-estar... ao irem os olhos se abrindo... de cinco a zero... Depois de termos trocado algumas palavras, contarei de um a cinco... e, ao contar de um a cinco..., os olhos poderão ir-se fechando... pacatamente... comodamente... aumentando, ainda um pouquinho mais, o seu bem-estar... ao irem os olhos se fechando... à contagem de um a cinco...! Portanto... (ou resumindo) de cinco a zero... os olhos abrindo... e o bem-estar permanecendo... De um a cinco... os olhos fechando... e o bem-estar podendo aumentar ainda um pouco mais...”

Note-se a respiração insistente e a ênfase nos números. Tem isto, por objetivo, escandir o que é mais importante para facilitar a criação do reflexo condicionado apenso à contagem, e que, automatizando-a, facilitará enormemente as induções ulteriores.  A repetição do mesmo conteúdo, com diferentes palavras, robustece as sugestões.  Atente-se ao modo inteiramente permissivo, longe de tudo quanto pudesse lembrar submissão inexorável a um comando: “Seus olhos poderão tender a ir-se abrindo...”

Inicio esta etapa da contagem de cinco a zero, para os olhos se abrirem com uma respiração profunda, mais ou menos ruidosa o suficiente para ser bem ouvida e acompanhada pelo sujeito, e começo a contar ao ritmo da inspiração do ar: “Cinco... quatro... três... dois... um... zero...” – aumentando o volume da voz à medida que os olhos vão se abrindo e a atenção consciente aumenta. As pálpebras se desceram ao ritmo próprio de cada indivíduo.  Às vezes, já ao ser pronunciado o primeiro ou o segundo número.

Doutras, só depois de algum tempo de ter-se dito o zero.  Termino, invariavelmente, a contagem com uma respiração profunda, depois do número zero, tal como faço quando a inicio, respiro fundo, antes de pronunciar o número cinco. Isto intensifica o condicionamento, pois, em geral, mesmo quem, durante o relaxar progressivo, não acompanha o hipnotizador nas respirações que este faça, não deixa de repeti-la ao começo e ao final de cada contagem, estimulado pelo exemplo dado.

Fique bem claro: sempre que se comece ou termine a indução do transe, ela é precedida e seguida de uma respiração profunda. Aos mais renitentes, pode determinar-se de modo claro: “Vamos começar juntos, com uma respiração profunda...” O sujeito, ao os olhos, pode estar plenamente lúcido ou relativamente sonolento. Ser-lhe-á feita a pergunta: “E agora... como é que está se sentindo?...” – A resposta é um dado útil para que se compare o modo de avir-se do hipnotizado durante o transe e depois deste. Muito freqüentemente, o sujeito repete o mesmo conteúdo que expressou pouco antes, ao ter sido feita, pela primeira vez, a interrogação, sobre como está se sentindo.  Poderá, então, a resposta do terapeuta ser: “Muito bem... (Ótimo, bem relaxado, etc). “- ou algo diverso, que sirva de orientação sobre o melhor rumo a tomar, de acordo com o que foi respondido. Não há como não ter em conta o que foi dito. Se houver a confirmação do bem-estar já manifesto anteriormente pelo hipnotizado, nova e serena aprovação do operador vem com justeza:

- “Que bom que você é capaz de permitir-se sentir-se bem... Afinal, é bom sentir-se bem...! De um bem-estar que é todo seu... nada de estranho... ou imposto de fora... somente seu...!

Nas mais das vezes, é oportuno prosseguir de imediato. Com os olhos fitos nos do cliente, de novo ‘respirar fundo’, aproveitando o momento exato em que o sujeito for inspirar o ar. Tendo ele feito isto – e o que se segue é fatalmente, a expiração – inicie-se, logo, a contagem de um a cinco, fazendo o número um coincidir co o momento preciso da primeira expiração, e continuando, desta forma, a contar os demais, um número de cada vez, sincronizados com o ato de esvaziar os pulmões. (Sublinhando, pois: a indução é condicionada pela contagem de um a cinco, feita ao ritmo da expiração; a dês-indução se faz pela contagem de cinco a zero, ao ritmo da inspiração).

Este passo é restabelecer o transe pela contagem de um a cinco, findo o que, pode louvar-se o desempenho do sujeito mediante palavras como estas:

- “Muito bem... você é um (bom) ótimo aluno... Daqui para diante... em qualquer situação legítima como esta... semelhante (igual) a ela... você, comodamente instalado no seu lugar... por própria vontade... cada vez que for contado de um a cinco... como há pouco... seus olhos poderão fechar-se naturalmente... lentamente... e de lá de dentro de você... virá um bem estar... que tomará conta de você... inteiramente... envolvendo-o por completo... dos pés até a cabeça... relaxando o corpo inteiro... enquanto os olhos vão se fechando...

E, ao ser contado de cinco a zero... também como há pouco... seus olhos poderão abrir-se... calmamente... sem pressa... conservando você... inteiramente... seu bem-estar... que lhe fará companhia... e irá com você para onde você for...!”

Na verdade, houve até agora duas induções: a primeira, realizada pelo relaxamento, passo a passo. A segunda, agora, depois da contagem de cinco a zero, para abrir os olhos, e a contagem de um a cinco para fechá-la. Esta é a segunda, em relação à primeira, que foi feita, ao início ao propor relaxar. Ao mesmo tempo, esta segunda indução é um primeiro ensaio em que se põe à prova o condicionamento da contagem de um a cinco, mediante o qual o sujeito, no futuro, passará a entrar em transe ao simples contar de um a cinco, nas condições expostas.

Repetir tem efeito cumulativo. De modo geral, vale reiterar as sugestões, para fortalecer a percepção do sujeito que, em estado alterado de consciência como o transe, sempre é mais tardo a registar o que lhe é proposto.

Segue-se esclarecimento muito oportuno, absolutamente veraz e que, por isto mesmo, fortifica o processo em curso:

“Isto é uma aprendizagem... ou reaprendizagem... porque, certamente, alguma vez... ou mais, até... você já pode ter sentido um bem-estar semelhante a este... E, como toda a aprendizagem... quanto mais repetir... como todas as aprendizagens que você fez até hoje... algumas delas até esquecidas... Por exemplo... quando um dia, pela primeira vez... lá no comecinho da vida... você em-pezinho... pela primeira vez... seguro nas mãos de um adulto... começou a dar os primeiros passinhos... pondo um pezinho na frente do outro... direito... esquerdo... direito... esquerdo... É claro que você nem sabia o que era direito ou esquerdo... isto você aprendeu mais tarde... mas foi movendo as perninhas... devagar... vacilante... e, pouco a pouco..., quanto mais repetia... mais firmes os pezinhos iam se assentando no chão... e assim, pouco a pouco... cada vez mais firme... pouco depois... largou as mãos do adulto... e começou a caminhar sozinho... com segurança... cada vez mais fácil... cada vez melhor... E aprendeu a correr... pular... brincar... jogar... e muitas coisas mais... cada vez mais fácil... quanto mais repetia... cada vez melhor... Ou mais, tarde, nas primeiras letras... Não era tão simples assim... olhar e guardar, visualmente, a forma das letras... ouvir e guardar auditivamente o som das letras... e sua mãozinha... pegando o lápis... e começando a traçar aquelas retas... aquelas curvas... o m com três perninhas e o n com duas... os olhinhos do o... do a... hastes para cima... como o d e o t... como o p e o q... e quanto mais repetia... mais fácil ia se tornando repetir de novo... e melhor iam saindo as letras... E você foi superando coisa por coisa... uma de cada vez... foi juntando letras... formando palavras... e, tempos depois, estava lendo e escrevendo tudo o que queria... cada vez mais fácil... cada vez melhor... E tudo ficou depositado, lá dentro de você... guardado na sua memória profunda... no seu inconsciente... ao seu inteiro dispor... para poder ir buscar lá... e usar quando quisesse... a seu bel-prazer... Como todas as coisas que você aprendeu até hoje... e as muitas mais que ainda vai aprender vida a fora...  Assim, também, isto aqui... agora... fica registrado na memória... no seu inconsciente... à sua inteira disposição... para usar quando quiser... cada vez mais fácil... cada vez melhor... Toda aprendizagem tem altos e baixos... é como uma linha ondulada ascendente... Ás vezes... numa das curvas... está-se mais baixo do que já esteve... mas a linha continua a subir e chega até lá em cima... Ou, ainda... suponhamos uma estrada em linha reta... da praia de Copacabana aos altos de Ouro Preto... seria monótona... desgastante... para o motor, motorista e passageiros... Assim... a estrada tem trechos planos... faz uma curva... sobe um pouco... desce um pouquinho... torna a subir mais ainda... e se chega ao destino com muito mais satisfação e descanso...”

Há uma vivência regressiva, mais ou menos profunda, inconteste, na lembrança dos primeiros passinhos e das primeiras letras. Observe-se bem a reação do sujeito e prossiga-se de acordo com ela.

Decorridos alguns momentos (podem ser, até, alguns minutos), conforme o tempo ainda livre, a boa disposição do terapeuta e da do cliente, pode ensair-se mais uma dês-indução seguida de re-indução. Trata-se, na verdade, de confirmar, com estes atos práticos, o que se esclareceu, corretamente, em instrução acima: repetir, ainda mais no começo das aprendizagens, e na justa medida, facilita subseqüentes interações e aprimora o efeito visado.  Se decidir fazer esta nova dês-indução, o operador, de modo singelo, se dirigirá ao sujeito em transe, omitindo qualquer intróito especial. Simplesmente, respira fundo, de modo que o cliente acompanhe o ato. Atento ao ritmo da “inspiração-expiração” proceda à contagem: “Cinco... quatro... três... dois... um... zero...” ao compasso da inspiração do sujeito. E, apenas este termine de abrir os olhos, de imediato, com nova respiração profunda, comece-se a reinduzir o transe com o já habitual: “Um... dois... três... quatro... cinco...” a acompanhar a expiração.

Quer esta indução tenha sido feita ou omitida, acrescento: “Toda caminhada, por maior que seja, começa com um primeiro passo... ao qual pode seguir-se um segundo passo, um terceiro... e assim por diante... Indo na direção certa... se chega onde se deseja... se pode... e vai chegar... se quiser...”

Desta forma, pode haver, ao todo, desde o começo, três induções.  A primeira é levada a efeito através do relaxamento inicial, passo a passo. A segunda – quando, (tendo eu, anteriormente, declarado ao cliente, já em transe pelo relaxamento que vou contar de cinco a zero e os olhos poderão abrir-se e isto tendo, de fato, ocorrido, após perguntar como se sente e os comentários que forem oportunos para o fato), conto de um a cinco (o que, também, já fora dito) e o cliente reentra em transe hipnótico, prova de que o condicionamento está ativo. A terceira indução, que me parece ser conveniente sempre que possível, faço-a, em geral, pouco antes do término da entrevista.  É mais um reforço. Facilitará ainda mais induções futuras. Acrescento então, como arremate, com o sujeito ainda em transe, algumas sugestões: “Você levará consigo todo o bem-estar que está sentindo... por todo o final do dia... (ou da noite), para uma boa noite... um bom despertar no dia seguinte... e até uns bons dias sucessivos...”

Chega-se aqui ao término da primeira sessão hipnótica. Costumo acrescentar, com o sujeito ainda em transe, que conversaremos um pouco, depois de ele abrir os olhos. Explico (ainda durante o transe): “Gosto de fazer uma segunda sessão, antes de propor algo mais definitivo. Esta segunda sessão se repetirá parte a primeira e dará mais um passo avante. Durará, aproximadamente, o mesmo tempo desta. Mas a decisão será sua, por própria vontade, evidentemente. Pensará, com calma, o que achar que mais lhe convém.

O sujeito é, então, desipnotizado pela contagem de cinco a zero e pergunto, mais uma vez, como se sente. Se ele der a impressão de que está sonolento, se custar a abrir os olhos ou quase não se permitir mexer-se na cadeira, costumo propor:

“Se estiver com os olhos um pouco pesados, pode respirar fundo uma ou duas vezes, que passará num instante, embora também passe logo, mesmo sem isto”. “Leve seu bem-estar consigo, para um bom resto do dia, uma boa noite e bons dias seguintes”.

Se for o caso, como é de meu hábito com quem deseja terapia, fica aprazada a sessão seguinte, se o cliente assim o desejar. Friso que ele não tem obrigação nenhuma de aceitar essa segunda sessão e, se decidir por ela, poderá tanto marcá-la, de imediato quanto telefonar mais tarde, depois de ter refletido sobre o que, realmente deseja. Prefiro acentuar que a segunda sessão, via de regra, não convém seja logo no dia seguinte, nem muito distante desta primeira. Três ou quatro dias, se possível, são bom intervalo. Repito o que já foi dito em transe, que durará, aproximadamente, o mesmo tempo, isto é cerca de hora e meia.

A despedida segue o modo costumeiro. 

 

  1. Algumas ferramentas da hipnose

Texto: Dr. Júlio César de Almeida Barros

Dr. Júlio César de Almeida Barros Psiquiatra com 36 anos de experiência clínica e formação em  hipnoterapia individual e de grupo. Criou e inaugurou o Pronto Atendimento Psiquiátrico em 1987, desde então, adquiriu grande conhecimento e prática em emergências psiquiátricas 

Gosto de usar a analogia de uma caixa de ferramentas. Se alguém ganha uma caixa de ferramentas e ao abrir esta caixa e ela está vazia, posso dizer que é apenas uma caixa. Quando o proprietário da caixa adiciona alicate, martelo, serrote, chave de fenda, pregos, parafusos e brocas então certamente merecem a denominação caixa de ferramentas.

Os psiquiatras clínicos com as condutas terapêuticas aliviam o sofrimento mental e proporcionam equilíbrio emocional aos pacientes. São inúmeras ferramentas a disposição do psiquiatra para alcançar este objetivo. Desde uma simples entrevista passando por exames sofisticados, prescrição de medicamentos até as técnicas psicoterápicas o psiquiatra está munido de um excelente arsenal.

A hipnose é mais um dos valiosos instrumentos para enxergar, explorar, estimular o saudável do ser na sua unidade psicossomática. A hipnose é uma enorme caixa com múltiplas ferramentas:

  • Relaxamento corporal – “para cada tônus muscular e uma resposta psíquica e vice-versa”. Pedir ao paciente que respire fundo, feche os olhos e sinta cada parte do corpo é um procedimento simples e eficiente para apaziguar a mente e produzir resultados de melhora da auto-estima e do bem estar.
  • Visualização – “o pensar por imagens... é mais próximo dos processos inconscientes do que pensar por palavras”. Pedir ao paciente que sente numa cadeira e se sinta confortavelmente imaginando estar numa praia, num jardim ou num campo em meio à natureza desligando-se dos estímulos externos, voltando-se para dentro, em paz e tranquilo auxilia combater a ansiedade.
  • Regressão dirigida – “o presente sem passado é vazio, o presente sem o futuro é cego”. O terapeuta sugere ao paciente que poderá lembrar fatos e acontecimentos de cada fase da vida. Com um pouco de esforço voltará à infância, imagens da época de criança, depois recordará da adolescência. O terapeuta poderá auxiliar o (a) paciente acrescentando alguns detalhes, o tempo da escola quando brincava com os amigos, na casa onde morava e a presença dos pais, quando andava de bicicleta, jogava futebol, brincava de bonecas, saía de férias, namorava e assim por diante. Ainda que o (a) paciente não se atenha as lembranças sugeridas pelo hipnoterapeuta por associação, o (a) paciente poderá se ater as próprias imagens, surgidas no momento do transe.Esta regressão dirigida induz ao transe hipnótico com bom proveito para elaborar conteúdos traumáticos, nas soluções de conflitos e no alívio das angústias.
  • Dissociação consciente e inconsciente – “o coração tem razões que a razão desconhece” A dissociação é mais um dos fenômenos hipnótico natural e comum no cotidiano. Quantas vezes um motorista realiza uma viagem deslocando de uma cidade para outra, ao volante dirigindo pela estrada, mas focado, concentrado e absorvido em seus próprios pensamentos, quando chega ao destino é indagado sobre o estado de conservação da estrada, o fluxo de veículos e a velocidade empregada para chegar tão rápido, ele responde simplesmente de que não se lembra de nada, uma completa amnésia. Para analgesia é um excelente procedimento. Um paciente se queixa de cefaléia. O hipnoterapeuta sugere em transe o paciente focar a atenção em um pensamento ou imagem, por exemplo, um momento agradável em sua vida, distraindo a atenção da dor para outra idéia mais importante. Nesse momento num ato de esforço e atenção concentrada é comum que esta dor diminua ou até mesmo desapareça.
  • Positivação – “de onde quer que venha, para onde quer que vá... caminhante não há caminho... o caminho se faz ao caminhar”. Todos nós já tivemos a oportunidade, de ouvir ou ler sobre a força do pensamento positivo. Se otimismo não resolve ao menos não atrapalha. Na hipnose as sugestões positivas produzem bons resultados terapêuticos. Uma paciente sofrendo de insônia, ansiosa, aflita, apressada, quando o hipnoterapeuta sugere, sente-se, feche os olhos, respire fundo, de forma calma, tranqüila, serena, sem precisar fazer nada e nem mesmo força para não fazer nada e agora surgirá em sua mente um momento agradável uma festa, uma conquista, ou ainda ratificar algo que a própria paciente disse ao terapeuta, que bom que a cirurgia correu bem, que você recebeu alta, que você está em sua casa, saudável, ao final da indução é comum a paciente comentar, nossa como foi bom, eu relaxei, estava muito ansiosa, ou ainda na outra sessão a paciente confirma, passei uma semana tão boa e dormi tão bem.
  • Pedagogização – “ver ou não ver?... Quatro olhos enxergam mais do que dois... a pior cegueira é a voluntária”. Por mais que se apregoa a neutralidade em psicoterapia é praticamente impossível que isto aconteça em sua totalidade. A neutralidade é de fato uma qualidade inquestionável na relação dual. Porém em determinados momentos da terapia se faz necessário um intervenção mais pró-ativa do terapeuta. Sem precipitação, ouvindo e perguntando o terapeuta pode e deve fazer colocações pontuais. Informar, orientar e ensinar. Um paciente em conflito, indeciso da escolha do curso superior. O terapeuta pergunta se ele pensou na possibilidade de se submeter a um teste vocacional e até explica de como o teste vocacional poderá ser útil para clarear e balizar a decisão e a escolha. Evidente que foi uma intervenção de cunho pedagógico e que certamente terá uma boa acolhida pelo paciente.
  • Analogia e metáforas – “assim começa o pão cotidiano que nutre a vida que sempre floresce”. Supondo que um paciente diga que está estressado porque está sobrecarregado, cheio de compromissos, cobranças e pressões na vida diária. Em seguida eu digo;

- Uma confeiteira se dispõe a fazer um bolo de chocolate. Ela separa os ingredientes, açúcar, fermento, leite, ovos, chocolate e outros, conforme a instrução da receita. Mistura os ingredientes na dose recomendada. Ao provar da massa do bolo é capaz de sentir o sabor de cada ingrediente embora estejam todos misturados. Não é possível, voltar a separar os ingredientes uma vez que houve a mistura e a massa está pronta para ser levada ao forno. Marcar o tempo e após desligar o forno, retirar o bolo, esperar esfriar e degustar. Nossos conflitos advêm da vida familiar, das nossas relações amorosas, do ganhar e gastar dinheiro, da saúde, da nossa vocação profissional e assim por diante. São os inúmeros ingredientes da vida diária. Todos se misturam dentro do nosso cérebro, a analogia é o forno. A outra analogia  é a  confeiteira, que somos nós,  que deverá ter a habilidade necessária para lidar com todos estes problemas e ainda manter o equilíbrio emocional. A analogia e a metáfora induzem ao transe de forma indireta com maior aproveitamento por parte do paciente.

 

  • Anedotas

Alberto procura um guru para lhe ajudar, estava desesperado.

- vim aqui para que o Senhor possa me fazer uma revelação para a minha vida.

- vá lá para fora e fique na chuva, com as mãos esticadas para o céu, a chuva é uma água abençoada, assim você terá sua grande revelação.

Duas horas depois Alberto volta ao guru. O guru perguntou:

- E então o que aconteceu?

Alberto respondeu:

- Duas horas na chuva, estou todo molhado, ensopado, e não aconteceu nada, estou me sentindo um verdadeiro idiota.

O guru completou:

- Não te disse que você ia ter uma grande revelação.

Nas anedotas ou piadas quase sempre estão embutidas metáforas ou analogias, com o acréscimo de causar o riso e a alegria. O bom humor é muito valioso para induzir o transe hipnótico e fixar atenção de forma mais subliminar. A alegria tem o poder aumentar a transferência e se tornar um facilitador para as condutas terapêuticas e aumentar a transferência na relação médico paciente.

 

  1. Imagens da infância e hipnoterapia de grupo

Texto: Dr. Júlio César de Almeida Barros

Dr. Júlio César de Almeida Barros Psiquiatra com 36 anos de experiência clínica e formação em  hipnoterapia individual e de grupo. Criou e inaugurou o Pronto Atendimento Psiquiátrico em 1987, desde então, adquiriu grande conhecimento e prática em emergências psiquiátricas 

A visualização criativa é uma habilidade que pode ser aproveitada em diversas áreas da medicina e da psicologia. Utilizo este recurso em meus pacientes quando participam da terapia de grupo.

A visualização, ou a imaginação possui um poder de cura extraordinário. Esta afirmação é comprovada na literatura científica. Diariamente, antes de atender os pacientes individualmente, realizo uma dinâmica de grupo, por uma hora e meia.

No dia de hoje, expliquei aos pacientes da experiência infantil. As crianças imaginam e brincam com objetos, por exemplo, os meninos brincam com carrinhos, e imaginam que estes carrinhos estão voando ou estão em alta velocidade. As meninas brincam com as bonecas e elas imaginam as bonecas cozinhando e conversam com as bonecas. Estas fantasias, este mundo mágico deixam as crianças felizes.

Muitas crianças conseguem manter suas mentes saudáveis graças às estas fantasias, o faz de conta.

Com doze pacientes presentes, perguntei se alguém queria falar de algo que imagina no dia a dia, os pensamentos e as idéias que passam pela mente. Um dos pacientes relatou:

- Na verdade, usei minha imaginação para pensamentos ruins. Imaginava que estava num velório, e imaginei que o defunto era eu. A depressão era tamanha que invejei o defunto. Eu queria estar ali no caixão no lugar dele.

- Eu estava numa depressão terrível, queria isolar e não queria conversar com ninguém, não queria sequer tomar banho

Explico:

- Neste caso, é a utilização da imaginação para pensamentos negativos. Pensamento típico, de pessoas deprimidas. Este tipo de pensamento ou imagens nos provoca sofrimento.

Então, poderíamos afirmar que a visualização positiva, é uma boa alternativa para os pacientes deprimidos. Não somente para os deprimidos, mas para qualquer pessoa. Utilizo deste procedimento há muitos anos, e ainda não detectei nenhum efeito colateral. Constato apenas benefícios aos pacientes.

Dirigindo-me ao grupo, sugeri que fechassem os olhos, e respirassem fundo. O que é mais importante acomodassem na cadeira da melhor maneira que lhe conviessem. Em seguida sugeri que pudessem utilizar a imaginação. Imaginassem o tempo de infância, quando eram crianças, como brincavam. Recordassem, lembrassem de como eram na casa do papai e da mamãe. Do vovô e da vovó. Se alguém contava estórias, e como eram as estórias.

Ao abrir os olhos duas pacientes relataram experiências antigas:

“eu brincava e sonhava que estava no mar, eu pegava um barquinho de papel, e era como seu estivesse dentro um navio. Eu queria tanto conhecer o mar e ir à praia. Quando meu pai me levou na praia foi um dos dias mais felizes da minha vida”

“eu gostava de aulas de educação física, eu estava com sete anos, e a professora falava assim: imagina que você vai correr e pular por cima daquela corda. Outras vezes ela falava você vai passar por baixo daquela corda, mas não tinha corda, era só na imaginação, mas eu adorava aquela brincadeira. Até hoje quando estou em dificuldade lembro-me da minha professora desafiando a gente passar por aquelas cordas, isto me ajudou a superar determinadas dificuldades.”

As imagens que surgiram, o mar, barquinho de papel, pular a corda foram associadas a experiências agradáveis alcançar objetivos, felicidade e superação de dificuldades. O psicoterapeuta pode estimular ou até mesmo ensinar o paciente a criar imagens que lhe serão altamente favoráveis ao equilíbrio emocional.

  1. Hipnoterapia de grupo aplicada em deficiência mental  - Oligofrenia, retardo e atraso cognitivo 

Texto: Dr. Júlio César de Almeida Barros

Dr. Júlio César de Almeida Barros Psiquiatra com 36 anos de experiência clínica e formação em  hipnoterapia individual e de grupo. Criou e inaugurou o Pronto Atendimento Psiquiátrico em 1987, desde então, adquiriu grande conhecimento e prática em emergências psiquiátricas.

 Relato de uma sessão com duas horas de duração. 

A sessão iniciou com a presença de dois pacientes e seus familiares. A paciente A, 47 anos de idade, em tratamento há dois anos. Sempre acompanhada da irmã.  O paciente B, um jovem de 15 anos de idade, acompanhado da mãe e de um amigo da família, que ajuda a cuidar do paciente. Portanto iniciada a sessão com cinco pessoas. 

Há várias formas de iniciar uma sessão de terapia de grupo. Um ou mais participantes podem tomar a iniciativa de puxar um assunto, ou fazer uma pergunta. O terapeuta pode entregar um folheto com mensagens que sirvam de estímulo à conversa. Pode passar trechos de filmes, palestras e documentários. Estas iniciativas com o propósito de introduzir ou estimular a associação livre, preferindo, acompanhar o discurso e o conteúdo desejado pelos pacientes. Nesta sessão o psiquiatra escolheu o tema da medicação. São pacientes com poucos recursos de linguagem. A idéia é esclarecer dúvidas dos familiares.  Ajudar os familiares a perceberem os efeitos terapêuticos ou efeitos colaterais dos medicamentos prescritos.

O psiquiatra propõe o assunto inicial. O psiquiatra escolhe o tema:

- falar sobre os remédios dos quais os pacientes estão ingerindo.

Dirigindo-se à mãe do paciente B, o Psiquiatra pergunta:

- Quais os medicamentos que ele está tomando?

- Haldol, Akineton, Gardenal, Tegretol e Melleril. Ele se dá muito bem com o Haldol. Este mês melhorou muito. Não bateu com a cabeça. Ficou mais tranqüilo. Foi muito bom o tratamento.

- A Senhora sabe para quê serve o haldol?

- Para ele acalmar.

- Mais algum efeito?

- Não sei.

O psiquiatra se dirige à irmã da paciente A

- Você sabe qual a finalidade do Haldol?

- Não. Não sei... mas, sei que faz bem para ela.

- Correto, o Haldol deixa os pacientes mais calmos. Principalmente diminuiu a agitação motora. O paciente consegue ficar mais quieto. Consegue permanecer sentado, não bate a cabeça na parede. Também, ajuda a coordenar o pensamento.

Mas, cada paciente tem sua própria reação ao haldol.

O psiquiatra continua o debate e as explicações sobre os efeitos e objetivos dos medicamentos:

- E o Akineton?

- É para não deixar babar (respondeu a mãe do paciente B)

- O Akineton não tem nenhuma ação sobre a doença. O Akineton evita o efeito colateral do Haldol. O Haldol ingerido sozinho pode provocar impregnação. O paciente começa a babar, o corpo poderá endurecer e  andar feito robô. Ingerindo o Akineton estes efeitos colaterais não ocorrem.

Nesse ínterim, o psiquiatra solicita para que a Enfermeira entre na sala de terapia de grupo com o propósito de aplicar 1 ampola de Flufenan Depot no paciente B. Quando o paciente vê a seringa e a enfermeira indo em direção dele, o paciente levanta da cadeira e começa a gritar. Bate com as mãos e os com os pés se defendendo e tentando agredir a enfermeira, revoltando contra a aplicação da injeção. A medicação foi aplicada com a ajuda do Psiquiatra, da mãe do paciente, do amigo da família e com a ação enérgica da enfermeira.

Logo após a aplicação, o Psiquiatra sai da sala de Terapia de Grupo, vai até a recepção e verifica se chegou mais algum paciente. Chegaram mais dois pacientes. O Paciente C acompanhado da irmã e o Paciente D acompanhado do irmão.  O psiquiatra solicita para que se dirijam à sala de terapia.

Obviamente que o ideal é começar a sessão de psicoterapia de grupo, com todos os pacientes no mesmo horário. Dar-se-á o início da sessão no horário previamente determinado sem admitir a chegada daqueles atrasados. Este pré-requisito seria o ideal, mas na prática é quase impossível. Então tomei a iniciativa de autorizar a entrada dos pacientes e familiares no decurso da sessão.

O paciente C, de 32 anos de idade entra na sala aos gritos. É a primeira vez que comparece à terapia de grupo após um mês de tratamento. O irmão está assustado e parece não compreender o que está fazendo ali. O paciente dominado por uma inquietude, senta-levanta, levanta-senta e por sua vez, o irmão tenta contê-lo sentado. O paciente D 31 anos de idade, está em tratamento há seis anos. A irmã fala do sucesso do tratamento, o irmão está mais calmo e por enquanto não manifestou crises convulsivas.

O psiquiatra sai da sala e solicita à enfermeira, que traga duas ampolas de Flufenan Depot. Uma ampola é aplicada no músculo, do braço direito do paciente D. Depois de muita força, segurando os braços e as pernas, a outra ampola de Flufenan Depot

foi aplicada no paciente C.

Os pacientes sofrem de retardos, são débeis mentais, é impossível realizar estes procedimentos num consultório. Este tipo de atendimento está sendo realizado num hospital psiquiátrico. A sala é enorme e confortável.  O psiquiatra, a secretária e a enfermeira estão preparados.  A medicação está disponível. Não se consegue estes medicamentos de rotina em drogarias.

 (Continuando a terapia de grupo)

A mãe do paciente B retoma o diálogo:

- Muitas famílias não têm paciência com seus doentes e acabam levando-os para Barbacena. O que acontece lá é a pior coisa do mundo. Já tive um irmão que ficou internado lá. Ele ficava preso e recebia a comida dentro da cela.

- o irmão do paciente D, complementa: “ele passou melhor este mês. Ele não bateu com a cabeça na parede. Por que será que eles batem com a cabeça na parede? Fazem isto até machucar, mas não param. Ele quebra tudo dentro de casa, objetos, portas, vidros.”

O psiquiatra retoma a palavra e começa a indução à hipnose:

- É muito importante estarmos aqui reunidos, para trocarmos experiências de como cuidar de pacientes como eles. São pessoas que nasceram com estes tipos de problemas, e se eles não podem ter uma cura completa, poderiam melhorar cada vez mais seus sintomas. Eu não sei tudo sobre eles, suas doenças e talvez nem mesmo a medicina saiba. Mas vocês que convivem diariamente com eles também sofrem. Não é nada fácil, cuidar deles. Exigem muito de vocês. Mas estando aqui neste momento para entender melhor o que se passa com eles. Vocês podem aprender mais. Aprender mais, sobre eles e com isto identificar os sintomas, as alterações dos comportamentos, e encontrar um modo mais adequado de lidar com eles.

Depois destas explicações, o Psiquiatra levanta da cadeira e se dirige até ao aparelho de som que está ao fundo da sala e põe para tocar o CD instrumental, de relaxamento. A música bem baixinha. O Psiquiatra modifica a tonalidade da voz e continua...

- Agora, gostaria que você pudesse fechar os olhos e por um breve momento ou de outro modo por um momento mais prolongado, respire profundamente. À medida que você respira profundamente acomode-se na cadeira, da melhor maneira possível, ao seu modo e do seu jeito, no seu ritmo e comece a experimentar a sensação de re-la-xa-men-to.

Alguns minutos atrás sua mente consciente podia ouvir tudo que eu estava dizendo, assistindo tudo que se passou nesta sala... agora, ....ao voltar com os seus olhos para dentro, experimente deixar ouvir a voz que vem de dentro do seu eu, a voz da sua experiência de estar por longos anos cuidando de seu irmão, irmã, filho, filha... Esta experiência está aí, registrada e armazenada na mente inconsciente. Esta experiência é fruto da sua persistência e de sua força de vontade, que soube superar todos os obstáculos surgidos. Por isto ao estar aqui hoje, nesta terapia, ao respirar profundamente e relaxar, você renova sua energia. O seu corpo e sua mente fortalecem cada vez mais... mais  e...mais ...aumentando mais o relaxamento em seus pés, que mantém o seu corpo de pé...,sinta as pernas que te ajudam a caminhar nesta estrada da vida...

Uma estrada muitas vezes de poeira, de pedras, de asfalto, ou uma estrada às vezes de subida, de curvas e de retas... (o Psiquiatra faz silêncio, e continua com som da música ao fundo). Agora, sinta os joelhos que estão dobrados e nem haveria outro modo, pois vocês estão aí sentados nesta cadeira... sintam as coxas, os quadris, o abdômen (a barriga), re-la-xan-do. Agora, a coluna que é o esteio do seu corpo, assim como você que é o esteio da sua própria vida. O peito... ouça a voz do seu coração que joga o sangue pelas suas veias, levando o alimento para todas as células do seu corpo. Isso, relaxe... relaxe.  Agora, os ombros onde pesam o peso dos compromissos, das responsabilidades: como pai, mãe, irmão, irmã, dona de casa, como trabalhador (a), como homem, como mulher. Solte seus ombros, movimente sua cabeça para direita, para esquerda, para frente, para trás. Solte todos os músculos em volta do pescoço e relaxe... isso, respire profundamente,...respire,...respire profundamente...e ...sinta a sua cabeça, onde estão guardadas todas as lembranças e recordações, que vem lá de dentro do seu eu, do seu eu mais profundo, onde estão registradas e depositadas na sua mente inconsciente, que vem lá de outrora, quando ainda nem se entendia por gente, ou de outro modo lembranças da infância...da mocidade...e agora adulto...isso..., respire profundamente...e sinta todo o seu corpo agradavelmente, confortável, relaxado (silêncio do Psiquiatra,continua a música por mais uns três minutos). Agora, respire três vezes profundamente e pode ir trazendo-se de volta, pouco a pouco, abrindo os olhos, despertando e ficando bem à vontade.

Esta indução hipnótica durou aproximadamente, uns quinze minutos. Havia por parte do Psiquiatra a preocupação de não demorar com a regressão dirigida (RD), porque os pacientes poderiam não suportar permanecer de olhos fechados ou porque poderiam aumentar a inquietude ou agitação psicomotora. Previsão que não se concretizou, muito pelo contrário, houve um bom aproveitamento por parte dos familiares e pacientes. Apenas um paciente permaneceu de olhos semi-abertos, os demais ficaram de olhos fechados. Inclusive o paciente que antes da indução estava agitado. Durante a indução acalmou e ficou apenas balançando o corpo sentado na cadeira, sem levantar. Todos os familiares que acompanharam e participaram da indução hipnótica, comentaram que estavam sentindo-se bem e relaxados. Assim terminou esta sessão de hipnoterapia de grupo.

Todos se retiram da sala de terapia e vão em direção à sala de espera onde está a secretária e o consultório para atendimento individual. Neste consultório, o Psiquiatra atende cada um em separado. Neste momento, a prioridade será pela avaliação e prescrição medicamentosa. Para a farmacoterapia o psiquiatra vai chamando o paciente, acompanhado dos seus respectivos familiares. Faz perguntas específicas sobre os efeitos dos medicamentos, benefícios, ação sobre os sintomas, efeitos colaterais e outras dúvidas dos familiares. Por fim, o Psiquiatra faz a receita e com a anuência dos familiares marca a data do próximo retorno.

CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

Todos os quatro pacientes a comunicação é primordialmente não-verbal. Comportamentos bizarros primitivos, sem sentido, frequentemente difícil de serem interpretados. Poderiam ser enquadrados na classificação de deficientes mentais totalmente dependentes ou semidependentes (ou subtreináveis), como descreve Pérez Ramos (7) (1982, p.31).

Níveis de retardo por período evolutivo do deficiente mental dependente: atrasos intensos em todas as áreas do desenvolvimento apresentam reações emocionais básicas; pode responder de forma limitada aos estímulos sociais; pode integrar-se a uma rotina, necessita de supervisão contínua; beneficia-se do treinamento de hábitos iniciais de higiene pessoal; pode adquirir hábitos de cuidados pessoais em nível limitado; comunica-se com movimentos primários e sons soltos; necessita de proteção e atendimentos contínuos.

Níveis de retardo por período evolutivo do deficiente mental subtreinável: marcado atraso no desenvolvimento intelectual, sensorial e motor; responde ao treinamento de hábitos simples de auto-ajuda (por exemplo, alimentar-se) habilidade mínima para comunicar-se; aprende a cumprir ordens simples e comunicar-se através de sentenças curtas; locomovem-se com independência e intencionalmente; pode ser treinado em algumas habilidades manuais simples, tem possibilidade de realizar atividades repetitivas e da rotina diária; pode contribuir de alguma forma, para sua própria manutenção, havendo supervisão regular.

Bibliografia:

- Malomar Lund Edelweiss- Com Freud e a Psicanálise de Volta a Hipnose 1994

- Abrael Leal Souza, Ângela Baptista. Clientela a Representações, Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Mai/Jun 1985, Vol. 34 Nº 3

- Paulo Rennes Marçal Ribeiro, Denise Maria Nepomuceno. – Sexualidade e deficiência mental, Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Mai 1992, Vol. 41 Nº4

- Kaplan e Sadock- Compêndio de Psiquiatria, 1984.

 

  1. Hipnoterapia individual em transtorno fóbico-ansioso

Texto: Dr. Júlio César de Almeida Barros

Dr. Júlio César de Almeida Barros Psiquiatra com 36 anos de experiência clínica e formação em  hipnoterapia individual e de grupo. Criou e inaugurou o Pronto Atendimento Psiquiátrico em 1987, desde então, adquiriu grande conhecimento e prática em emergências psiquiátricas.

 1ª sessão

Primeira crise, no ano de 2000.  Antônia, 34 anos de idade, disse:

- Não enfrento fila, não saio sozinha, sinto muito medo e pânico. Não estou dormindo bem.

Recordou do tratamento comigo, há um ano. Submeteu-se por três meses, à psicoterapia.  Uma sessão por semana, ou seja, foram dozes sessões num total. Interrompeu o tratamento, porque sentiu injustiçada quando o terapeuta cobrou os honorários de uma sessão em que ela não havia comparecido.

 

Antônia continuou:

- Agora, estou passando mal. Sinto taquicardia. Fiz um grande check-up e o cardiologista não achou nada. Estou passando mal, há dois meses, e não te procurei com o medo de você não querer me atender direito, pois, interrompi o tratamento e achei que você ia me tratar mal.

Regressão Dirigida (RD)- a indução transcorreu no modelo do relaxamento corporal, dos pés à cabeça.

Ao final da RD a paciente diz sentir melhor, porém com o corpo pesado.

Comentários: 

Destaco o sintoma fóbico. Típico das personalidades excessivamente ansiosas.

No Código Internacional de Doenças (CID)-10, aponta o F40, transtornos fóbico-ansioso. A justificativa da interrupção do tratamento pelo medo do terapeuta, fundamentada racionalmente pela cobrança dos honorários é a repetição de um comportamento padrão, de natureza cognitiva.  O medo atende a um propósito consciente de não prosseguir, de não ir adiante, da não superação, seu efeito é paralisante.  Tanto que a palavra utilizada por ela- “eu interrompi”. O medo é consciente, mas à que ele se presta é inconsciente. Esta interrupção, a não conclusão, passa a sensação de insegurança, e na vida cotidiana ela terá inúmeros problemas. Do ponto de vista prático do outro lado, há de se perguntar, como o terapeuta poderá garantir um horário em sua agenda, sem receber os honorários?  Nesta mesma hora o terapeuta poderia estar disponibilizando o horário para atender outra pessoa.

2ª sessão

Antônia inicia a sessão falando de suas dúvidas sobre os efeitos dos medicamentos prescritos, fluoxetina e Olcadil:                                                                                  34

- Não tomei a dose certa por causa dos prováveis efeitos colaterais que li na bula. Na bula está escrito que os remédios provocam problemas cardíacos. Também tenho medo do remédio me deixar dependente.

- Há uma diferença entre sedativos, ansiolíticos, hipnóticos e antidepressivos. A fluoxetina é um bom medicamento para a síndrome de pânico. Em determinado momento do tratamento são necessárias doses maiores, e na fase de melhora haverá a diminuição da dose. Como as crises de pânico são recorrentes o recomendado seria que você pudesse utilizar 40  mg de fluoxetina ao dia.

- comecei a passar mal, e não tive coragem de te procurar. Fiquei chateada com você. Vi-te no parque de exposição e me escondi de você. Meu marido reprovou. “você não pode esconder dele, você está passando mal e esta semana você tem que procurá-lo.

Em seguida, sugeri que a paciente se acomodasse na cadeira e fechasse os olhos e induzi o transe. Regressão dirigida (RD):

- Imagine que você esteja neste parque de exposições e você caminha para o parque de diversões.  Imagine que você é uma criança, por volta dos quatro, cinco ou seis anos de idade. Chamaremos esta menina de Toninha, seria mais ou menos assim. Você a Antônia com a Toninha, brincando no carrossel, depois no minhocão, no pula-pula. Depois, caminham um pouco mais, saboreia algodão doce, maçã do amor. Vocês duas estão bem à vontade, com os pés descalços, brincando na areia, na poeira.  Agora... vou deixar vocês a sós. Você e a Toninha, vocês duas.  O parque é de vocês. Daqui a pouco volto a encontrar com vocês... (silêncio). Encontrei com vocês novamente, e você Antônia está toda satisfeita e feliz. Daqui a pouco você vai voltar, e pouco a pouco, respire fundo, três vezes e pode ir abrindo os olhos, trazendo-se de volta no aqui e agora.

- Nossa! Que bom! Fui à roda gigante, mas tenho muito medo da roda gigante.

- Mas eu não te coloquei na roda gigante.

- É! Mas eu fui por minha conta, para ver se eu quebro este medo da roda gigante. Dei muitas voltas, sozinha. Engraçado o meu filho me pergunta por que somente eu           

não andava com ele nos brinquedos. Os outros meninos andavam com as mães deles.  Estou sentindo muito pesada, parece que estou fora de mim.  Parece que cresci. Quando respiro fundo o peso e a sensação desaparece, parece que fico cheia. Respiro fundo e desaparece.

- aceite de bom grado, todas estas sensações, lhe será muito útil e proveitoso. Na próxima semana continuaremos.

 Comentários:

Às vezes é necessário explicar ao paciente sobre os efeitos terapêuticos e os efeitos colaterais dos medicamentos. É natural que os pacientes queiram informar-se sobre o porquê e a finalidade dos remédios. No caso dos psicotrópicos a curiosidade é maior. Há muito preconceito, e informações equivocadas. A polêmica maior é sobre o risco de se tornar dependentes. Aqueles medicamentos que para serem prescritos necessitam de receita azul, são fármacos dependentes.

Outra diferença importante, o que é necessidade e o que é dependência? .  Exemplo, o diabético é dependente da insulina. Então é uma dependência reguladora e estabilizadora, neste caso é uma necessidade. O fumante não dependente do cigarro, mas o prazer de inalar o tabaco lhe provoca graves doenças. É uma escolha, que o torna dependente, mas o cigarro não é necessário, ao contrário é totalmente dispensável.

Porém no caso de Antônia o medo dos remédios se assemelha a todos os outros medos.  O medo do psiquiatra, o medo da roda gigante, o medo de sentir bem. A indução do transe trouxe uma revelação espontânea do inconsciente quando ela disse “fui à roda gigante e fui por minha conta”. Esta é a questão ela assumir que pode dar conta de muitas coisas boas na vida dela. A hipnose permitiu a elaboração do inconsciente sem a necessidade de fazer uso direto da interpretação.

Para a indução do transe o terapeuta utilizou o material que ela trouxe. Foi à paciente que falou de parque de exposições, e o terapeuta trocou por parque de diversão. A técnica de utilização quase sempre é mais palatável com resultados comprovados.

3ª sessão

- Esta semana minhas mãos suaram demais. Quando comecei a sentir mal, lembrei da terapia, e respirei fundo e aí melhorava.  Não consigo tomar os medicamentos. Quando leio a bula da fluoxetina, perco a coragem. Tomei apenas 20 mg, 1 comprimido a noite, não tomei de manhã. Mas estou me sentindo melhor, já consigo controlar a crise, mesmo sem remédio. Será que é porque estou mais consciente da minha doença. Antes eu vivia de médico em médico, e não sabia o que era.  Desta vez que passei mal, lembrei-me das suas explicações, sobre a síndrome do pânico, e identifiquei os sintomas e fui me acalmando e senti melhor. Conseguiu trabalhar normalmente. Antes era aquela sensação constante de morte, pensava na doença o dia inteiro. Agora isto desapareceu. Veja bem! Meu marido foi trabalhar fora, noutra cidade. Só vem no final de semana. No início chamei meu filho para dormir comigo, na minha cama.

Eu estava com insônia e estava transferindo minha ansiedade para os meus filhos. Aí tive coragem de voltar com o meu filho para o quarto dele. Estou conseguindo dormir sozinha. Todos estão mais tranqüilos. O importante é pensar no amanhã.

A paciente vira-se para mim e diz:

- Fale o que você está achando

Respondo, que tal irmos para a segunda parte.

Regressão Dirigida (RD)- Respire profundamente, profundamente... para dentro...para dentro de si. Permita-se ir mais fundo... deixando  a mente inconsciente bem a vontade. Vou lhe pedir uma coisa, muito simples, se possível, gostaria que você concentrasse toda a sua atenção nas duas mãos,... a mão direita ...e a mão esquerda. Utilize sua imaginação... a mão direita irá representar a saúde e a mão esquerda representará a doença. Imaginando que na mão esquerda estão dois meses de mal estar, taquicardia, tremedeira, medos, insegurança, os exames médicos, pensamentos de morte. Do outro lado, a mão direita está à saúde, o bem estar, a segurança, as suas conquistas... conseguiu trabalhar, conseguiu dormir sozinha, conseguiu passar tranqüilidade para os seus filhos.

Agora,... gostaria que você virasse a mão esquerda e fosse fechando a mão e ao mesmo tempo fosse juntando tudo que seu inconsciente pudesse lembrar de desagradável. E depois de juntá-lo fosse atirando para bem longe, bem longe,... longe de você e sua mão esquerda vai ficando mais leve, macia, agradável. Do outro lado está à mão direita, agora, da saúde e do bem estar, forte, toda poderosa,... única, ela foi capaz de vencer a mão esquerda, ...e você movimenta a mão direita em direção a mão esquerda, por cima da mão esquerda, sobrepondo a mão esquerda, juntas.  Neste momento as duas mãos se tornam saúde e bem estar. Agora devagarzinho, você pode ir se mexendo. Devagarzinho pode ir abrindo os olhos. A paciente abre os olhos e ao mesmo tempo esfrega as mãos uma na outra.

Em seguida, fala espontaneamente:                                    

- Hoje nós fomos fundos. Hoje não senti o peso. Você não fala nada. Só me observando. Agora, o que é mais interessante. A gente é capaz de muita coisa. A minha mente é forte. Ela domina o físico. Foram trinta e três anos de minha vida assim. Hoje eu percebo. Percebo quando eu ia crescendo, meus medos iam crescendo junto comigo. Ás vezes deixou de ir à faculdade, deixei de ir passear e ir aos bailes. Uma vez estava na janela do colégio, vinha o medo de atirar da janela, aí vinha à taquicardia.

Se alguém falava em suicídio, alguém se atirou do edifício, eu não passava perto do edifício. Se alguém foi atropelado na rua, eu não atravessava a rua. Uma vez eu estava apontando um lápis com uma gilete e a gilete quebrou e eu não consegui achar a outra metade. Eu achei que tinha engolido a gilete. São trinta e três anos de vida sofrendo!

Comentários:

Pacientes com queixas psicossomáticas dificultam a abordagem psicodinâmica. Expõe detalhadamente os sintomas e se o psiquiatra permitir e não intervir a consulta transcorrerá assim: “minhas mãos suam, eu passei mal, sensação de morte e os remédios”. Não haverá nenhuma elaboração dos conflitos e os sintomas perduraram e a tendência será o aumento da medicação.

Pinçar ou pescar algo do não dito e daquilo que é dito no meio desta avalanche de sintomas é uma tarefa árdua para o terapeuta. Neste caso da terceira sessão é digno de nota- “conseguiu trabalhar normalmente, o marido viajou, colocou o filho para dormir com ela e depois ela retirou a criança da cama e conseguiu dormir sozinha, todos estão mais tranqüilos e o importante é pensar no amanhã”

A viajem do marido abrem algumas possibilidades para a investigação psicoterápica. A melhora da paciente se deve exatamente pela viajem do marido, que a desonera das obrigações íntimas e sexuais. Visto que a neurose fóbica, o medo do contato é significante.  Por outro lado nos rituais fóbicos, ela conduz o filho para cama, para sentir-se segura. Como o filho não a ameaça ela sente segura. No entanto o consciente desperta o senso crítico e ela retorna com a criança para outro quarto.

Aos poucos a paciente foi-se acalmando e numa perspectiva projetiva, ela se acalmou e com isto ela disse todos estão tranqüilos, mas quem está tranqüila é ela, isto é fundamental para o equilíbrio da família. E ao final é revelador o fechamento da sessão o importante é pensar no amanhã. Para uma paciente fóbica com pessimismo exacerbado, onde imagina que tudo vai dar errado, quando ela afirma que o importante é pensar no amanhã, há um controle na ansiedade e uma janela do otimismo se abre em seu modo de pensar.

 

  1. Aplicação da hipnose no tratamento do alcoolismo

Texto: Dr. Júlio César de Almeida Barros

Dr. Júlio César de Almeida Barros Psiquiatra com 36 anos de experiência clínica e formação em  hipnoterapia individual e de grupo. Criou e inaugurou o Pronto Atendimento Psiquiátrico em 1987, desde então, adquiriu grande conhecimento e prática em emergências psiquiátricas.

Apresentação desse trabalho baseia na experiência de atendimentos a alcoólatras e familiares numa unidade de emergência psiquiátrica denominada Pronto Atendimento Psiquiátrico.

O início do tratamento acontece quando o paciente chega ao Pronto Atendimento Psiquiátrico. O paciente não procura por conta própria o serviço de emergência. O paciente é trazido por alguém. Não faz a primeira consulta espontaneamente. Sua consulta é devida a algum tipo de pressão. As pressões tornam a consulta obrigatória.

As pressões que provocam a consulta podem ser de causas diferentes:

- dos próprios sintomas (tremores, alucinações, delírios, dores gástricas, anorexia, insônia);

- as pressões de familiares e/ou seus representantes (mãe, esposa, marido, filhos, irmãos e amigos);

- pressões das empresas onde trabalham (através da medicina do trabalho, serviço social, chefes e encarregados), dos serviços assistenciais da sociedade (hospitais, entidades e associações),

- pressões dos serviços responsáveis pela manutenção da ordem (polícia, ministério público, conselho tutelar).

Então não há um pedido consciente de ajuda por parte do paciente. O psiquiatra não pode perder de vista este detalhe. A negação da doença é algo sabido, óbvio para quem trabalha com o alcoolismo. Não há controvérsia quanto a isto. Porém são inúmeras técnicas psicoterápicas utilizadas objetivando diminuir ou eliminar esta resistência. A hipnose é uma delas e com índices elevados de êxitos.

A hipnose na sua aplicabilidade prática é uma excelente técnica para trabalhar a negação da doença. Também vai depender do quadro psicopatológico da emergência alcoólica. Por isto vou enumerar algumas variáveis:

1) Abstinência

2) Síndrome delirante alucinatória

3) Agitação psicomotora com quebradeiras e tentativa de agressão a familiares

4) Agitação psicomotora com intensa ansiedade, logorreia e hostilidade verbal.

5) Agitação psicomotora com piromania

6) Agitação psicomotora com tentativa de suicídio

7) Paranóia

8) Depressão, sem tentativa de suicídio.

9) Depressão, com tentativa de suicídio.

10) Distúrbios clínicos: anorexia, desidratação, hipertensão, acidente vascular cerebral, diabete.

11) Problemas escolares, com distúrbios de comportamento.

12) Distúrbios do sono

13) Amnésia sem agitação psicomotora

14) Amnésia com agitação psicomotora

15) Crise convulsiva por intoxicação

16) Embriaguez comum com distúrbio de comportamento

17) Distúrbio do controle sexual (exibicionismo, perversão, estupro, incesto).

Na quase totalidade dos casos a melhor conduta é a internação. O paciente é internado. São previstos dez dias de permanência.

Esta fase denomina de desintoxicação. Nos primeiros três dias ou 72 horas da desintoxicação alcoólica há um dado merecedor de destaque. O paciente tenta de todas as formas sair da clínica. Argumenta que não pode ficar internado porque tem muitos afazeres: "tenho que ir ao banco...", tenho que pagar algumas contas... "“, a minha mãe está doente, não posso ficar aqui, tenho que cuidar dela... "“, O meu filho vai fazer aniversário..."“, Estou com uma viajem marcada, não posso deixar de ir..."“.Não posso ficar internado, vou perder meu emprego...", Não posso faltar ao trabalho...".

A equipe de profissionais (Psiquiatra, Psicóloga, Enfermeiras, Secretária, Cozinheira e Faxineira) e os familiares argumentam que o importante é o paciente cuidar da saúde, recuperar-se, depois terá todo tempo do mundo para resolver todos os problemas. Às vezes digo diretamente, há tantos dias você estava bebendo muito e não estava resolvendo problema algum. Primeiro você vai desintoxicar e por isto é necessária sua permanência, é necessário à internação, e estes dez dias que estará aqui conosco, será muito bom, e então recuperado, desintoxicado, sem beber, e no dia da alta estará em plenas condições de saúde e em condições de resolver todos os problemas pendentes, e seguir com sua vida.

Entretanto, este diálogo, estes esclarecimentos, esta conversa amigável ou ríspida, quase sempre não é ouvida pelo paciente. O paciente é irredutível, nada parece convencer o paciente da necessidade de permanecer internado.

Nesse momento estabelece o confronto. O psiquiatra coloca o procedimento terapêutico claro e irredutível, frustrando o paciente, internar. O paciente por outro lado está determinado a não permanecer internado. Para o alcoólatra ser frustrado é o fim. O limiar de frustração dele é baixíssimo, para não dizer inexistente.

Assim, os dois lados estão preparados para a guerra. O psiquiatra com suas duas armas poderosas, sedação e contenção do paciente. O paciente preparado para fugir, "fugir da clínica". Quem sairá vencedor.

Eis a questão, emocionante. Se for um hospital psiquiátrico tradicional, corredores, celas, grades, camisa de força, muros altos, atendentes fortes, sistema de segurança antifugas. Um verdadeiro presídio sofisticado com os possantes sedativos. É moleza para o psiquiatra.

De outra forma, se for um Pronto Atendimento Psiquiátrico, numa casa confortável, portas e portões abertos, sem sistema de segurança, muros baixos, jardins, somente atendentes mulheres. Neste caso a parada é dura para o psiquiatra, eu aposto no paciente. A fuga é quase certa.

Então vamos para este cenário onde o psiquiatra está em desvantagem. Discordando, do termo "fugir da clínica". O paciente não está preso. A clínica não é presídio e nem cadeia. O paciente não está cumprindo pena e o psiquiatra não é policial, nem delegado e nem juiz de direito. A clínica é um centro de recuperação, com proposta de tratamento para alcoólatra. Na primeira etapa do tratamento está previsto dez dias de internação para desintoxicação.

Então este é o meu primeiro objetivo. Esclarecer ao paciente e seus familiares que não existe "fuga na clínica". Existe o paciente numa fase compulsiva do álcool, completamente dependente, o corpo necessita ardentemente. Aguardente, o corpo solicita.                                                                                                                           41  

O paciente está com os níveis de consciência comprometidos, o cérebro organicamente confuso, salvo algumas exceções, os pacientes não estão dotados de juízo crítico e por isso precisam ser internados compulsoriamente. Claríssimo está o ato de tentar sair da clínica é uma atitude inconsciente e automática, para poder beber.

Por mais explicações dadas aos familiares sobre o porquê da “fuga”, os familiares perguntam: “Doutor Aqui tem perigo de ele fugir?” E completam com o alerta: “olha, ele fugiu de outras clínicas!”

Resultado, tudo na estaca zero. O mesmo confronto fugir ou não fugir, eis a questão. Assim começava o tratamento, até que aconteceu o seguinte episódio:

Era um final de semana, maio de 1997. Viajei para uma cidade próxima de Conselheiro Lafaiete. Na clínica estava internado um paciente alcoólatra, era o segundo dia de internação. Eu dormia numa casa de um amigo. Eram duas horas da madrugada, quando o telefone tocou e o amigo me acorda.

- É da clínica, a enfermeira de plantão quer falar com você

No telefone a enfermeira dizia:

- Dr. Júlio, a situação está complicada, o paciente fugiu e os familiares estão aqui na clínica, revoltados. Eles procuraram pelo senhor e informei que o senhor estava viajando. Os familiares estão dizendo que o senhor será responsabilizado por tudo que acontecer com o paciente, estão contrariados, o paciente não podia ter fugido.

- Por favor, quero falar com alguém da família, chame ao telefone.

O irmão do paciente, veio ao telefone e descarregou o falatório.

- O senhor é um irresponsável, o senhor nem aqui está, se meu irmão for atropelado, ou desaparecer, o senhor será responsabilizado criminalmente, o senhor será considerado culpado.

O psiquiatra, explica outra vez.

- seu irmão não fugiu, ele provavelmente saiu deliberadamente, ele ainda está numa fase do alcoolismo que o impele a buscar a bebida, provavelmente, ele está em algum bar aí perto da clínica, e pela minha experiência, amanhã ou ele voltará para a clínica ou ele se dirigirá para a casa dele.

O irmão parecia não escutar ou não queria entender

- voltar para a clínica? Jamais, nunca mais, isto aqui não tem segurança, não tem vigia. E desligou o telefone

Meu amigo estava por perto, escutou e entendeu tudo. Ele aconselhou

- você deveria fazer um quarto forte, com grade, aí eu quero ver se eles vão fugir.

Enquanto ele falava, eu escutava e ao mesmo tempo dois pensamentos me vinham à mente.

- é acho que será a única alternativa, um quarto forte. Mas, isto não faz sentido, como posso ser responsável por uma pessoa adulta que deliberadamente sai de um lugar onde está tentando ajudá-lo. Ele sai para embriagar-se, um comportamento habitual em sua vida.

A questão da responsabilidade provocou outro raciocínio, então cabe a família continuar assumindo este papel. Está resolvida, toda vez que internar algum alcoólatra ao menos no período crítico da compulsão alcoólica, alguém da família permanecerá como acompanhante. Afinal de contas não é isso que os familiares fazem o tempo todo. Assumem as responsabilidades de seus bêbados. Por que o psiquiatra assumir este lugar?

No âmago, o desejo dos familiares é transferir a responsabilidade para o psiquiatra. Porém a responsabilidade não é do psiquiatra, a responsabilidade em primeiro lugar é do próprio paciente, em segundo lugar dos familiares. A responsabilidade do psiquiatra é propor o tratamento e quando aceito executar o tratamento.

A maneira como os familiares entendem a questão da responsabilidade é patológico, Então aplico um aprendizado da hipnose, na qual se chama utilização. Utilizarei a família. Raciocinei, daqui para frente toda internação de alcoólatra, durante as primeiras 72 horas, será exigido à permanência de algum acompanhante indicado pela família. Em suma, alguém da família.

Este foi um grande achado, nunca mais houve fuga e por tabela estou aprendendo mais profundamente sobre as relações familiares e seus alcoólatras. Obviamente, além do aprendizado, faço intervenções psicoterápicas, de grande valia na recuperação destes pacientes. Estas internações conjuntas dos alcoólatras e acompanhantes (familiares) foi uma revolução nos meus conceitos.

Analise:

  • Nos hospitais psiquiátricos tradicionais, o paciente é hospitalizado junto aos demais pacientes com psicopatologia de toda natureza e lá permanecem nas chamadas enfermarias. São proibidas as visitas. Inclusive, argumentam que as visitas prejudicam o tratamento. Em tese, as visitas pioram o estado dos pacientes. Até onde tenho conhecimento esta tem sido a regra. O paciente é separado dos familiares, supondo que esta conduta irá beneficiá-lo e contribuirá para cura, ou seja, deixar a dependência alcoólica.
  • Alternativa, mais atual, são os chamados centros de recuperação para alcoólatras, também denominadas clínicas fazendas. Nestes centros, o paciente é internado voluntariamente, geralmente não são atendidos por psiquiatras e a terapêutica é focada em alguma doutrina. Na maioria, doutrina religiosa, mantenedora do centro de recuperação. Optam por terapias de auto-ajuda, reforço do ego, tarefas domésticas, trabalhos agrícolas. Também apregoam que o melhor para o paciente é estar distante dos familiares e as visitas devem ser mínimas. São internações de longa permanência.

Voltando a técnica de utilização e internação com acompanhantes, uma revolução nos meus conceitos. A utilização do sintoma é coisa antiga, tanto na medicina como na psicanálise.  Na medicina, a observação e catalogação dos sintomas desenham a patologia e a partir daí faz o diagnóstico. Batiza a doença com um nome mais compatível ao conjunto de sintomas apresentados pelo paciente. Exemplos: esquizofrenia, depressão, síndrome de pânico. No sentido freudiano o raciocínio é o mesmo, acresce a visão de que as maiorias dos sintomas são de natureza inconsciente e abre uma vastidão da leitura patológica do inconsciente.

Na psiquiatria biológica, o objetivo é eliminar o sintoma com o uso de algum remédio (antidepressivos, ansiolíticos, controladores do impulso de beber). Tudo isso é medicina. O psiquiatra com a fórmula certa para curar o paciente. Enquanto para a psicanálise, o objetivo é eliminar o sintoma por intermédio da associação livre e interpretação, o manejo da transferência e contratransferência e diminuir a resistência.  É acessar o inconsciente para tornar consciente a causa dos sintomas, isto é, a racionalização e o paciente conseguiriam o alívio dos seus desconfortos e males. Faço sempre um bom uso destas duas abordagens, médica e psicanalítica. São indispensáveis.

No entanto, descobri nos meus estudos de hipnose com o Professor Malomar, uma “terceira via”, totalmente diferente dessas duas anteriores. A principal diferença é deixar de lado a investigação patológica e doentia do ser, e buscar o saudável.

Enxergar, explorar, estimular o saudável do ser na sua unidade psicossomática. Assim como numa caixa de ferramentas onde posso encontrar alicates, martelos, serrotes, chaves de fenda, pregos, parafusos e brocas. Foi na hipnose que encontrei as ferramentas:

  • Relaxamento corporal – “para todo o tônus muscular e uma resposta psíquica e vice-versa”
  • Visualização – “o pensar por imagens... é mais próximo dos processos inconscientes do que pensar por palavras”.
  • Regressão dirigida – “o presente sem passado é vazio, o presente sem o futuro é cego”.
  • Dissociação consciente e inconsciente – “o coração tem razões que a razão desconhece”
  • Positivação – “de onde quer que venha, para onde quer que vá... caminhante não há caminho... o caminho se faz ao caminhar”.
  • Pedagogização – “ver ou não ver?... Quatro olhos enxergam mais do que dois... a pior cegueira é a voluntária”.
  • Analogia e metáforas – “assim começa o pão cotidiano que nutre a vida que sempre floresce”.
  • Anedotas – o sujeito procura um guru e dialogaram:

- Vim aqui para que o Sr. Fizesse uma grande revelação para a minha vida.

- vá lá para fora e fique na chuva, com as mãos esticadas para o céu, a chuva é uma água abençoada, assim você terá sua grande revelação.

Duas horas depois o sujeito volta ao guru que perguntou:

- E então o que aconteceu?

- Duas horas na chuva, estou todo molhado, ensopado, e não aconteceu nada. Estou me sentindo um verdadeiro idiota

- Não te disse que você ia ter uma grande revelação

Todas estas ferramentas são utilizadas para beneficiar a recuperação do alcoólatra. As ferramentas são excelentes desde que o psiquiatra esteja disposto abrir mão delas em prol de alternativa que seja mais adequada ao paciente que está sendo atendido, ou seja, resguardar a singularidade do caso.

Com esta percepção, enxerguei e utilizei a simbiose, dita negativa, do alcoólatra e seus familiares. Transformei esta simbiose numa formidável terapêutica durante as 72 horas de desintoxicação alcoólica.

Internação para 10 dias – primeiras 72 horas

Como era

1)      sem acompanhante

2)      apesar de ter tomado sedativos, continuava agitado. Quebrando as coisas da Clínica e tentava fugir

3)      O paciente recusava a fazer a higiene corporal e recusava alimentar. Não havia nenhum gesto de carinho e afeição com os familiares

4)      Os familiares telefonam toda hora, sempre, transmitindo sentimento de pena “oh! Coitado, ele vai ficar revoltado”. As enfermeiras eram pressionadas e por isto tornavam ansiosas. De um lado a família ambígua em deixá-lo internado e do outro lado o paciente não aceitando os limites, regras e normas da clínica. Todos pressionando o psiquiatra. As enfermeiras pediam a sedação do paciente e a família mal havia acabado de internar o paciente, queria a alta.

Agora

1)      Acompanhante presente

2)      Sedativo faz efeito. Paciente não faz nenhuma quebradeira e não tenta fugir

3)      O paciente faz toda a higiene e alimenta regularmente. Por intermédio do acompanhante, cuida do vestuário e há gestos de carinho e afeição, abraços, aperto de mãos, beijos.

4)      Quase não há telefonemas. Quando acontece o acompanhante transmite todas as informações. As pressões ao psiquiatra e a equipe de enfermagem desaparecem, o ambiente interno da clínica é calmo. A aliança terapêutica com os familiares é fortalecida e não há necessidade de intervir com sedativos adicionais. Mais rapidamente o paciente compreende a necessidade de manter-se internado e desintoxicar-se e livrar-se da dependência do álcool.

11. Aplicação de medicação depot

Texto: Dr.Júlio César Almeida Barros

Dr. Júlio César de Almeida Barros Psiquiatra com 36 anos de experiência clínica e formação em  hipnoterapia individual e de grupo. Criou e inaugurou o Pronto Atendimento Psiquiátrico em 1987, desde então, adquiriu grande conhecimento e prática em emergências psiquiátricas.

A medicação depot geralmente é aplicada intramuscular. Exemplo: Flufenan depot, Haldol decanoato, Clopixol depot. Totalmente diferente da medicação oral. A medicação oral é ingerida diariamente, enquanto a medicação depot é administrada por injeção via muscular, podendo ser semanal, quinzenal ou mensal. Na maioria das vezes é mensal.

Muitos pacientes psiquiátricos se recusam a tomar a medicação oral, principalmente quando estão bem. Quando param de tomar a medicação advém uma crise. Agitação psicomotora e surto psicótico são os sintomas mais comuns. A aplicação quinzenal ou mensal da medicação depot é uma modalidade de tratamento eficaz como prevenção dos surtos psicóticos e evita agitação psicomotora em retardos mentais.

Exemplo: Paciente do sexo masculino, 40 anos de idade, solteiro.

Sofre de transtornos globais de desenvolvimento. Retardo cognitivo, fala com dificuldade, deambula de forma robotizada. Uma vida reclusa em domicílio. Praticamente sem vida social. Bem cuidado pelos pais. Em tratamento psiquiátrico há mais de 15 anos. A queixa principal era a agitação psicomotora. Tendência a quebrar objetos domésticos, bater com a cabeça na parede, e às vezes tentar agredir os pais.

Tratamento prossegue em nível ambulatorial. Consulta mensal regular.

Medicação oral:

-Neuleptil 10 mg, 2 comp. pela manhã e 2 comp. a noite = 40 mg/dia,

-Neozine 100 mg, 1 comp. pela manhã e 1 comp. a noite = 200 mg/dia,

-Akineton 2 mg, 1 comp. pela manhã.

Medicação injetável. 1 ampola de Flufenan depot de 30/30 dias.

Com esta prescrição o paciente há anos está bem. Em harmonia com os pais, e uma vida domiciliar estável. Calmo e tranqüilo.

Chamo atenção pelo fato do medicamento depot ser aplicado no dia da consulta. A enfermeira adentra no consultório do psiquiatra e na presença do pai ou da mãe do paciente, a injeção é aplicada. É um excelente modo de manter adesão ao tratamento. A medicação pode ser aplicada em casa. As farmácias disponibilizam e vendem esta medicação.                                                                                                                      47 

A aplicação no Pronto Atendimento Psiquiátrico, dentro do consultório do psiquiatra é um diferencial interessante. Transmite segurança ao paciente, que colabora e aumenta a adesão ao tratamento. Neste caso o consultório não está situado num edifício, numa sala convencional. O consultório do psiquiatra é um anexo de uma grande casa, próximo a um lindo jardim, e a enfermeira que aplica a medicação depot é uma profissional treinada e capacitada para tal procedimento. Somado todas as pequenas ações, a presença dos familiares, o modo do psiquiatra intervir,  a enfermeira, o local, mais a medicação depot, compõe o todo que potencializa e otimiza o efeito da medicação com um resultado terapêutico altamente eficaz.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                                                                       48 

 

Fator estressor e a psicose

Texto: Júlio César de Almeida Barros

 

Um paciente evoluindo bem. Estável, sem nenhum motivo aparente, repentinamente, altera o comportamento. Não sendo alcoólatra, vai ao bar e bebe, anda de um lado para outro, telefona para todas as pessoas que conhece, sem censura, fala tudo que lhe vem à mente, sai de casa cedo e anda de pijama pela rua.

 

O psiquiatra ao examiná-lo constata uma recaída de uma crise psicótica.    Ajusta a dose dos medicamentos, aumentando-os. Solicita que o paciente compareça na próxima semana, para uma avaliação. O paciente comparece e novamente está estável, muito bem.

 

O psiquiatra pergunta ao paciente se ele seria capaz de identificar o motivo da crise na semana anterior.

- Não, não houve nenhum motivo, para eu ficar daquele jeito.

- Posso tentar de ajudar a entender algo. Mesmo que você esteja bem, pode ter ocorrido algum fato novo na sua rotina, nada grave, apenas algo que possa ter mexido com sua sensibilidade, em se tratando de você, com um histórico de inúmeras crises, isto lhe tornou uma pessoa muito vulnerável, sensível.

- Ah!, agora estou entendendo, lembro-me que tomei conhecimento da morte de um homem importante na minha cidade.  Não cheguei a tempo de ir ao velório.

- Também quero lhe lembrar que houve uma festa grande na cidade e você era uma das pessoas responsáveis pela festa. Você teria encontros com diversos amigos de outrora.

- Sim isto é verdade, eu também estava preocupado com um sobrinho, usuário de drogas, queria ajudá-lo, viajei até a capital e tive que procurá-lo numa favela.

- Também foi à semana das eleições e você planejava votar na terra natal, onde você vivencia fortes emoções.

- Com certeza, e ainda por cima um grande amigo meu era candidato e eu queria muito a vitória dele.

O psiquiatra então resume.

- Isto que eu estava tentando lhe mostrar foram muitos acontecimentos, o que nós psiquiatras chamamos de fatores estressores, tudo isso em apenas um mês. Morte, festa, eleições, preocupações familiares.

O paciente fala:

- engraçado esta vida, veja, este mês nada disto está acontecendo até agora. Tudo transcorre dentro da minha rotina. Agora consigo perceber o porquê da crise no mês passado e porque este mês estou bem.                                                                                49

 

 

 

 

 

A psicoterapia e a linguagem hipnótica

Texto: Dr. Júlio César de Almeida Barros

 

É sábado, sessão de hipnoterapia de grupo. A terapia de grupo é dividida em duas partes. Na primeira hora participam somente os pacientes e na segunda hora estimulo a participação de familiares e acompanhantes. Os familiares podem fornecer informações sobre o estado dos pacientes, e também como sentem diante da doença de seus pais, irmãos, maridos, esposas e filhos

 

O psiquiatra pergunta para a mãe, como está sua filha.

- Atualmente ela está bem, os remédios ajudaram bastante. Mas ela já deu muito trabalho porque sempre frequentou APAE

- Rita ainda frequenta APAE?

- Sim, só que agora ela é professora de computador das crianças especiais.

- Parabéns.

- Ela aprendeu tudo na APAE, mas infelizmente nossa renda é pouca e ela não tem computador em casa.

- Isto nos faz pensar, sobre aquelas pessoas que se aborrecem porque tem mais de dois computadores e brigam porque não tem o modelo novo.

- Ela não recebe nada para dar estas aulas.

- É certamente,... Rita não recebe nada financeiramente... é realmente ! Rita deveria ser muito bem paga... alguém que se habilite a ser professora para alunos especiais, crianças deficientes, ser professora de APAE,  estes profissionais deveriam ser muito bem pagos, ...quem de nós teríamos paciência para ensinar crianças especiais a aprenderem a lidar com os computadores.. por  outro lado se a APAE, não está lhe pagando em dinheiro, Rita recebeu mais do que isto, primeiro Rita  foi aluna da APAE e com o cuidados que a APAE proporcionou ela se desenvolveu e progrediu mentalmente, ainda que continue  apresentando algumas limitações foi possível para Rita se transformar numa professora de computador. Desta forma Rita adquiriu conhecimento, equilíbrio, saúde e bem estar. Este é o nosso maior patrimônio, saúde e bem estar. Quem sabe, no futuro Rita poderá se transformar numa professora de computador de forma efetiva e quem sabe isto poderá lhe trazer bons rendimentos, um salário digno.

- É verdade diz a mãe

- Rita complementa - sinto muito bem, adoro ensinar.

 

No final do grupo, outro paciente que também estava presente no grupo e neste instante, no consultório do psiquiatra. Disse:

- Doutor tem lá em casa tem um computador que não uso, posso doar para Rita.

- Ótimo, faça isto, combine com a mãe dela e faça a doação.

 

50

 

 

A mãe e a paciente entram em seguida para receber orientações dos medicamentos.

 

- Doutor! Estamos muito felizes acabamos de ganhar um computador.

- Ela merece muito bom, ótima notícia.

 

A forma como o terapeuta comunica é um importante instrumento para a psicoterapia. O terapeuta pode fazer uso de palavras que são melhores assimiladas por parte do paciente. No texto acima a expressão é certamente, é realmente, funciona como atenuante a afirmação que vem a seguir Rita não recebe nada financeiramente, trata-se de uma frase óbvia até porque foi dita de forma literal pela mãe de Rita. Quando se dirige a alguém que está num processo psicoterapêutico falando daquilo que ela já tem certeza o terapeuta terá mais chance de ser ouvido naquilo que ele deseja sugerir. E o terapeuta continua numa sequência de afirmações óbvias Rita deveria ser muito bem paga... Alguém que se habilite a ser professora para alunos especiais, crianças deficientes, ser professora de APAE, estes profissionais deveriam ser muito bem pagos,... quem de nós teríamos paciência para ensinar crianças especiais a aprenderem a lidar com os computadores..em seguida o terapeuta muda o discurso e finalmente transmite o que deseja por  outro lado se a APAE, não está lhe pagando em dinheiro, Rita recebeu mais do que isto, primeiro Rita  foi aluna da APAE e com o cuidados que a APAE proporcionou ela se desenvolveu e progrediu mentalmente, ainda que continue  apresentando algumas limitações foi possível para Rita se transformar numa professora de computador. Desta forma Rita adquiriu conhecimento, equilíbrio, saúde e bem estar. Este é o nosso maior patrimônio, saúde e bem estar. Quem sabe, no futuro Rita poderá se transformar numa professora de computador de forma efetiva e quem sabe isto poderá lhe trazer bons rendimentos, um salário digno... e mesmo nesta comunicação o terapeuta utilizou palavras que funcionam como amortecedores e são mais palatáveis aos nossos ouvidos... ainda que, algumas, foi possível, quem sabe, poderá.                                                                                                  

                 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 51                                                                                                       

 

 

 Atestados Psiquiátricos e perícias

Texto: Dr. Júlio César de Almeida Barros

 

 

São inúmeras as situações na qual o psiquiatra é solicitado a emiti laudos, relatórios e atestados sobre a saúde ou a doença do paciente. Nos pré-operatórios de cirurgia de obesidade mórbida, nos encaminhamentos para as clínicas de dependência química, para empresas nos exames admissionais, demissionais e afastamento do trabalho, bem como nas perícias previdenciárias, de seguradoras e judiciais.

 

Quando um paciente obeso decide procurar um cirurgião para avaliar a possibilidade de se submeter à cirurgia bariátrica é porque está muito gordo e isto está lhe trazendo inúmeros problemas clínicos e estéticos. A cirurgia do estômago, que popularmente é chamada de redução de estômago, tem o propósito de provocar o emagrecimento e melhorar as condições de saúde orgânica do paciente e este se sentir mais bonito, em harmonia com o próprio corpo. Do ponto de vista emocional a lógica é que a cirurgia aumentará a auto-estima proporcionando satisfação pessoal. Ao marcar a consulta com o cirurgião o paciente fez uma escolha consciente, com total discernimento, de forma voluntária e autônoma, demonstrando estar em plenas condições de sanidade mental para tal decisão. Repetindo, a cirurgia em tese impactará de forma positiva no psiquismo. Pautado neste raciocínio entendo ser desnecessário a avaliação psiquiátrica. E ainda que alguém possa argumentar se caso, o paciente se arrepender, e ele não ficar satisfeito com o procedimento ou se ele surtar por causa da cirurgia, coisas desse gênero. Para se alcançar um objetivo há uma expectativa de ser bem sucedido, se algo der errado, está na cota do risco, assim é a vida e assim é a natureza. Pressupõe que o indivíduo seja adulto e capaz de assumir este risco, e pelo número de casos de cirurgias de obesidade mórbida bem sucedida será um risco de menor monta.

 

Os indivíduos viciados em drogas, mormente maconha, crack e cocaína são encaminhados para as chamadas comunidades terapêuticas. Estas comunidades não disponibilizam psiquiatras para avaliarem os pacientes. Como pré-requisito para aceitar os dependentes químicos elas exigem um encaminhamento e avaliação psiquiátrica. Caso o usuário de drogas for portador de alguma outra doença mental tipo psicose, paranóia, delírios, agitação psicomotora as comunidades terapêuticas recusam a internação. A condição para que o dependente químico seja internado é a ausência de comorbidades psiquiátricas. Outra condição é que a internação seja voluntária, isto é de comum acordo de familiares e dependentes. Nada obrigatório e forçado. Não há internação compulsória.

 

Os atestados profissionais, admissional, demissional e de afastamento do trabalho são os de maior número. O psiquiatra é solicitado a avaliar o estado de saúde mental do trabalhador. A cobrança e a pressão para alcançar metas são os fatores estressores mais reclamados pelos funcionários, motivando a licença médica. Concorrem como fonte de estresse o ambiente e os precários relacionamentos interpessoais nas empresas

52

 

 

 

As perícias previdenciárias é um caso a parte, mereceria um tratado para descrever esta complexa relação entre o médico assistente, o perito, o instituto de previdência social e o paciente. Verifica-se de tudo. Existem pacientes manipuladores e teatrais.  De outro lado existem peritos incompetentes e ignorantes.  Existem aqueles pacientes verdadeiramente doentes mentais que são reprovados e não conseguem o benefício e injustamente são penalizados. Uma grande maioria apela para os tribunais de justiça e o médico assistente é chamado a emitir um novo laudo. Muitos pacientes não desejam a melhora, permanecendo doente garantem o benefício e buscam a qualquer custo a aposentadoria. Estes pacientes lotam os consultórios dos psiquiatras. A contradição se estabelece, porque o a tarefa do psiquiatra é ajudá-lo restabelecer a saúde mental, mas o paciente não deseja melhorar, pois caso ele alcance a cura automaticamente deixa de receber o benéfico de auxílio doença. Portanto ele permanece doente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

53

.

 

 

Perícia, simulação e ganhos secundários

Texto: Dr. Júlio César de Almeida Barros

 

Eram aproximadamente dez horas da manhã, término da terapia de grupo com a presença de quinze pacientes. O terapeuta sai da sala de grupo e se dirige para a outra sala onde iniciará o atendimento individual mais focado na prescrição ou não de medicamentos.

 

No caminho de uma sala para outra é interceptado por uma das pacientes que diz.

- estou sentindo muito mal, parece que vou desmaiar.

 

O marido com olhos arregalados e de espanto e preocupado fala reforçando.

- ela está sentindo muito mal, será que são os medicamentos que ela está tomando. Será que minha esposa poderia ser atendida agora.

O terapeuta informa

- tenho por hábito atender os pacientes por ordem de chegada

O marido argumenta

- ela está com uma perícia marcada para onze horas no INSS, temo não chegar a tempo

 

O psiquiatra atende o apelo do marido e atende a paciente. O típico sintoma conversivo, histérico.  O marido insinua um provável efeito colateral dos remédios.

Esta é uma realidade no campo da psiquiatria e na interface com as pericias médicas, especialmente as previdenciárias, do Instituto Nacional de previdência Social.

 

Pois bem, como tratar uma paciente desta. Sem chance.  A intenção da paciente não é o tratamento, muito menos melhorar. Se ela melhorar como “passará na pericia, como ela será aprovada”.  Então a paciente sentirá tudo que for possível: desmaios, tremores, depressão, dor de cabeça, medo, e por aí afora. A paciente imagina e conscientemente atua para demonstrar o máximo possível o mal estar. Estabelece um antagonismo cruel. Se a proposta da medicina é aliviar os sintomas e curar as doenças, neste caso, não haverá este desejo de cura. O desejo e atuação da paciente são para conseguir o benefício que ela julga ser imprenscidível para garantir o sustento financeiro.

                                                                                                                            54

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

52

 

 

Continuanndo

 

 

  1. Prática Psiquiátrica- Remédios, Genéricos e Manipulação

Dr. Júlio César de Almeida Barros

  1. Prática Psiquiátrica-Farmácia só vende certa quantidade de remédios

Dr. Júlio César de Almeida Barros

  1. Prática Psiquiátrica - Psiquiatria e a tecnologia

Dr. Júlio César de Almeida Barros

 

Está no site

1)

Nem sempre o que parece é- Qual é o trauma psíquico?

 

Paciente por volta dos 30 anos do sexo feminino informa que perdeu o pai recentemente. O pai suicidou. Detalhou minuciosamente as últimas atitudes do pai, antes de morrer. Não residia com o pai. A história das últimas horas que antecederam ao suicídio foi relatada pelos familiares que conviviam diariamente com o pai. A paciente residia em outra cidade, distante do pai.

 

Não foi criada pelo pai. Sua educação esteve a cargo dos avôs. Quando criança os pais se separaram. O pai estava num segundo casamento. O tio foi muito importante para ela, mas o tio havia morrido no ano passado. Neste momento a paciente desaba a chorar. Chora compulsivamente a tal ponto que a entrevista precisou ser interrompida. Esperei por alguns minutos e perguntei se gostaria de continuar ou se preferia calar. Ela disse que sentia a falta do tio, e que depois da morte do tio nunca mais foi à mesma, o tio fazia muita falta.

 

Então perguntei qual foi o motivo pela qual ela havia marcado a consulta. Ela respondeu:

- Tive que me ausentar da empresa estes dias, para ir ao velório. Quando retornei para trabalhar a medicina do trabalho entendeu que eu deveria passar por uma avaliação psiquiátrica. Eu estou bem. Quero trabalhar.

 

A análise desse caso nos leva a hipotetizar que a medicina do trabalho tomou conhecimento do suicídio do pai. Tão logo ela retornou do velório e se apresentou na empresa, a medicina do trabalho, inferiu que ela estaria abalada emocionalmente pela forma traumática com o pai faleceu. O suicídio é sempre muito impactante, ninguém, consegue serem indiferentes a tal acontecimento, principalmente numa empresa onde existe uma medicina do trabalho competente e atenta as condições emocionais de seus funcionários. O raciocínio mais lógico é de que a paciente não estaria em plenas condições psíquicas para enfrentar a rotina de trabalho.  Provavelmente foi assim que a medicina do trabalhou deduziu, e razão pela qual encaminhou ao psiquiatra e não permitiu que a funcionária assumisse de pronto o seu posto.

 

Para o psiquiatra também o relato de suicídio do pai de uma paciente não é menos importante, representa trauma com perturbação global das emoções. Entretanto neste caso o julgamento antecipado por parte da medicina do trabalho do impacto do suicídio como fator desestabilizador no desempenho das atividades laborativas da paciente em questão não se comprovou. Ela estava tranquila e ao menos por ora não sentia o efeito perturbador pelo suicídio do pai. E de forma surpreendente mobilizou lembranças de tristeza e saudade do tio, que verdadeiramente ocupou a função paterna.

 

A consulta psiquiátrica foi concluída com a seguinte conduta terapêutica.

  • Prescrito ansiolítico.
  • Laudo- avaliação psiquiátrica - encaminhado à medicina do trabalho com seguintes dizeres: Passando por experiência emocional traumática. Apesar do trauma está relativamente bem. Sofrendo um nível de angústia que exige acompanhamento e supervisão psiquiátrica. Prescrevi ansiolítico com poucos efeitos colaterais. O trabalho neste momento é terapêutico. Marquei para próxima segunda para prosseguir com a psicoterapia de apoio. Apto para o exercício profissional.

 

2

Práticas Psiquiátricas - Atestado psiquiátrico, considerações

Texto: Dr. Júlio César de Almeida Barros

 

(site Ok!)

São inúmeras as situações na qual o psiquiatra é solicitado a emiti laudos, relatórios e atestados sobre a saúde ou a doença do paciente. Nos pré operatórios de cirurgia de obesidade mórbida, nos encaminhamentos para as clínicas de dependência química, para empresas nos exames admissionais,   demissionais e afastamento do trabalho, bem como nas perícias previdenciárias, de seguradoras e judiciais.

 

Quando um paciente obeso decide procurar um cirurgião para avaliar a possibilidade de se submeter à cirurgia bariátrica é porque está muito gordo e isto está lhe trazendo inúmeros problemas clínicos e estéticos. A cirurgia do estômago, que popularmente é chamada de redução de estômago, tem o propósito de provocar o emagrecimento e melhorar as condições de saúde orgânica do paciente e este se sentir mais bonito, em harmonia com o próprio corpo. Do ponto de vista emocional a lógica é que a cirurgia aumentará a auto-estima proporcionando satisfação pessoal. Ao marcar a consulta com o cirurgião o paciente fez uma escolha consciente, com total discernimento, de forma voluntária e autônoma, demonstrando estar em plenas condições de sanidade mental para tal decisão. Repetindo, a cirurgia em tese impactará de forma positiva no psiquismo. Pautado neste raciocínio entendo ser desnecessário a avaliação psiquiátrica. E ainda que alguém possa argumentar se caso, o paciente se arrepender, e ele não ficar satisfeito com o procedimento ou se ele surtar por causa da cirurgia, coisas desse gênero. Para se alcançar um objetivo há uma expectativa de ser bem sucedido, se algo der errado, está na cota do risco, assim é a vida e assim é a natureza. Pressupõe que o indivíduo seja adulto e capaz de assumir este risco, e pelo número de casos de cirurgias de obesidade mórbida bem sucedida será um risco de menor monta.

 

Os indivíduos viciados em drogas, mormente maconha, crack e cocaína são encaminhados para as chamadas comunidades terapêuticas. Estas comunidades não disponibilizam psiquiatras para avaliarem os pacientes. Como pré-requisito para aceitar os dependentes químicos elas exigem um encaminhamento e avaliação psiquiátrica. Caso o usuário de drogas for portador de alguma outra doença mental tipo psicose, paranóia, delírios, agitação psicomotora as comunidades terapêuticas recusam a internação. A condição para que o dependente químico seja internado é a ausência de comorbidades psiquiátricas. Outra condição é que a internação seja voluntária, isto é de comum acordo de familiares e dependentes. Nada obrigatório e forçado. Não há internação compulsória.

 

Os atestados profissionais, admissional, demissional e de afastamento do trabalho são os de maior número. O psiquiatra é solicitado a avaliar o estado de saúde mental do trabalhador. A cobrança e a pressão para alcançar metas são os fatores estressores mais reclamados pelos funcionários, motivando a licença médica. Concorrem como fonte de estresse o ambiente e os precários relacionamentos interpessoais nas empresas.

 

As perícias previdenciárias é um caso a parte, mereceria um tratado para descrever esta complexa relação entre o médico assistente, o perito, o instituto de previdência social e o paciente. Verifica-se de tudo. Existem pacientes manipuladores e teatrais.  De outro lado existem peritos incompetentes e ignorantes.  Existem aqueles pacientes verdadeiramente doentes mentais que são reprovados e não conseguem o benefício e injustamente são penalizados. Uma grande maioria apela para os tribunais de justiça e o médico assistente é chamado a emitir um novo laudo. Muitos pacientes não desejam a melhora, permanecendo doente garantem o benefício e buscam a qualquer custo a aposentadoria. Estes pacientes lotam os consultórios dos psiquiatras. A contradição se estabelece, porque o a tarefa do psiquiatra é ajudá-lo restabelecer a saúde mental, mas o paciente não deseja melhorar, pois caso ele alcance a cura automaticamente deixa de receber o benéfico de auxílio doença. Portanto ele permanece doente.

.

3

 

Indução da Hipnose -1

Prof. Malomar Lund Edelweiss

 

(site Ok!)

 

 

Há maneiras sem conta de induzir a hipnose. Exponho, a seguir, uma das modalidades entre as muitas que existem: através do relaxamento, expediente dos mais comuns, que amolda a variações de formas e medidas consoantes com as preferências do operador e em vista do sujeito real. É das menos ameaçadoras por ser não autoritária. Não tem, ao mínimo, ares verdadeiros ou falsos de pretender subjugar: propõe, apenas. Note-se, inclusive, que o relaxar puro e simples, sem qualquer outro acréscimo, tem sido aplicado para obter efeitos psicoterapêuticos, com resultados benéficos dignos de crédito. A presente exposição aduz, em seus fundamentos, linhas que, mesmo contendo algumas particulariedades, constituem certo padrão disposto a refinar-se, obrigatória e logicamente, pelas adaptações próprias à situação concreta, caso a caso. O objetivo, dentro do meu propósito específico, é induzir o estado de transe com finalidade terapêutica. Na qualidade ancilar de elemento coadjuvante, ele se faz partícipe de boa e preciosa liga com as técnicas válidas existentes, nos tratamentos psicológicos.

Nada obsta, porém, que a indução se faça tão só para estudar o fenômeno em si mesmo, sem outras sugestões secundárias e indevidas, de qualquer natureza.

 

Da maneira mais simples, convido o sujeito a sentar-se diante de mim com o máximo conforto possível.A cadeira pode ter braços ou não. Se houver espaldar alto, ele permitirá reclinar a cabeça para trás, naturalmente. Como substituto desse, a cadeira poderá encostar-se a uma parede. Será, então, fácil, descansar nesta a cabeça, se o cliente o desejar, pois, em algumas pessoas, esta posição provoca repuxamento da parte frontal do pescoço. Pode convir se coloque uma almofada entre a cabeça e a parede ou o espaldar da cadeira, para maior comodidade.

 

Não raro, alguns se sentem muito bem mantendo a cabeça ereta, a equilibrar-se, espontânea, solta, sem apoio nenhum. Os pés devem permanecer um pouco afastados, um ao lado do outro, naturalmente sobre o chão, evitando se equilibrem nos artelhos, ou seja, na ponta do calçado, ou de qualquer modo que produza retesamento dos músculos das pernas.

Muitos, à primeira entrevista, mesmo dizendo-se confortavelmente sentados, têm o hábito de colocar as pernas de tal modo para trás, que os pés têm de apoiar-se na ponta, não ficando, pois, como é o normal, toda a planta dos pés assentada no chão. Sempre que isto acontece, peço que por um momento, não se mexam, mas olhem os pés e observem como estes estão mal acomodados, retesando as panturrilhas (popularmente denominadas batatas ou barriga das pernas). Muito freqüentemente a resposta é: “Assim, você está gastando energia inutilmente. Mudar a posição das pernas ou dos pés, de quando em quando, é normal e ajuda descansar. Mas, desta forma, você está praticando algo semelhante a sair de casa, deixando todas as luzes acesas, sem necessidade, e aparelhos elétricos funcionando no vazio...”

As pernas também, não devem ficar cruzadas. Se o cliente for de estatura baixa um banquinho, ou sucedâneo, remedeia o incômodo de as mesmas ficarem pendentes, com os pés no ar. É comum ver pessoas se sentarem numa posição defeituosa e, por hábito arraigado, nem darem a menor atenção ao fato.

As mãos podem alojar-se, com facilidade, sobre as coxas, mesmo numa cadeira provida de braços, sobre os quais os cotovelos se descansam, caso a altura e o volume do corpo o permita. A palma das mãos, normalmente, toca a parte frontal das coxas. (1). Quem está exercitado nas posições de relaxamento da ioga pode preferir deixar as mãos bem descontraídas, com o dorso sobre as coxas ou sobre o assento da cadeira e a palma voltada para cima.Os obesos, pelo abdome crescido, são comuns se acomodem com os braços e mãos pendentes ao lado do corpo ou os descansem sobre os braços da cadeira.

Nada impede que o sujeito se deite num divã, necessário em alguns casos de deficiência física que impossibilite a posição sentada. Em geral, prefiro a cadeira, pela razão de permitir observar melhor, frente a frente, a postura, os gestos, os movimentos corporais e a expressão fisionômica do hipnotizando. È da maior relevância acompanhar, atentamente, tudo o que está ocorrendo, desde os pés até o rosto de quem está sendo hipnotizado.

Antes de qualquer outra coisa, pergunto (o que também vale por uma recomendação):

- “Você está, de fato, bem instalado aí no seu lugar, bem à vontade, com todo o conforto, ao seu modo? Este é que importa, e não o meu, ou seja, de quem for...” (Ou: “O seu modo é o seu, não o meu!”).

A linguagem do terapeuta será a própria dele, adaptada às condições do cliente, a começar pelas culturais. A naturalidade do operador, sincera, é um dos elementos que contribuem para facilitar a indução. O sujeito poderá responder que está muito bem na posição em que se encontra. Ou pode reacomodar-se melhor. Ou, ainda, poderá o terapeuta, em verificando que haja algo forçado ou tenso na posição do outro, sugerir, por exemplo, que altere tal ou qual coisa no modo como está sentado, seja a posição do corpo na cadeira, a dos pés no chão, etc. Em certos casos, o sujeito só consegue, de início, estar em posição algo rígida, inatural. Em maior ou menor tempo, com toda probabilidade, o processo acabará por atenuar e corrigir o defeito.

 

O cliente, ainda plenamente alerta, ouve então, de mim, em tonalidade clara, branda, pausada, que vai, cada vez mais, assumindo esse diapasão:

- “Daqui a pouco, vou pedir-lhe para fechar os olhos... e nós dois, juntos, vamos respirar profundamente, três vezes... sentindo o ar entrar friozinho pelas narinas... o que é natural pela temperatura mais baixa do ambiente... e, depois sair morninho, porque se aqueceu nos pulmões... Após essas três vezes... peço que continue de olhos fechados por uns instantes... a respirar normalmente... E uma observação: para respirarmos juntos, de olhos fechados você não mais vai me ver respirar... Mas acho que vai ouvir!"

Respiro a seguir, profundamente, com algum ruído proposital, e interrogo:

- “Deu para ouvir?...” A resposta que recebo é, invariavelmente, afirmativa. – “Então, continuo, “pode fechar os olhos!...”

Faço, devagar, a respiração anunciada, acompanhando o ritmo respiratório do cliente, inspirando e expirando sincronicamente com ele, isto é, começando e terminando, o mais aproximadamente possível, no tempo em que ele o faz. Completadas as três vezes, posso dizer:

- Muito bem...! (Ótimo!) Agora, peço continue, por alguns instantes, de olhos fechados, a respirar normalmente... ...E vou pedir-lhe mais uma coisa: sinta os pés no chão... e deixe-os à vontade...largando-se...como por vontade própria...Para isto, não precisa fazer força nenhuma...nem mesmo  ‘fazer força para não fazer força’... Sentindo os pés, obrigatoriamente você sente os sapatos (tênis, sandálias, etc. – ou, de modo geral, ‘o calçado’, principalmente quando houver dificuldade de definir melhor) que envolvem e protegem os pés... e, se forem de número certo e forma adequada, cumprem essa missão esplendidamente...Sinta a sola ou planta dos pés ...debaixo delas, sinta a palmilha interna que as toca...-E mesmo através do solado dos sapatos...debaixo deles...sinta o chão firme sobre o qual os pés se assentam e se apóiam...”

Quando há tapete, é possível intermediar: “... debaixo do solado e através dele, aqui, provavelmente..., você consegue captar, alguma coisa do macio do tapete (felpudo)... e, mais além... abaixo dele... o chão firme sobre o qual os pés se assentam e se apóiam...”

- "Sinta os tornozelos...dos tornozelos aos joelhos, sinta as pernas propriamente ditas...canelas, panturrilhas (ou batatas, ou barrigas das pernas)...e deixe as panturrilhas, como os pés...à vontade...relaxando...largando-se...como, também, não tem a menor

obrigação de conseguir coisa nenhuma..."

 

 

É bom momento, a esta altura, o operador, respirar profundamente, como ao início.Serve para verificar a reação do hipnotizado. Este pode de imediato, também respirar profundamente. está, pois, já num bom vínculo para com o hipnotizador, num 'rapport' mais intenso. (Poderíamos dizer, em linguagem psicanalítica e em senso amplo, em relação transferencial positiva.) Em não se dando isto, poder-se á fomentar esse processo dizendo,

por hipótese: “Você poderá acompanhar-me quando eu respirar fundo...respirando junto...

como poderá, também, fazê-lo por conta própria quando quiser...a qualquer momento”. Há indivíduos que embora hipnotizados, pelo menos de começo, não acompanharão o ato de respirar. Não será nada mau, pouco adiante, se repita a proposta. Entretanto, existem os que muito dificilmente aderem à solicitação de acompanhar o terapeuta nessa respiração, mesmo após algumas sessões. Isto não impede, entretanto, o resultado positivo do transe.

 

- “sinta os joelhos... eles estão flectidos (dobrados), necessariamente pela sua posição Sentada... nem haveria outro jeito de eles poderem estar...-Dos joelhos aos quadris...sinta e

Deixe relaxarem as coxas... elas fazem certa pressão sobre o assento da cadeira...tanto que na parte posterior delas (“mais para perto dos joelhos”, se for o caso)... você percebe onde começa o assento da cadeira...Na parte anterior das coxas...você sente o peso e o calorzinho das mãos... e, nas mãos, que também relaxam...você sente o calorzinho das coxas...e, mais para a ponta dos dedos, onde a sensibilidade táctil é maior...você capta algo da própria textura da fazenda (ou ‘tecido’) da roupa...” (podendo citar, explicitamente, o tipo da peça de vestuário: calça, short,saia, macacão, etc).  Evidentemente, isto depende do modo como a pessoa se apresenta. Esta verbalização, supõe que as mãos estejam descansando sobre as coxas, tocando a saia,calças ou que for. Serão diferentes as palavras se a ponta dos dedos tocarem a pele do corpo ou as mãos estendidas sobre os braços da cadeira.

- "Sinta e deixe à vontade os quadris...Assim como as coxas, eles também fazem pressão sobre o assento da cadeira...pelo motivo natural de que o tronco... verticalmente...no espaldar da cadeira...Assim, bem apoiado, pelas costas e pelos quadris...o tronco pode relaxar ‘numa boa’...costas...quadris...nádegas...baixo ventre...genitais...abdome ...se apóia pelos quadris...no assento da cadeira...e o tronco, pelas costas, se apóia nas costas,(barriga)...peito ...à vontade...”

- “Dos ombros aos cotovelos... relaxam os braços propriamente ditos... dos cotovelos até as mãos... relaxam os ante-braços...” (se tocarem os braços da cadeira, será isto lembrado: “que ... apóiam nos braços da cadeira...e você sente... no ponto de contacto... a superfície lisa...e o friozinho agradável...dos braços da cadeira...mesmo através das mangas” – se isto deveras ocorrer). Retrata-se, assim , verbalmente, a situação de fato, o que é muito importante, porque, dentro de si mesmo, sem dar-se conta, o cliente está como que confirmando que tudo é real porque, de fato, o é.

- “O pescoço pode relaxar todos os músculos...desde o peito e os ombros...até o queixo e a nuca...porque a cabeça está bem apoiada...” ou: “porque a cabeça se equilibra perfeitamente...” – se não houver almofada, nem a cabeça se apoiar contra a parede.

- “O rosto... pode relaxar... músculos do queixo... bochechas... mandíbulas... Os músculos das órbitas dos olhos, ao relaxarem... dão certa sensação de repouso, descanso... e as pálpebras podem até parecer... agradavelmente... um pouco mais pesadas... A testa relaxa... desde as sobrancelhas... até onde começa o couro cabeludo...” (ou: “até onde começa, anatomicamente, o couro cabeludo...” se, porventura, o cliente tiver cabelos escassos). Adaptam-se os termos à realidade do paciente, que poderá ser portador de qualquer outra peculiaridade.

- “O couro cabeludo, igualmente, relaxa... a parte superior, o cimo da cabeça (ou cocoruto)... a parte posterior, que desce até a nuca... e as laterais... direita... esquerda...”- E assim, você está... dos pés à cabeça...relaxando...sossegado...tranqüilo...ao seu modo...no seu ritmo...e na sua medida...nem mais, nem menos...(pode-se, convenientemente, dar  certa  ênfase ao tom de voz, principalmente neste final.

Permita-se, sentir-se assim, por alguns momentos... enquanto eu não lhe pedir outra coisa...”

O sujeito está, constantemente, sendo observado com atenção, de modo a que se percebam as modificações que se operam na postura do corpo, no rosto, nos gestos eventuais produzidos. Habitualmente, o tronco e os membros assumem posição mais descontraída, bem visível. Os traços fisionômicos se apresentam mais distendidos, etc. A seguir, depois de alguns instantes, mais breves ou longos, conforme o que for observado prossigo:

- “Enquanto fui falando aqui... suas pulsações e batimentos cardíacos foram se tornando... pouco a pouco... algo mais lentos... ou, em linguagem mais exata, foram se tornando, saudavelmente... mais compassados... Pelo afrouxamento muscular geral... a circulação se faz mais desimpedida... desde o coração... até todas as extremidades do corpo... e todos os órgãos internos... levando, até lá... nutrição... saúde... bem-estar... E a própria respiração está mais livre... mais solta... (se for conveniente, pode acrescentar-se: “Por mais uns momentos permita-se sentir-se dessa forma...”). E pela sua mente... podem passar mil e uma coisas... imagens... pensamentos... fantasias... sensações... lembranças... seja o que for... Ou pouca coisa... ou, mesmo, nada... como que você, por instantes... desligue completamente... e minha voz pareça distante... ou até suma... em alguns momentos... por completo... (o terapeuta pode baixar o tom da voz para tornar mais real a afirmativa)... Nada disto impede que você esteja aí... como que mais á vontade com você mesmo... sem ter obrigação de haver conseguido coisa nenhuma... e, portanto... sem ser cobrado... do que quer que seja... por ninguém... nem por você mesmo...”

 

Decorrido certo lapso de tempo, em geral, alguns segundos a mais do que os intervalos entre os fragmentos de frases que emprego para a indução:

- “daqui a pouco, vou fazer-lhe uma pergunta... que, por ser muito simples e natural..., você também poderá responder do mesmo modo... com toda a naturalidade... continuando tal como está... a relaxar de olhos fechados... E a pergunta é, apenas, esta: “Como é, (Fulano), que você está se sentindo agora... Pode responder? ... (ou: dá para responder?...).

Suponha-se a resposta: “Bem!”, ou “Muito bem!”, ou “Relaxado”... “Como anestesiado...” “Flutuando...” “Pesado...” Qualquer coisa deste padrão, pode merecer o reforço: “Ótimo...! curta (saboreie), simplesmente, seu bem-estar... ele é todo seu... sem nenhum artificialismo...! Eu não posso lhe passar coisa nenhuma... Posso, apenas, tentar ajudar-se... somente... tudo o mais é inteiramente seu...”

Se a resposta recebida foi dúbia ou de tal natureza que o terapeuta não entenda bem o que sucede ou o que foi dito, inclusive porque haja incerteza quanto à profundidade do transe, ou, mesmo, quanto à existência deste, pode aclarar-se com a pergunta: “E isto faz você sentir-se bem?... À resposta afirmativa, cabe, então a seguir, a aprovação com a fórmula acima: “Ótimo...! etc.”

Surpreendentemente, há de quando em quando, quem não consiga relaxar de modo nenhum e, ao inverso, se declare ansioso, mal contendo os olhos cerrados, invadido de medo ou agitação interior. Claro, então, que o processo deve ser interrompido, pelo menos por esta vez, para que se tomem outras medidas oportunas cabíveis, antes de qualquer nova tentativa.

Passados alguns instantes, desde logo, é de bom aviso, promover o condicionamento que tem por finalidade abreviar as induções futuras, com notável economia de tempo e esforço. É prático o formato seguinte, embora possa haver outros:

- “Daqui a pouco..., vou contar de cinco a zero... E, ao contar de cinco a zero... seus olhos poderão tender a ir-se abrindo... devagarinho... sem pressa... de cinco a zero... e, o que é importante... você conservando todo o bem-estar... ao irem os olhos se abrindo... de cinco a zero... Depois de termos trocado algumas palavras, contarei de um a cinco... e, ao contar de um a cinco..., os olhos poderão ir-se fechando... pacatamente... comodamente... aumentando, ainda um pouquinho mais, o seu bem-estar... ao irem os olhos se fechando... à contagem de um a cinco...! Portanto... (ou resumindo) de cinco a zero... os olhos abrindo... e o bem-estar permanecendo... De um a cinco... os olhos fechando... e o bem-estar podendo aumentar ainda um pouco mais...”

Note-se a respiração insistente e a ênfase nos números. Tem isto, por objetivo, escandir o que é mais importante para facilitar a criação do reflexo condicionado apenso à contagem, e que, automatizando-a, facilitará enormemente as induções ulteriores.  A repetição do mesmo conteúdo, com diferentes palavras, robustece as sugestões.  Atente-se ao modo inteiramente permissivo, longe de tudo quanto pudesse lembrar submissão inexorável a um comando: “Seus olhos poderão tender a ir-se abrindo...”

Inicio esta etapa da contagem de cinco a zero, para os olhos se abrirem com uma respiração profunda, mais ou menos ruidosa o suficiente para ser bem ouvida e acompanhada pelo sujeito, e começo a contar ao ritmo da inspiração do ar: “Cinco... quatro... três... dois... um... zero...” – aumentando o volume da voz à medida que os olhos vão se abrindo e a atenção consciente aumenta. As pálpebras se desceram ao ritmo próprio de cada indivíduo.  Às vezes, já ao ser pronunciado o primeiro ou o segundo número.

Doutras, só depois de algum tempo de ter-se dito o zero.  Termino, invariavelmente, a contagem com uma respiração profunda, depois do número zero, tal como faço quando a inicio, respiro fundo, antes de pronunciar o número cinco. Isto intensifica o condicionamento, pois, em geral, mesmo quem, durante o relaxar progressivo, não acompanha o hipnotizador nas respirações que este faça, não deixa de repeti-la ao começo e ao final de cada contagem, estimulado pelo exemplo dado. Fique bem claro: sempre que se comece ou termine a indução do transe, ela é precedida e seguida de uma respiração profunda. Aos mais renitentes, pode determinar-se de modo claro: “Vamos começar juntos, com uma respiração profunda...”

 

O sujeito, ao os olhos, pode estar plenamente lúcido ou relativamente sonolento. Ser-lhe-á feita a pergunta: “E agora... como é que está se sentindo?...” – A resposta é um dado útil para que se compare o modo de avir-se do hipnotizado durante o transe e depois deste. Muito freqüentemente, o sujeito repete o mesmo conteúdo que expressou pouco antes, ao ter sido feita, pela primeira vez, a interrogação, sobre como está se sentindo.  Poderá, então, a resposta do terapeuta ser: “Muito bem... (Ótimo, bem relaxado, etc). “- ou algo diverso, que sirva de orientação sobre o melhor rumo a tomar, de acordo com o que foi respondido. Não há como não ter em conta o que foi dito. Se houver a confirmação do bem-estar já manifesto anteriormente pelo hipnotizado, nova e serena aprovação do operador vem com justeza:

- “Que bom que você é capaz de permitir-se sentir-se bem... Afinal, é bom sentir-se bem...! De um bem-estar que é todo seu... nada de estranho... ou imposto de fora... somente seu...!

Nas mais das vezes, é oportuno prosseguir de imediato. Com os olhos fitos nos do cliente, de novo ‘respirar fundo’, aproveitando o momento exato em que o sujeito for inspirar o ar. Tendo ele feito isto – e o que se segue é fatalmente, a expiração – inicie-se, logo, a contagem de um a cinco, fazendo o número um coincidir co o momento preciso da primeira expiração, e continuando, desta forma, a contar os demais, um número de cada vez, sincronizados com o ato de esvaziar os pulmões. (Sublinhando, pois: a indução é condicionada pela contagem de um a cinco, feita ao ritmo da expiração; a dês-indução se faz pela contagem de cinco a zero, ao ritmo da inspiração).

Este passo é restabelecer o transe pela contagem de um a cinco, findo o que, pode louvar-se o desempenho do sujeito mediante palavras como estas:

- “Muito bem... você é um (bom) ótimo aluno... Daqui para diante... em qualquer situação legítima como esta... semelhante (igual) a ela... você, comodamente instalado no seu lugar... por própria vontade... cada vez que for contado de um a cinco... como há pouco... seus olhos poderão fechar-se naturalmente... lentamente... e de lá de dentro de você... virá um bem estar... que tomará conta de você... inteiramente... envolvendo-o por completo... dos pés até a cabeça... relaxando o corpo inteiro... enquanto os olhos vão se fechando... E, ao ser contado de cinco a zero... também como há pouco... seus olhos poderão abrir-se... calmamente... sem pressa... conservando você... inteiramente... seu bem-estar... que lhe fará companhia... e irá com você para onde você for...!”

Na verdade, houve até agora duas induções: a primeira, realizada pelo relaxamento, passo a passo. A segunda, agora, depois da contagem de cinco a zero, para abrir os olhos, e a contagem de um a cinco para fechá-la. Esta é a segunda, em relação à primeira, que foi feita, ao início ao propor relaxar. Ao mesmo tempo, esta segunda indução é um primeiro ensaio em que se põe à prova o condicionamento da contagem de um a cinco, mediante o qual o sujeito, no futuro, passará a entrar em transe ao simples contar de um a cinco, nas condições expostas.

Repetir tem efeito cumulativo. De modo geral, vale reiterar as sugestões, para fortalecer a percepção do sujeito que, em estado alterado de consciência como o transe, sempre é mais tardo a registar o que lhe é proposto.

Segue-se esclarecimento muito oportuno, absolutamente veraz e que, por isto mesmo, fortifica o processo em curso:

 

 

“Isto é uma aprendizagem... ou reaprendizagem... porque, certamente, alguma vez... ou mais, até... você já pode ter sentido um bem-estar semelhante a este... E, como toda a aprendizagem... quanto mais repetir... como todas as aprendizagens que você fez até hoje... algumas delas até esquecidas... Por exemplo... quando um dia, pela primeira vez... lá no comecinho da vida... você em-pezinho... pela primeira vez... seguro nas mãos de um adulto... começou a dar os primeiros passinhos... pondo um pezinho na frente do outro... direito... esquerdo... direito... esquerdo... É claro que você nem sabia o que era direito ou esquerdo... isto você aprendeu mais tarde... mas foi movendo as perninhas... devagar... vacilante... e, pouco a pouco..., quanto mais repetia... mais firmes os pezinhos iam se assentando no chão... e assim, pouco a pouco... cada vez mais firme... pouco depois... largou as mãos do adulto... e começou a caminhar sozinho... com segurança... cada vez mais fácil... cada vez melhor... E aprendeu a correr... pular... brincar... jogar... e muitas coisas mais... cada vez mais fácil... quanto mais repetia... cada vez melhor... Ou mais, tarde, nas primeiras letras... Não era tão simples assim... olhar e guardar, visualmente, a forma das letras... ouvir e guardar auditivamente o som das letras... e sua mãozinha... pegando o lápis... e começando a traçar aquelas retas... aquelas curvas... o m com três perninhas e o n com duas... os olhinhos do o... do a... hastes para cima... como o d e o t... como o p e o q... e quanto mais repetia... mais fácil ia se tornando repetir de novo... e melhor iam saindo as letras... E você foi superando coisa por coisa... uma de cada vez... foi juntando letras... formando palavras... e, tempos depois, estava lendo e escrevendo tudo o que queria... cada vez mais fácil... cada vez melhor... E tudo ficou depositado, lá dentro de você... guardado na sua memória profunda... no seu inconsciente... ao seu inteiro dispor... para poder ir buscar lá... e usar quando quisesse... a seu bel-prazer... Como todas as coisas que você aprendeu até hoje... e as muitas mais que ainda vai aprender vida a fora...  Assim, também, isto aqui... agora... fica registrado na memória... no seu inconsciente... à sua inteira disposição... para usar quando quiser... cada vez mais fácil... cada vez melhor... Toda aprendizagem tem altos e baixos... é como uma linha ondulada ascendente... Ás vezes... numa das curvas... está-se mais baixo do que já esteve... mas a linha continua a subir e chega até lá em cima... Ou, ainda... suponhamos uma estrada em linha reta... da praia de Copacabana aos altos de Ouro Preto... seria monótona... desgastante... para o motor, motorista e passageiros... Assim... a estrada tem trechos planos... faz uma curva... sobe um pouco... desce um pouquinho... torna a subir mais ainda... e se chega ao destino com muito mais satisfação e descanso...”

 

Há uma vivência regressiva, mais ou menos profunda, inconteste, na lembrança dos primeiros passinhos e das primeiras letras. Observe-se bem a reação do sujeito e prossiga-se de acordo com ela.

Decorridos alguns momentos (podem ser, até, alguns minutos), conforme o tempo ainda livre, a boa disposição do terapeuta e da do cliente, pode ensair-se mais uma dês-indução seguida de re-indução. Trata-se, na verdade, de confirmar, com estes atos práticos, o que se esclareceu, corretamente, em instrução acima: repetir, ainda mais no começo das aprendizagens, e na justa medida, facilita subseqüentes interações e aprimora o efeito visado.  Se decidir fazer esta nova dês-indução, o operador, de modo singelo, se dirigirá ao sujeito em transe, omitindo qualquer intróito especial. Simplesmente, respira fundo, de modo que o cliente acompanhe o ato. Atento ao ritmo da “inspiração-expiração” proceda à contagem: “Cinco... quatro... três... dois... um... zero...” ao compasso da inspiração do sujeito. E, apenas este termine de abrir os olhos, de imediato, com nova respiração profunda, comece-se a reinduzir o transe com o já habitual: “Um... dois... três... quatro... cinco...” a acompanhar a expiração.

Quer esta indução tenha sido feita ou omitida, acrescento: “Toda caminhada, por maior que seja, começa com um primeiro passo... ao qual pode seguir-se um segundo passo, um terceiro... e assim por diante... Indo na direção certa... se chega onde se deseja... se pode... e vai chegar... se quiser...”

Desta forma, pode haver, ao todo, desde o começo, três induções.  A primeira é levada a efeito através do relaxamento inicial, passo a passo. A segunda – quando, (tendo eu, anteriormente, declarado ao cliente, já em transe pelo relaxamento que vou contar de cinco a zero e os olhos poderão abrir-se e isto tendo, de fato, ocorrido, após perguntar como se sente e os comentários que forem oportunos para o fato), conto de um a cinco (o que, também, já fora dito) e o cliente reentra em transe hipnótico, prova de que o condicionamento está ativo. A terceira indução, que me parece ser conveniente sempre que possível, faço-a, em geral, pouco antes do término da entrevista.  É mais um reforço. Facilitará ainda mais induções futuras. Acrescento então, como arremate, com o sujeito ainda em transe, algumas sugestões: “Você levará consigo todo o bem-estar que está sentindo... por todo o final do dia... (ou da noite), para uma boa noite... um bom despertar no dia seguinte... e até uns bons dias sucessivos...”

 

 

Chega-se aqui ao término da primeira sessão hipnótica. Costumo acrescentar, com o sujeito ainda em transe, que conversaremos um pouco, depois de ele abrir os olhos. Explico (ainda durante o transe): “Gosto de fazer uma segunda sessão, antes de propor algo mais definitivo. Esta segunda sessão se repetirá parte a primeira e dará mais um passo avante. Durará, aproximadamente, o mesmo tempo desta. Mas a decisão será sua, por própria vontade, evidentemente. Pensará, com calma, o que achar que mais lhe convém.

O sujeito é, então, desipnotizado pela contagem de cinco a zero e pergunto, mais uma vez, como se sente. Se ele der a impressão de que está sonolento, se custar a abrir os olhos ou quase não se permitir mexer-se na cadeira, costumo propor:

“Se estiver com os olhos um pouco pesados, pode respirar fundo uma ou duas vezes, que passará num instante, embora também passe logo, mesmo sem isto”. “Leve seu bem-estar consigo, para um bom resto do dia, uma boa noite e bons dias seguintes”.

Se for o caso, como é de meu hábito com quem deseja terapia, fica aprazada a sessão seguinte, se o cliente assim o desejar. Friso que ele não tem obrigação nenhuma de aceitar essa segunda sessão e, se se decidir por ela, poderá tanto marcá-la, de imediato quanto telefonar mais tarde, depois de ter refletido sobre o que, realmente deseja. Prefiro acentuar que a segunda sessão, via de regra, não convém seja logo no dia seguinte, nem muito distante desta primeira. Três ou quatro dias, se possível, são bom intervalo. Repito o que já foi dito em transe, que durará, aproximadamente, o mesmo tempo, isto é cerca de hora e meia.

A despedida segue o modo costumeiro.

 

 

 

 

 

 

 

4

 

Práticas Psiquiátricas  (site Ok!)

 

Perícia, simulação e ganhos secundários

Texto: Dr. Júlio César de Almeida Barros

 

Eram aproximadamente dez horas da manhã, término da terapia de grupo com a presença de quinze pacientes. O terapeuta sai da sala de grupo e se dirige para a outra sala onde iniciará o atendimento individual mais focado na prescrição ou não de medicamentos.

 

No caminho de uma sala para outra é interceptado por uma das pacientes que diz

- estou sentindo muito mal, parece que vou desmaiar.

 

 

O marido com olhos arregalados e de espanto e preocupado fala reforçando

- ela está sentindo muito mal, será que são os medicamentos que ela está tomando. Será que minha esposa poderia ser atendida agora.

O terapeuta informa

- tenho por hábito atender os pacientes por ordem de chegada

O marido argumenta

- ela está com uma perícia marcada para onze horas no INSS, temo não chegar a tempo

O psiquiatra atende o apelo do marido e atende a paciente. O típico sintoma conversivo, histérico.  O marido insinua um provável efeito colateral dos remédios.

 

Esta é uma realidade no campo da psiquiatria e na interface com as pericias médicas, especialmente as previdenciárias, do Instituto Nacional de previdência Social.

 

Pois bem, como tratar uma paciente desta. Sem chance.  A intenção da paciente não é o tratamento, muito menos melhorar. Se ela melhorar como “passará na pericia, como ela será aprovada”.  Então a paciente sentirá tudo que for possível: desmaios, tremores, depressão, dor de cabeça, medo, e por aí afora. A paciente imagina e conscientemente atua para demonstrar o máximo possível o mal estar. Estabelece um antagonismo cruel. Se a proposta da medicina é aliviar os sintomas e curar as doenças, neste caso, não haverá este desejo de cura. O desejo e atuação do paciente são para conseguir o benefício que ela julga ser imprenscidível para garantir o sustento financeiro

 

5

 

 

Hipnose

 

Algumas ferramentas da hipnose   (site Ok!)

 

Texto: Dr. Júlio César de Almeida Barros

          

           Enxergar, explorar, estimular o saudável do ser na sua unidade psicossomática. Assim como numa caixa de ferramentas onde posso encontrar alicates, martelos, serrotes, chaves de fenda, pregos, parafusos e brocas. Foi na hipnose que encontrei as ferramentas:

  • Relaxamento corporal – “para cada tônus muscular e uma resposta psíquica e vice-versa”
  • Visualização – “o pensar por imagens... é mais próximo dos processos inconscientes do que pensar por palavras”.
  • Regressão dirigida – “o presente sem passado é vazio, o presente sem o futuro é cego”.
  • Dissociação consciente e inconsciente – “o coração tem razões que a razão desconhece”
  • Positivação – “de onde quer que venha, para onde quer que vá... caminhante não há caminho... o caminho se faz ao caminhar”.
  • Pedagogização – “ver ou não ver?... Quatro olhos enxergam mais do que dois... a pior cegueira é a voluntária”.
  • Analogia e metáforas – “assim começa o pão cotidiano que nutre a vida que sempre floresce”.
  • Anedotas – o sujeito procura um guru e dialogaram:

- Vim aqui para que o Senhor fizesse uma grande revelação para a minha vida.

 - vá lá para fora e fique na chuva, com as mãos esticadas para o céu, a chuva é uma água abençoada, assim você terá sua grande revelação.

 Duas horas depois o sujeito volta ao guru que perguntou:

- E então o que aconteceu?

- Duas horas na chuva, estou todo molhado, ensopado, e não aconteceu nada. Estou me sentindo um verdadeiro idiota

- Não te disse que você ia ter uma grande revelação

6

 

Práticas Psiquiátricas  (site Ok!)

 

 

Deficiência mental e previdência Social

 

Paciente sofre de retardo mental profundo ou transtornos globais do desenvolvimento. Portando é totalmente dependente dos pais para sobreviver. O tempo passa a idade cronológica aumenta, no entanto a idade mental continua regredida. Não há mínimas condições para exercer uma atividade profissional ou conseguir uma renda para o próprio sustento.

 

Como poderá um homem de trinta anos de idade sem nunca ter trabalhado sobreviver?. Não há mínima chance de ganhar dinheiro seja por iniciativa própria ou ser empregado.

É comum os pais tomarem a iniciativa para encontrar algum meio para que a previdência social possa viabilizar algum benefício, auxílio-doença, pensão ou outra modalidade de direito social oferecendo ao filho um recurso mínimo.

 

A previdência social é ambígua quanto aos prováveis direitos deste deficiente mental. É freqüente  recorrer à justiça comum, com ações de curatela e tutela para garantir ao filho deficiente o direito de receber o benefício previdenciário.

 

Os familiares recorrem ao psiquiatra para atestar a invalidez mental e transferir uma pensão dos pais, pós- morte. Não é uma tarefa fácil para os pais conseguirem transferir a aposentaria para o filho deficiente.

 

Segue abaixo alguns exemplos de laudos elaborados pelo psiquiatra;

 

O paciente está com quarenta dois anos de idade, mas a idade cronológica não corresponde à idade mental. Sofre de deficiência mental. Retardo no processo de escolarização e alfabetização formal. Incapaz de aprender as disciplinas ministradas e por isto os estudos foi interrompido. Quanto ao desenvolvimento social manteve em níveis primários no ambiente familiar. É totalmente dependente da família até mesmo para tarefas mais elementares. Não consegue cuidar de si mesmo. Incapaz de gerir bens, incapaz para os atos da vida cível. Uso regular da medicação: Haldol 5 mg, 1 comp. manhã e a noite; Unitidazin 50 mg , 1 comp. a noite; Neozine 100 mg, 1 comp. manhã e a noite.CID (10) = F72.

Paciente com 57 anos de idade. Ao exame psiquiátrico apresenta maneirismo bucal, e quando tento estabelecer um diálogo apenas responde de forma monossilábica- “não”. Portanto a linguagem é primitiva e apenas o necessário para interagir minimamente como alimentar e rotinas domésticas. Não abstrai e não simboliza. Não procura manter relacionamento interpessoal, permanece a maior parte do tempo dentro do quarto, deitado na cama. A deficiência mental manifestou na primeira infância provocando inúmeros transtornos no desenvolvimento emocional. Não conseguiu se alfabetizar. Não sabe ler e não consegue escrever o próprio nome. Não desenvolveu vínculos afetivos amorosos. Pueril e infantilizado, regredido. A idade mental é desproporcional com a idade cronológica. Não foi possível nenhuma profissionalização e é totalmente dependente da irmã, sem a qual não conseguiria sobreviver. Até para os cuidados higiênicos básicos, sem noção e sem discernimento. CID (10) = F84 + F73

 

Paciente com 30 anos de idade. Está sob a responsabilidade da tia materna, desde a adolescência. Os pais são falecidos. Atualmente reside com os tios e os parentes, numa casa com sete pessoas. A paciente por causa da doença mental não desenvolve nenhuma tarefa, a maior parte do tempo no quarto ou vai para rua, num comportamento autista. Esta deficiência mental surgiu na primeira infância provocando inúmeros transtornos no desenvolvimento emocional. A principal dificuldade foi à escolarização e alfabetização. Os bloqueios persistem até os dias de hoje – “não consegue sequer olhar a hora no relógio” Outra deficiência é a socialização. Não desenvolveu vínculos afetivos amorosos, - “nunca namorou”. Pueril e infantilizada, regredida. Histórico de internação psiquiátrica, surto psicótico esquizofrênico.  CID (10) = F20 + F72

 

7

 

 

 

(site Ok!)

 

Perícia, invalidez e dependência 

Texto: Dr.Júlio César de Almeida Barros

 

 

Paciente sofre de retardo mental profundo ou transtornos globais do desenvolvimento. Portando é totalmente dependente dos pais para sobreviver. O tempo passa a idade cronológica aumenta, no entanto a idade mental continua regredida. Não há mínimas condições para exercer uma atividade profissional ou conseguir uma renda para o próprio sustento.

 

Como poderá um homem de trinta anos de idade sem nunca ter trabalhado sobreviver? Não há mínima chance de ganhar dinheiro seja por iniciativa própria ou ser empregado.

É comum os pais tomarem a iniciativa para encontrar algum meio para que a previdência social possa viabilizar algum benefício, auxílio-doença, pensão ou outra modalidade de direito social oferecendo ao filho um recurso mínimo.

 

A previdência social é ambígua quanto aos prováveis direitos deste deficiente mental. É freqüente recorrer à justiça comum, com ações de curatela e tutela para garantir ao filho deficiente o direito de receber o benefício previdenciário.

 

Os familiares recorrem ao psiquiatra para atestar a invalidez mental e transferir uma pensão dos pais, pós- morte. Não é uma tarefa fácil para os pais conseguirem transferir a aposentaria para o filho deficiente.

 

Segue abaixo alguns exemplos de laudos elaborados pelo psiquiatra;

 

O paciente está com quarenta dois anos de idade, mas a idade cronológica não corresponde à idade mental. Sofre de deficiência mental. Retardo no processo de escolarização e alfabetização formal. Incapaz de aprender as disciplinas ministradas e por isto os estudos foi interrompido. Quanto ao desenvolvimento social manteve em níveis primários no ambiente familiar. É totalmente dependente da família até mesmo para tarefas mais elementares. Não consegue cuidar de si mesmo. Incapaz de gerir bens, incapaz para os atos da vida cível. Uso regular da medicação: Haldol 5 mg, 1 comp. manhã e a noite; Unitidazin 50 mg , 1 comp. a noite; Neozine 100 mg, 1 comp. manhã e a noite.CID (10) = F72.

Paciente com 57 anos de idade. Ao exame psiquiátrico apresenta maneirismo bucal, e quando tento estabelecer um diálogo apenas responde de forma monossilábica- “não”. Portanto a linguagem é primitiva e apenas o necessário para interagir minimamente como alimentar e rotinas domésticas. Não abstrai e não simboliza. Não procura manter relacionamento interpessoal, permanece a maior parte do tempo dentro do quarto, deitado na cama. A deficiência mental manifestou na primeira infância provocando inúmeros transtornos no desenvolvimento emocional. Não conseguiu se alfabetizar. Não sabe ler e não consegue escrever o próprio nome. Não desenvolveu vínculos afetivos amorosos. Pueril e infantilizado, regredido. A idade mental é desproporcional com a idade cronológica. Não foi possível nenhuma profissionalização e é totalmente dependente da irmã, sem a qual não conseguiria sobreviver. Até para os cuidados higiênicos básicos, sem noção e sem discernimento. CID (10) = F84 + F73

 

Paciente com 30 anos de idade. Está sob a responsabilidade da tia materna, desde a adolescência. Os pais são falecidos. Atualmente reside com os tios e os parentes, numa casa com sete pessoas. A paciente por causa da doença mental não desenvolve nenhuma tarefa, a maior parte do tempo no quarto ou vai para rua, num comportamento autista. Esta deficiência mental surgiu na primeira infância provocando inúmeros transtornos no desenvolvimento emocional. A principal dificuldade foi à escolarização e alfabetização. Os bloqueios persistem até os dias de hoje – “não consegue sequer olhar a hora no relógio” Outra deficiência é a socialização. Não desenvolveu vínculos afetivos amorosos, - “nunca namorou”. Pueril e infantilizada, regredida. Histórico de internação psiquiátrica, surto psicótico esquizofrênico.  CID (10) = F20 + F72

8

 

Emergência psiquiátrica

 

Psicose e adesão ao tratamento

Texto: Dr. Júlio César de Almeida Barros

 

O paciente no surtou no trabalho. É maquinista do metrô, pára o trem e pede aos passageiros do primeiro vagão para rezar, ele fora enviado para salvar o mundo. Começa a pregar, e impede que o trem prossiga.

 

Trazido ao Pronto Atendimento Psiquiátrico em franco surto psicótico. Delírios e alucinações de conteúdo místico e idéias de grandeza.

 

Foi internado.  Do dia da internação mais todo o tratamento ambulatorial perfaz uns dois anos.

 

Não voltou a trabalhar e está sob o benefício do INSS.  De uns três meses para cá demonstra resistência em comparecer a consulta e pede para vir daqui a seis meses porque está sentindo bem. Infelizmente esta é uma atitude freqüente dos psicóticos, eles tendem a interromper o tratamento.

 

Estes pacientes deveriam manter um controle mensal para o resto da vida, mesmo que estejam bem. É imprenscidível abordagem psicoterápica e o monitoramento da medicação.

 

Se fosse um paciente neurótico não seria necessário recomendar a freqüência mensal. Os neuróticos por conta própria solicitam o retorno e são mais disciplinados. Os psicóticos se opõem e dificultam o máximo comparecer às consultas subseqüentes. Sendo que o neurótico caso se ausente do tratamento o prejuízo a sua saúde mental não seria assim tão desastroso, enquanto o paciente citado acima é quase líquido e certo uma nova recaída. E isto acontecendo será muito danoso a saúde mental do paciente.

 

Vale também registrar que mesmo sabendo de todo sofrimento que o paciente e a família vivenciaram há uma cumplicidade entre o paciente e seus familiares nesta interrupção do tratamento. A família que poderia funcionar como questionadora impulsionando e estimulando o paciente a prosseguir no tratamento, lamentavelmente isto não ocorre. A família tende a ser passiva e omissa.

 

9

 

 

Caso Clínico

 

História de superação

Texto: Dr. Júlio César de Almeida Barros

 

É sábado, sessão de hipnoterapia de grupo. A terapia de grupo é dividdida em duas partes. Na primeira hora  participam somente os pacientes e na segunda hora estimulo a participação de familiares e acompanhantes. Os familiares podem fornecer informações sobre o estado dos pacientes, e também como sentem diante da doença de seus pais, irmãos, maridos, esposas e filhos

 

O psiquiatra pergunta para a mãe, como está sua filha.

- Atualmente ela está bem, os remédios ajudaram bastante. Mas ela já deu muito trabalho porque sempre frequentou APAE

- Ela ainda frequenta APAE?

- Sim, só que agora ela é professora de computador das crianças especiais.

- Parabéns.

- Ela aprendeu tudo na APAE, mas infelizmente nossa renda é pouca e ela não tem computador em casa.

- Isto nos faz pensar. os que aborrecem porque tem mais de dois computadores e brigam porque não tem o modelo novo com o Windows 7

- Ela não recebe nada para dar estas aulas.

- É certamente não recebe nada financeiramente, deveria ser muito bem pago, quem de nós teria paciência para ensinar crianças especiais a aprenderem a lidar com os computadores, por outro lado ela está recebendo conhecimento e equilíbrio, ela está bem e faz isto por amor.

- É verdade diz a mãe

- A paciente complementa - sinto muito bem, adoro ensinar

 

No final do grupo, outro paciente já na sala do psiquiatra. Disse:

- Doutor tem lá em casa um computador que não uso, pode doar para ela.

- Ótimo, faça isto, combine com a mãe dela e faça a doação.

 

A mãe e a paciente entram em seguida para receber orientações dos medicamentos.

- Doutor! Estamos muito felizes acabamos de ganhar um computador.

- Ela merece, ela já doou muito, ela merece receber este presente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

10

 

 

 

Sexualidade, Romantismo e Erotismo   (Site OK!)

Texto: Dr. Júlio César de Almeida Barros

 

Ao nascer à criança recebe as primeiras manifestações de carinho da mãe, os primeiros cuidados básicos do amamentar e da higiene corporal do bebê, implica em atenção, contato físico. Amor. É a premissa indispensável ao desenvolvimento da afetividade.

A presença do pai complementa o triângulo familiar nuclear. É a essência do afeto. E quando se fala de afeto é estar bem próximo da sexualidade.

 

Exemplificando: histórias de dois meninos.

O primeiro menino convive com pai e mãe. Os pais mantêm um bom relacionamento conjugal. O menino presencia o dialogo, o abraço e o beijo entre os pais. Os pais demonstram naturalidade do toque físico ao enxugá-lo após o banho, ao ajudá-lo a vestir o uniforme da escola e ao mimá-lo coçando sua cabecinha na hora de dormir.

 

A história do segundo menino é bem diferente. Os pais mantêm um intenso conflito conjugal. A gritaria da mãe deixa seus olhos arregalados e amedrontados. A ausência do pai deixa-o fragilizado na identificação masculina. Quando seu tio vai beijá-lo o menino esquiva. Ninguém interessa pelo seu desempenho escolar e não há limites quanto a horários de dormir ou ver televisão.

 

A probabilidade futura é que o primeiro menino se transforme num adulto receptivo, fraterno e amoroso. Quanto ao segundo menino

a personalidade tenderá para insegurança, desconfiança, frieza e ambivalência, principalmente quando se aproximar da figura feminina e firmar um relacionamento amoroso com uma mulher.

 

Na puberdade pela influência dos hormônios, o estrógeno na moça e a progesterona no rapaz determinam as diferenças biológicas do ser feminino e do ser masculino.  É o momento da virtuosidade e virilidade do corpo e ao mesmo tempo aumentam os desejos e as fantasias eróticas.

 

As fantasias são os predicados da excitação e dos estímulos genitais. O olhar é responsável pela atração. A atração desperta o instinto da conquista. A confirmação da conquista é o toque, é dar as mãos, é acariciar, é beijar...e... “é ficar”... é... namorar.

 

O namoro é o desenvolvimento da sexualidade na sua forma romântica. O romantismo ainda que possa se fizer presente, mais em outrora, numa perspectiva virginal, imaculada, santa e pura. O amor romântico idealizado: a música que toca é para os dois, falar ao telefone sobre banalidades como se fosse à coisa mais importante do mundo, passar mensagens, e-mail, vestir-se para ele ou ela. Simplesmente sentir. As sem razões do amor ou as cem razões do amor.

 

O inevitável está por vir, o erotismo. A sexualidade deságua no erótico. O erotismo não é pornografia, nem perversão.  O erotismo é o tempero adequado nas mãos de bons cozinheiros. E os cozinheiros são os casais a deliciarem as maravilhas do corpo. É a chegada do prazer com maturidade. Conhecer e sentir o orgasmo que vem de dentro de si mesmo e da relação com o outro.

 

Não houve revolução, mas evolução. É a integração da sexualidade, romantismo e erotismo. Tem que ser muito homem com H maiúsculo e mulher com M maiúsculo para se dar bem na sexualidade, no romantismo e no erotismo. Não é uma missão impossível, mas é necessário muito autoconhecimento.

 

11

 

Psicoterapia de grupo em esposas de alcoólatras

 

Hipnoterapia de grupo em esposas de alcoólatra

Autor: Dr. Júlio César de Almeida barros

 

O índice de alcoolismo é elevadíssimo. Os dados estatísticos apontam para 13% da população urbana que estabelecem algum grau de dependência alcoólica. Para cada pessoa afetada pelo álcool mais outras quatro pessoas são prejudicadas, direta ou indiretamente.  A prevalência entre os sexos é predominantemente, o masculino.

 

Poucos são aqueles alcoolistas que procuram espontaneamente o Pronto Atendimento Psiquiátrico para tratar. Ao contrário o grupo familiar disfuncional e doentio recorre ao serviço de emergência à procura de ajuda. Assim, esposa e filhos, irmãos, mães, pais, sogros, sogras, enfim pessoas que estão próximas, de uma convivência mais íntima com os alcoolistas, frequentemente consultam médicos e/ou psicólogos. Razão pela qual denominei este grupo homogêneo de Grupo de Mulheres de Alcoólatras.

 

As queixas principais das esposas dos alcoolistas, numa primeira entrevista psiquiátrica são chamadas distúrbios psicossomáticos: tonteira, esquecimentos, nervosismo, impaciência, perda de apetite, palpitações, falta de ar, insônia, dor de cabeça, sensação de paralisia dos braços e das pernas, desmaios e visão embaçada. Para estas queixas somáticas a paciente deseja uma medicação que traga o alívio imediato de seus sintomas.

 

Numa das sessões de grupo, quando as queixas somáticas estavam sendo enfatizadas, contei a elas uma anedota:

- Havia um paciente hipocondríaco que não conseguia convencer seus médicos e nem seus familiares de suas doenças. Todos os parentes insistiam que ele tinha mania de doença. Cansado de tanto sofrer foi a uma funerária e pagou bem ao proprietário para fazer uma placa e colocá-lo em seu túmulo no dia da morte dele. Passado muito anos, bem velho, o hipocondríaco, lá foi colocada a placa com os seguintes dizeres... ”agora vocês acreditam”.

 

A primeira consulta resulta em três procedimentos básicos:

(1º) Catarse

(2º) Indução da hipnose

(3º) Prescrição de ansiolítico e/ou antidepressivos.

 

 

 

O grande número de casos, uma clientela conveniada (planos de saúde), nível de escolaridade de primário a primeiro grau incompleto, impossibilitam a psicoterapia individual. Desta factícia conclusão dois são os caminhos a serem percorridos. O primeiro é continuar negando a correlação de causa e efeito entre os conflitos familiares e os sintomas e por intermédio dos medicamentos aliviarem os sintomas mantendo tudo como está. O segundo caminho é tentar interferir na dinâmica familiar.

 

Preferindo o segundo caminho propus a formação de um grupo terapêutico com as mulheres de alcoólatras. Um grupo homogêneo para analisar o contexto e a situação familiar. Esclarecer, questionar e conscientizar de como o comportamento das esposas reforçam e agravam o uso da bebida alcoólica de seus maridos. E o mais importante a hipnoterapia de grupo irá proporcionar uma considerável melhora da auto-estima das pacientes.

O grupo tem reunido mensalmente e a sessão com duração de duas horas e trinta minutos. O grupo é aberto até completar o número máximo de dez pacientes. A sala de terapia possui um quadro negro, uma televisão e um vídeo que de vez em quando são utilizados pelo psiquiatra.

 

Nestes dois anos de terapia de grupo foi possível traçar o perfil da personalidade e do estado emocional da mulher do alcoólatra e o nível de relação que estabelece com o marido. São passivas, fazem de vítimas, chantageiam emocionalmente as pessoas que as cercam, principalmente os filhos. Presa ao conflito de amor e ódio, de desgraça e o nascer de uma esperança, se agarra na fé cristã como tábua de defesa e salvação. Para exemplificar, segue um pequeno relato de uma sessão:

-“Tinha muito problema com a sogra. Era enciumada. Falava contra a gente. Era obrigada a tolerar com paciência. No primeiro ano de casamento ele dormia fora de casa, tinha outras mulheres. Não ligava para mim, até fome eu passava. Ele só bebendo. As gravidezes foram muito difíceis. O terceiro filho nasceu doente e perdi o sexto filho. Eu perdi a vista direita. Mas tudo bem, peguei com Jesus Cristo para não separar”.

 

As relações do casal e familiares complicam num emaranhado de fatos confusos e hostis.

  • Agressividade – O alcoólatra agride fisicamente com socos e pontapés, provocando lesões, hematomas dores por todo o corpo da esposa. São comuns as cenas de quebradeiras em casa, principalmente objetos de uso pessoais e domésticos (eletrodomésticos, cadeiras, mesas, etc.)
  • Dinheiro – Perda total do controle entre ganho e gasto, entre receita e despesas. O casal passa para um estado permanente de devedor, o endividado. O marido a cada dia contribui menos nas despesas da casa e nas despesas com os filhos. Frequentemente as esposas queixam de ter passado fome em determinada fase da vida conjugal. São comuns, as estórias de que um dia já foi bem de vida, bom salário e nada faltava, mas depois tudo foi perdido. A situação financeira da família torna-se complicada e instável. É necessário ajuda de outras pessoas, tais como, pais, sogros, irmãos, tios e amigos. O grupo familiar adapta e acomoda diante desta nova realidade. A mulher demora perceber que precisa sair dessa passividade. Em alguns casos se conscientiza desta realidade e muda de comportamento, assume uma atitude pró-ativa. Se não trabalhava começa a trabalhar e possuir rendimentos próprios. Se já exercia alguma atividade profissional começa empregar melhor os recursos obtidos. Aumenta a disputa de poder advindo do dinheiro. Um esconde do outro quanto ganho e o casal está cada vez mais distante nas aplicações e nos objetivos dos gastos. A mulher assume as responsabilidades da família e ao marido sobra mais dinheiro para beber.
  • Relação Sexual – Totalmente disfuncional. Na mulher predomina a frigidez secundária ao péssimo convívio conjugal e no homem por ação tóxica do álcool a falta de ereção ou a ejaculação precoce ou retardada.
  • Os filhos – São os que mais sofrem. Como dizem suas mães:

- “são muitos revoltados com o pai”

Os filhos são dominados por pensamentos e sentimentos ambivalentes, amor versus ódio, raiva, magoa versus perdão, ajudar ou deixar para lá, vivenciam uma extrema angústia. Os filhos sentem pena da mãe, coitada dela. A relação de amor com o pai está de mal a pior. Dependerá do grau de agressividade do pai. Se nos momentos de abstinência o pai for amoroso e atencioso ainda haverá alguma compensação. Se a embriaguez for diária os filhos desprezarão o pai. Por outro lado diante da indiferença do filho a própria mãe e outros familiares dirão;

- “ele é seu pai, você tem que respeitá-lo, isto não vai acontecer mais, é só quando ele bebe que fica assim, seu pai é gente boa, fora da bebida ele é uma pessoa maravilhosa”

Estes comentários causa certa confusão nas convicções do filho. Sente indeciso e não sabe se acredita na recuperação do pai. Não há o que respeitar, mas muito que temer. Os filhos vivenciam um estado permanente de alerta e às vezes pânico. Muitas vezes se perguntam:

- “O que vai acontecer da próxima vez? Vai bater na mãe? Vai chegar em casa carregado por alguém? Será que a polícia vai prendê-lo?”

A mulher passível e imersa nas próprias fraquezas utiliza o filho como suporte e apoio. E comum as esposas afirmarem:

- “Não separo do meu marido por causa dos meus filhos”.

Esta é uma expressão perversa e maligna. Neste momento a mulher inconscientemente transfere toda responsabilidade e culpa do mau relacionamento conjugal para os filhos. Instantaneamente, como se ela estivesse dizendo, porque fui ter estes filhos, se não os tivesse tidos estaria longe e acabaria o sofrimento dela. Isto é apenas mais uma justificativa, porque mesmos as mulheres que não tiveram filhos e são casadas com maridos alcoólatras dificilmente se separam judicialmente. Judicial, porque na verdade o casal está separado afetivamente há muito tempo.

Ainda sobre os filhos, as mães alimentam esperança de boas novas:

- “Quando eles crescerem eles me ajudará”

Deste desejo, advirá o chamado filho identificado, seja para manifestar as fantasias de grandes realizações ou para transmitir toda uma estrutura recalcada e angustiante.

 

  • Baixa auto-estima do casal- O alcoólatra tem introjetado em sua personalidade um profundo complexo de inferioridade que transmite a toda família. A esposa regride a um estado de extrema dependência nos seus valores de costumes, culturais, morais e ético, se considerando a última em tudo.

O grupo terapêutico busca promover basicamente a consciência da mulher do alcoólatra a um nível elementar de racionalidade, tentando tirá-la da passividade. A proposta é reforçar a auto-estima do casal. O caminho a ser seguido é fazer com que a mulher analise todos os pontos referidos neste breve escrito, compreendendo o processo dela e partir para uma nova atuação dentro do núcleo familiar. Uma atuação que diminuirá os conflitos aliviará a ansiedade e a angústia. Acabando ou diminuindo sensivelmente com os sintomas que motivaram a primeira consulta psiquiátrica.

12

 

 

Caso clínico

Suicídio após a consulta psiquiátrica

Texto: Dr. Júlio César de Almeida barros

 

O paciente há mais de vinte anos em acompanhamento psiquiátrico, controle ambulatorial, regular e mensal. O comparecimento do paciente às consultas sempre com a presença de um familiar. Ou a esposa ou o irmão. O paciente resiste em vir às consultas. Argumenta que é desnecessário porque está bem.

 

O paciente é um homem adulto, mais de 45 anos de idade. Esquizofrênico do tipo paranóico. É comum em pacientes esquizofrênicos não perceber a própria doença, portanto não procuram o psiquiatra por conta própria.

 

Queixa principal: Quando em crise cisma com as pessoas, querem matá-lo.

 

Depois de certa regularidade ao tratamento se ausentou por mais de seis meses. Num belo dia, sem agendamento prévio o paciente aparece acompanhado da esposa. A esposa explica que o marido estava fora de casa e tinha ido morar numa cidade onde existe um Santuário. Morava ao redor deste Santuário, rezava todos os dias e dizia que estava ali para salvar as pessoas e o mundo.

 

O psiquiatra pediu para o paciente falar sobre isto e ele disse:

- fugi para lá porque meus parentes querem me matar.

 

Era um delírio persecutório. O paciente não falava de outra coisa. Era evidente o surto psicótico paranóico.

 

O psiquiatra sugeriu ao paciente a internação e permitiu permissão para aplicar uma injeção para que ele pudesse dormir um pouco e aliviar aquele sofrimento. O paciente consentiu. Foram aplicados 10 mg de haloperidol injetável.

 

O paciente sentou no sofá da sala de observação do hospital. Calmo e tranqüilo. A esposa se retirou para buscar a roupa para que o paciente pudesse usar no período da internação.

O psiquiatra se retirou para atender outros pacientes na expectativa que o haloperidol pudesse provocar o efeito sedativo.

 

Passado cinco minutos, a enfermeira adentrou no consultório apavorado e pedindo socorro, pois o paciente acabara de se jogar na frente de um caminhão que passava na rua em frente ao Hospital. O paciente morreu atropelado. Suicidou.

 

13

 

 

Caso Clínico

Fator estressor e a psicose

Texto: Júlio César de Almeida Barros

 

Um paciente evoluindo bem. Estável, sem nenhum motivo aparente, repentinamente, altera o comportamento. Não sendo alcoólatra, vai ao bar e bebe, anda de um lado para outro, telefona para todas as pessoas que conhece, sem censura, fala tudo que lhe vem à mente, sai de casa cedo e anda de pijama pela rua.

 

O psiquiatra ao examiná-lo constata uma recaída de uma crise psicótica.    Ajusta a dose dos medicamentos, aumentando-os. Solicita que o paciente compareça na próxima semana, para uma avaliação. O paciente comparece e novamente está estável, muito bem.

 

O psiquiatra pergunta ao paciente se ele seria capaz de identificar o motivo da crise na semana anterior.

- Não, não houve nenhum motivo, para eu ficar daquele jeito.

- Posso tentar de ajudar a entender algo. Mesmo que você esteja bem, pode ter ocorrido algum fato novo na sua rotina, nada grave, apenas algo que possa ter mexido com sua sensibilidade, em se tratando de você, com um histórico de inúmeras crises, isto lhe tornou uma pessoa muito vulnerável, sensível.

- Ah!, agora estou entendendo, lembro-me que tomei conhecimento da morte de um homem importante na minha cidade.  Não cheguei a tempo de ir ao velório.

- Também quero lhe lembrar que houve uma festa grande na cidade e você era uma das pessoas responsáveis pela festa. Você teria encontros com diversos amigos de outrora.

- Sim isto é verdade, eu também estava preocupado com um sobrinho, usuário de drogas, queria ajudá-lo, viajei até a capital e tive que procurá-lo numa favela.

- Também foi à semana das eleições e você planejava votar na terra natal, onde você vivencia fortes emoções.

- Com certeza, e ainda por cima um grande amigo meu era candidato e eu queria muito a vitória dele.

O psiquiatra então resume.

- Isto que eu estava tentando lhe mostrar foi muitos acontecimentos, o que nós psiquiatras chamamos de fatores estressores, tudo isso em apenas um mês. Morte, festa, eleições, preocupações familiares.

O paciente fala:

- engraçado esta vida, veja, este mês nada disto está acontecendo até agora. Tudo transcorre dentro da minha rotina. Agora consigo perceber o porquê da crise no mês passado e porque este mês estou bem.

 

14

 

Prática Psiquiátrica

A psicoterapia e a família do terceiro milênio

Texto: Dr. Júlio César de Almeida Barros

 

Se alguém quer resolver um problema é necessário identificá-lo. Na medicina para curar o paciente é indispensável o diagnóstico. Diagnóstico correto tratamento correto, diagnóstico errado tratamento equivocado.

 

Os pacientes psiquiátricos relatam os sintomas. Ansiedade, angústia, desânimo, tristeza, dores no corpo e por aí vai. Apenas uma porcentagem deles se pergunta o que poderia estar lhe fazendo mal. À grande maioria dos pacientes desejam um remédio para aliviar o mal estar.

 

Uma das causas mais freqüente de estresse é o conflito familiar.  O paciente não consegue identificar com clareza o problema familiar. A psicoterapia possibilita esclarecer a disfunção familiar. Neste milênio as variáveis se multiplicaram. A constituição familiar tomou outra configuração. Não se trata de dizer se é melhor ou pior do que no passado. A afirmação comparativa de que no passado era melhor, não condiz com a verdade, no passado seria adequado dizer, o modo de funcionar obedecia outra lógica. A família era menos diversificada. Estatisticamente, numericamente o mais comum era o pai, a mãe e os filhos. Este núcleo familiar também apresentava problemas e conflitos. Não havia muitas variáveis, digamos havia certo padrão. O homem era o trabalhador e provedor. A mulher mãe era do lar. Época e contexto da sociedade patriarcal.

 

Neste milênio como anotar a multiplicidade da constelação familiar, exemplos.

1) Homem casou e separou. Casou novamente com uma mulher solteira. Ele no segundo casamento e ela no primeiro. Ele sem filhos do primeiro casamento e ela viveu um romance e se tornou mãe de um menino. Este menino não mantém relacionamento com o pai biológico, e terá convivência diária com o padrasto.

2) Homem divorciado e a mulher divorciada. Ele separou e teve um casal de filhos com a primeira mulher. Ela separou e teve um casal de filhos com o ex-marido. Os dois se unem. A família inicialmente é composta de quatro filhos. Ao se unirem eles decidem ter mais um filho. Então são cincos filhos num total. São dois pais e duas mães. Um padrasto e uma madrasta. O homem e a mulher que representam o papel de pai e mãe para dois dos filhos e para outros dois filhos são padrasto e madrasta, e sendo para apenas um filho o homem é o pai e a mulher é mãe, não sendo nem padrasto e nem madrasta. Se for confuso para descrever imagine como será viver juntos durante anos. Poderá ser funcional, mas o mais provável é reinar a disfunção. Aqui a psicoterapia tem um papel relevante.

3) Aos vinte anos de idade, o jovem rapaz, Antônio se envolveu sexualmente com uma moça, Áurea. Ela engravidou e nasceu uma menina, Silvia. Continuou o namoro com a mãe de sua filha por mais algum tempo. Terminou o namoro, agora dez anos mais velho, aos trinta anos de idade, homem adulto, conhece uma mulher Sandra da mesma idade mãe de um filho, Ronaldo de um relacionamento com Pedro. Casaram Antônio e Sandra. Silvia, filha de Antônio com Áurea, continuou morando com os pais de Áurea, avôs maternos. Antônio está revoltado porque a filha não lhe chama de pai, prefere chamar o avô materno de pai. Antônio casado com Sandra divide o apartamento com Pedro, filho de Sandra, que passa estar na condição de enteado. Sandra discorda e quer que o filho chame Antônio de pai. O conflito conjugal de Sandra com Antonio acentua e eles se separam.

 

e depois Homem casou pela primeira vez.  Antes teve um romance de onde nasceu uma filha.

 

 

 

 

15

 

Caso Clínico

Expectativa frustrada reação desproporcional

 

Texto: Dr. Júlio César de Almeida Barros

Uma das maiores causas de estresse é a não realização das expectativas. Um jovem, rapaz de 25 anos, de boa saúde física. Sintomas: chorando sem parar, esquecendo as coisas, glicose alta, nervoso, irritado e sem paciência.

Ele queixou:
“é uma confusão na minha cabeça, problema de dinheiro, quero comprar uma moto, quero tirar carteira de motorista, lá no trabalho é muita gente cobrando de mim, quando chego em casa é a mesma coisa, todo mundo reclamando. Começei a passar mal quando fui fazer o exame de motorista e não conseguir realizar o exame, me deu uma tremedeira danada, foi o suficiente para ser reprovado, depois disso não fui mais o mesmo, isto não sai da minha cabeça, acho que não vou conseguir tirar a carteira, não vou conseguir comprar a moto.”

Conduta terapêutica:

  1. Realizada sessão hipnótica. Utilizado o relaxamento corporal e o exercício respiratório como forma de indução ao relaxamento e ao transe hipnótico
    2. Medicamento prescrito: bromazepam 6 mg, duas vezes ao dia
    3. Marcada nova consulta para o dia seguinte, onde participará de uma sessão de hipnoterapia de grupo
    4. Atestado de três dias de licença do trabalho, para aliviar a sobrecarga profissional.

O desejo do jovem era aprovação no exame de motorista e conseguir a habilitação conforme determina a lei. Sentir realizado e satisfeito, feliz, ao atingir o objetivo, a expectativa seria conseguir a carteira de motorista. Entretanto o resultado foi o oposto, reprovação no exame.

Houve uma frustração. Diante do fracasso a mente desencadeou uma reação desproporcional.

Com a globalização e maior acesso aos bens de consumo, mais pessoas adquirem patrimônio material aumentando o padrão de vida. Algumas pessoas conseguem aumentar a renda e melhoram a qualidade de vida. Outras pessoas acumulam dinheiro, poupam, mas, não conseguem transpor e transformar estes ganhos em benefícios e satisfação.

O sujeito se esforça, trabalha, faz hora extra, e finalmente consegue comprar um carro. Antes andava a pé, usava o transporte coletivo, ônibus, para se deslocar em longas distâncias. Imaginava que ao adquirir um veículo facilitaria sua vida. Isto é verdade, se antes andava a pé, e agora está dirigindo o próprio carro é notório e obvio que progrediu financeiramente. Porém ao sair de carro, ir às compras no centro da cidade, se aborrece, se irrita por não conseguir estacionar o carro. Fala mal e acha injusto ter que pagar o estacionamento. Às vezes, furioso volta para casa exaltado.

A utilidade e o status promovido com aquisição do carro, o mesmo objeto que é motivo de felicidade, é também motivo de estresse, não conseguir estacionar, pagar IPVA, ser multado, sofrer no congestionamento e revisão mecânica, são alguns dos fatores estressores e causadores amargos do achaque existencial.

16

O velório e missão

Autor:  Dr. Júlio César de Almeida Barros

 

Sentir e pensar, ou pensar e sentir. Cada situação, fato ou experiência nos leva a reflexão, mas nem todos param para refletir. A reflexão nos conduz a consciência, que pode esclarecer pontos cegos de nossa existência. O esclarecimento é diferente de agir, decidir e fazer. Esclarecer pode apenas nos permitir compreender. Como reagir diante da morte. A morte é quase sinônimo de perda.

 

No velório o encontro dos parentes. Alguns parentes são presentes de uma história do passado. A recordação vive do tempo que não volta que não existe. Está vivo sim na memória Os olhares se entrecruzam, o que estariam pensando e sentindo cada um naquele momento.

Juntos diante daquele corpo, que une gerações diferentes. Seria bom que cada um contasse um pouco da história que está ali naquele corpo estático, mas que é dinâmico nas lembranças.

 

Dois primos conversavam a beira do caixão.

- Como eu ia lhe falando, quando eu estava com dezoito anos de idade ele chegou. Disse para mim que estava sentado na varanda, descansando, daquele vestibular, fora reprovado, não passara em medicina.

- Veja!  Seus primos estiveram comigo e me disseram que você não passou e também me disseram que daqui a três semanas haverá outro vestibular. Aqui está o dinheiro para nova inscrição, sei que você vai passar você é inteligente e gosta de estudar.

- Pois é! ele gostava que todo mundo estudasse, ele tinha prazer em saber que um parente havia se formado,

O rapaz a contragosto seguiu a orientação do tio, foi e conseguiu aprovação.  Estava ali diante do corpo um médico com mais de trinta anos de formado e o tio descansava em paz, pois havia cumprido sua missão.

 

Na vida procuramos a lógica que é pautada na razão. A ciência busca explicar os fenômenos, estabelecer uma correlação de causa e efeito. O que determina certos fatos e acontecimentos.

 

O nosso jovem, Rubens, quando recebeu a notícia que fora reprovado no vestibular, retornou a casa dos pais para no aconchego do lar restaurar-se daquele fracasso, nada mais lógico.

 

O cursinho e a universidade situados na capital. Rubens resolveu ir para estrada pedir carona, pois estava sem dinheiro para pagar o ônibus e viajar para o interior onde nascera e onde moravam os pais. Conseguiu a carona e saltou no trevo. Faltavam ainda mais quinze quilômetros de estrada de chão.

 

Quase no mesmo instante, no mesmo trevo, chegam também de carona dois primos já universitários em férias da faculdade. Um encontro meramente casual, ao acaso.

 

O encontro extremamente agradável. Mataram a saudade e fotografaram aquele momento.  Nenhum dos três previra o encontro, nada agendado antecipadamente, obra do destino. Trocaram confidências, Rubens relata a reprovação no vestibular e os dois ouvem e estimulam Rubens a continuar. Não desista. Seguiram viajem e chegou ao destino na pequena cidade, terra natal. Cada um se dirigiu para suas casas.

 

Rubens saudou os pais, lanchou e descansava sozinho na varanda. Olhava a rua e meditava, qual seria o próximo passo. Repentinamente, o tio lhe surge à frente, dizendo que encontrara com os sobrinhos que lhe narrara o ocorrido, a reprovação no vestibular. O tio acrescentou que sabia do novo vestibular noutra cidade e que Rubens deveria arriscar, pois o fato de não ter sido aprovado na capital não impediria que fosse aprovado numa segunda tentativa, noutra cidade. Nada mais fora da lógica.

 

Rubens não planejara isto. Ele queria apenas descansar, curtir as férias. O tio foi incisivo. Para não contrariar o tio e nem prestar-lhe uma desfeita topou a empreitada.

 

Nem acabara de chegar, trocou de roupa e se colocou na estrada novamente de volta à capital para inscrever no vestibular que se realizaria dentro de quinze dias. Dois meses se passaram, lá estava Rubens na faculdade para realizar o sonho de ser doutor.

 

Quais as forças que determinaram esta mudança. O estímulo do tio e a força interior de Rubens. Que força estranha é essa que impulsionou o tio ao imperativo da persuasão. Na certa a projeção de um desejo que não realizado em si mesmo se desloca para o outro e se materializa. Saudável projeção. No lucro aquele que recebe o estímulo é capaz de ouvir e aceitar de bom grado, somando, sem resistir, apenas obedecendo aquilo que está interiorizado e consolidado. Faltava apenas aquela chuva para que broto surgisse, crescesse e florescesse.

 

O cavalo passa arreado e quem vai montar. Alguns desperdiçam a oportunidade. Outros aproveitam e agarram aquela oportunidade e estão preparados. Inúmeras variáveis se colocam nesta situação. Este é o grande mistério.

 

A razão e a lógica se fazem presentes. Ninguém chega à faculdade de medicina sem antes ter cumprido etapas bem racionais. Ser alfabetizado, ensino fundamental, ensino médio e cursinho é etapas previamente planejadas, com indicativo certeiro de sucesso para a graduação em nível superior. As chances chegam perto de cem por cento dentro de uma família estruturada e motivada, dentro de um projeto comum.

 

De outro modo, o imponderável, o improvável, o acaso, o destino atua a favor daquele que teoricamente as chances seriam mínimas, e este sujeito voa alto e consegue alcançar o objetivo.

 

A vida se abre na multiplicidade. Ingredientes não faltam. Aos temerosos a percepção focalizará as barreiras e as dificuldades. Não será possível, não há condições, barreiras e limitações. Os aventureiros, o sonhador.

 

 

17

 

Bíblia – do livro de Jó, e a depressão

Jó disse:

“Não é acaso uma luta a vida do homem sobre a terra? Seus dias não são como dias de um mercenário?

Como um escravo suspira pela sombra, como um assalariado aguarda sua paga, assim tive por ganho meses de decepção, e couberam-me noites de sofrimento.

Se me deito penso:

Quando poderei levantar-me?

E ao amanhecer, espero novamente à tarde e me encho de sofrimentos até ao anoitecer.

Meus dias correm mais rápido do que a lançadeira do tear e se consomem sem esperança.

Lembra-te de que minha vida é apenas um sopro e meus olhos não voltarão a ver a felicidade”!

18

Monsenhor Malomar Lund Edelweiss e Universidade Católica de Pelotas

Em boa hora, a Universidade Católica de Pelotas está cuidando de manter viva a memória de seus fundadores, que se doaram com muita generosidade, para que Pelotas tivesse a sua Universidade. Neste artigo, vamos recuperar um pouco da vida do primeiro reitor, Professor Doutor Malomar Lund Edelweiss.

O terceiro bispo de Pelotas, Dom Antônio Zattera, sacerdote zeloso e muito prático, cedo individuou os dois graves problemas sociais a clamar por solução, ligados com sua atividade pastoral. O primeiro grande problema que encontrou foi o dos meninos desvalidos, perambulando pelas ruas da cidade, mendigando, sem família e sem escola. Para sanar essa deficiência, que tanto comovia o coração das pessoas, deu nova vida aos esforços que, no tempo de Dom Joaquim, foram feitos para a criação do Instituto de Menores.

Outro grave problema a enfrentar era o da falta de professores, para as nossas escolas. Quem quisesse um diploma de magistério de uma universidade, obrigatoriamente, devia dirigir-se à Capital do Estado ou contentar-se com o diploma das “Escolas Normais”. Para solucionar essa deficiência, Dom Antônio idealizou a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que aceitou seus primeiros alunos em 1953. Nesse empreendimento, foi-lhe de grande valia o jovem padre, recém laureado em Roma, Malomar Lund Edelweiss.

A amizade de Dom Antônio com o jovem Malomar vinha dos tempos em que o bispo de Pelotas ainda era pároco em Bento Gonçalves, na serra gaúcha, para onde acorria Malomar como chefe de grupos escoteiros de Porto Alegre, em busca de paragens amenas, para acampar. Quando, em 1942, o pároco de Bento Gonçalves foi nomeado bispo de Pelotas, a amizade entre os dois ainda mais se estreitou, pois Malomar, pelo lado materno, descende da tradicional família pelotense dos Lund.

Malomar nasceu em Santa Cruz do Sul, no dia onze de janeiro de 1917. É filho de Frederico Edelweiss Griesbaum e de Henriette Lund. Pelo lado materno, é neto de Carlos Lund e Isabel Soveral Lund. Foi batizado em Canela, então paróquia de Gramado, no dia dois de março de 1918. Mas a vida do menino Malomar foi marcada fundo pela perda de sua mãe, já aos sete anos de idade. O pai, no entanto, proporcionou-lhe sempre as melhores oportunidades de aprender nos colégios católicos da Capital, onde fixara residência.

Quando Malomar terminou na Capital a Faculdade de Direito, da Universidade do Rio Grande do Sul, seu pai vencia o concurso para professor da Língua Tupi-Guarani, na Universidade da Bahia, para onde se transferiu imediatamente. Malomar, depois de amadurecida reflexão, decidiu responder ao chamado de Deus para o sacerdócio. Sua escolha, pelos laços de família e pela amizade com Dom Antônio, é encardinar-se na Diocese de Pelotas, apesar das justificadas tentativas do Arcebispo Dom João Becker de que permanecesse vinculado a Porto Alegre.

Estávamos no fim do segundo conflito mundial, em 1945. O Pontifício Colégio Pio Brasileiro de Roma reabre as suas matrículas para as dioceses do Brasil enviarem novos alunos. Dom Antônio, a fim de fixar a escolha de Malomar em Pelotas, oferecendo-lhe os estudos da Teologia, na Universidade Gregoriana de Roma, matriculando-o no Pio Brasileiro. No entanto, dois anos depois, por razões de saúde, tem de voltar, dando continuidade ao curso de Teologia no Seminário Central de São Leopoldo.

Sua ordenação de presbítero realizou-se no dia 28 de novembro de 1948, na Catedral de Pelotas – naquele tempo, ainda na fase final das obras de construção do novo presbitério, encimado pela grande cúpula, posteriormente decorada por Aldo Locatelli. Dom Antônio tem a alegria de ordenar seu amigo, o jovem Malomar Lund Edelweiss, no ano em que festeja os seus vinte e cinco anos de sacerdócio.

Exatamente, nessa ocasião o neo-sacerdote Malomar recebe de amigos porto-alegrenses uma bolsa de estudos em Direito Canônico na Itália. Chega-lhe a oportunidade, tão esperada, de compor, com os estudos necessários para a láurea em canonística, o aprofundamento em Psicanálise, em Viena. Essa experiência com os Mestres da Psicanálise vai ocupar o jovem padre pelo resto da vida. Em Viena, ele encontrou a direção do seu campo de trabalho. Tão bem soube aproveitar suas estadas na capital austríaca, que captou o interesse e a amizade do ilustre Professor Igor Caruso, já nesse tempo festejado autor de várias obras de Psicanálise, de cunho personalístico.

Em 1953, Pe. Malomar, laureado no Angélico de Roma, em Direito Canônico, mas vivamente interessado nos temas e na prática da Psicanálise, está em Pelotas, hospedado no Bispado, trabalhando ao lado do seu Bispo e amigo, Dom Antônio. Aí têm um convívio diário, tomam as refeições juntos; há também a presença de outros padres que trabalham na Catedral, entre eles Pe. Antônio Botton e Pe. Carlos Johannes, todos mais ou menos da mesma idade. Das conversas dessa gente, cheia de ideais, firma-se o propósito de fundar na cidade uma Escola Superior, a fim de dotar Pelotas de um novo centro de cultura e, a zona sul do Estado, de professores para a sua juventude. Está fundada a Faculdade Católica de Filosofia e Dom Antônio tem preparado o seu diretor, na pessoa do Pe. Malomar.

Do epistolário entre os dois – porque todos sabem que Dom Antônio viajava muito e Pe. Malomar, sempre inquieto, também – descobre-se como foi difícil a implantação de nossa Faculdade de Filosofia, germe pujante da futura Universidade. Mas, para esses amigos, a dificuldade é só mais um desafio a vencer. E as mil exigências burocráticas e a falta de mestres titulados, para a docência na novel escola superior católica, são superadas galhardamente.

Nesses primeiros anos da Faculdade de Filosofia, Pe. Malomar divide o seu tempo, na direção da Faculdade e no atendimento aos pacientes que o procuram no Instituto de Psicologia, fundado por ele, com a personalidade jurídica da Mitra Diocesana de Pelotas, que é também a mantenedora da Faculdade Católica de Filosofia. Seu ministério sacerdotal fica enriquecido pela assistência, como capelão, às Irmãs Carmelitas, no recém criado Carmelo de Pelotas. Alunos da Faculdade Católica de Filosofia, que haviam participado da Ação Católica, decidiram fundar na Cidade a JUC “Juventude Universitária Católica”. Receberam logo todo o apoio do Pe. Malomar. Através de encontros, preparavam também a Páscoa dos Universitários, ocasião em que os estudantes das outras Faculdades de Pelotas participavam.

Malomar está sempre pensando alto. Quer expandir ainda mais os serviços que presta a psicologia e sua preparação nesse campo, aconselhado pelo amigo de Viena funda o Círculo Brasileiro de Psicologia Profunda, em 26 de setembro de 1956, com a presença em Pelotas do Dr. Igor Caruso. São membros fundadores do Círculo, com Pe. Malomar, os seus amigos e colaboradores: Francisco Vidal, Gerda Kronfeld e Siegfried Kronfeld. Na secretaria da Faculdade e do Instituto, conta com a competente e valiosa colaboração de Glecy Zunino.

Chegamos, assim, ao ano de 1960. A Diocese de Pelotas está para festejar os cinqüenta anos de fundação. No plano pastoral, Dom Antônio projeta comemorar o jubileu da Diocese, com a realização do Segundo Congresso Eucarístico Diocesano. No plano social, o jubileu da Diocese será marcado pela fundação da Universidade Católica de Pelotas. A primeira Universidade no interior do Estado 1. Para essas solenidades, o bispo empreendedor convida o Núcleo Apostólico, Dom Armando Lomardi e todo o episcopado gaúcho, secundado pelas mais altas autoridades civis do Estado. O ato solene da instalação da Universidade Católica ocorreu no Teatro Guarany, onde Pe. Malomar, recém criado Monsenhor Camareiro Secreto do Papa, recebe o encargo de primeiro Reitor da nova Universidade. Agora é preciso dar-se ao trabalho de agrupar as Faculdades já existentes e de pensar na criação de uma escola superior de Medicina, a quase obsessão do bispo diocesano... Mas em tudo isso, Dom Antônio está presente e se vale do Reitor, sobretudo para os necessários contatos com as autoridades e com os mestres que residem na capital do Estado e na capital da República. De novo, é do epistolário de Pe. Malomar com seu bispo, que se pode concluir quanto lhe foi útil, para a implantação da Universidade Católica, a preparação acadêmica e os conhecimentos privilegiados que tem o primeiro reitor.

Nos anos imediatos à fundação, a Universidade dá seus primeiros passos, mas sofre com a dúplice ausência de seu reitor, que se transfere para Belo Horizonte, e do Chanceler, obrigado às sessões do Concílio Vaticano II.

A ida a Belo Horizonte foi motivada por fatores diversos, o mais constringente foi a saúde de Pe. Malomar que não se acostumava com o clima úmido e com os rigorosos invernos de Pelotas. Nessa decisão de transferir-se para a capital mineira, foi decisiva a acolhida que lhe deu o seu amigo e antigo colega de Pio Brasileiro, Monsenhor Serafim de Araujo, então nomeado bispo auxiliar de Belo Horizonte, hoje Cardeal e Arcebispo emérito daquela capital. Lá, Malomar fixou residência, dando-se sobretudo ao trabalho de psicoterapeuta, mantendo, além do consultório, intensa atividade docente e grupos de sacerdotes, médicos e psicólogos que o procuram. Dessa atividade temos conhecimento não só por suas entrevistas, como pela publicação de artigos e livros de sua autoria 2.

Sua atividade de sacerdote, ele a exerce semanalmente, por recomendação de Dom Serafim, seu amigo, na periferia da grande Belo Horizonte, coadjuvando nas paróquias mais necessitadas.

Nessa última fase mineira, Malomar se especializa no estudo e, depois, na prática do uso da hipnose, para resolver diversos problemas psicológicos de seus pacientes. Toda atividade se faz em consonância com o Círculo Brasileiro de Psicanálise, novo nome do Círculo Brasileiro de Psicologia Profunda, fundado por ele em Pelotas, por ocasião da visita de Igor Caruso à nossa cidade em 1956. Pe. Malomar é reeleito presidente do Círculo até 1976.

Mas Malomar não esquece Pelotas, onde tem muitos amigos e acompanha, mesmo de longe, o crescimento da Universidade Católica. Nas visitas à cidade, aproveita para ministrar cursos de Extensão Universitária, na sua especialidade.

Numa dessas vindas a Pelotas, a Universidade que ajudou a fundar, reconhecida, outorgou-lhe, por decisão do Conselho Universitário, o honroso título de Doutor honoris causa. Nesta oportunidade, recebia a mesma honraria seu amigo, o ilustre pelotense, por muitos anos diretor da Faculdade de Direito de Pelotas, Dr. Bruno Lima.

Em 2007, Pe. Malomar completava noventa anos, ainda lúcido mas alquebrado pela idade, continuando em Belo Horizonte, na sua bela residência da rua Gonçalves Dias, o seu trabalho de estudioso, recebendo a visita de seus ex-alunos, alguns deles altas figuras de psicoterapeutas e psiquiatras de Minas Gerais. Foi lá que veio a falecer, serenamente, na companhia das pessoas de sua amizade, que o ajudaram até o fim. O seu desenlace ocorreu no dia seis de outubro de 2010.

Resumindo sua vida de pesquisador e de padre, de pessoa dedicada a aliviar o sofrimento dos outros, com os instrumentos que lhe oferecia a psicologia do profundo, apreendido com Freud e Caruso, podemos dizer como os antigos: Divinum opus est sedare dolorem 3.
Pe. Aldo S. Lorenzoni
(No segundo aniversário do falecimento de Pe. Malomar.)

1 A UCPEL foi fundada a sete de outubro, a Universidade Federal de Santa Maria foi fundada em 14 de dezembro de 1960.

2 Entre as obras de Pe. Malomar podemos destacar seu último livro: "Com Freud e a Psicanálise de volta para a Hipnose". Editora Lemos, São Paulo, 1994.

3 'É obra divina aliviar o sofrimento', dito atribuído a Hipócrates, pai da Medicina.

19

 

Quanto tempo dura o tratamento psiquiátrico?

Esta é uma das perguntas freqüente no consultório, formulada ao psiquiatra.

Acredito, que os psiquiatras cada um ao seu modo, encontra um modo de responder a esta pergunta. Gosto de responder com alguma analogia. Tomo como exemplo uma escada. Digo que para subir ou descer uma escada com mais de três degraus a pessoa começa com o primeiro degrau da escada, passo a passo  É praticamente impossível passar do primeiro degrau para o último degrau de uma vez só.

O tratamento psiquiátrico difere do tratamento cirúrgico. Se o doente sofre de uma apendicite a extração do apêndice pode ser a solução final. O cirurgião considera uma cirurgia de apêndice como simples. A recuperação do paciente é imediata, e provavelmente o paciente demorará se encontrar outra vez com o cirurgião. No tratamento odontológico o dentista consegue marcar o início e o término, de cada procedimento dentário.

Na psiquiatria um tratamento mínimo e razoável, provavelmente será de seis meses para frente.  Os familiares anseiam por uma melhora rápida. Tanto os pacientes quanto os familiares são poucos tolerantes e contraditórios. Paradoxalmente, os familiares querem a melhora do paciente, entretanto alguns parentes opinam de forma equivocada sobre os remédios. Comentam que os remédios viciam, provocam dependência, e aconselham a não usarem os remédios. “estes remédios de faixa preta, e receita azul vai deixar você dependente”.  Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Se o paciente não toma o remédio persistem os sintomas. Os pacientes continuam sem dormir, estressados, nervosos, mal humorados, ansiosos, exemplificando para as doenças mais comuns, tais como o estresse e transtornos adaptativos. Se tomarem os ansiolíticos e os indutores de sono, tem grande chance de melhorarem, mas fica aquela idéia de que a pessoa está dependente do psicotrópico.

São múltiplos fatores que contribuem para prolongar ou abreviar o tempo do tratamento psiquiátrico. Conflitos conjugais, conflitos com familiares, angústia, capacidade intelectual, problemas no trabalho, dívidas financeiras, perdas e tantas outras variáveis. Analisando apenas o fator medicamentos, exemplifico com este fragmento de uma sessão de hipnoterapia de grupo, com dez pacientes:

(A) - tomei dez comprimidos de alprazolam para dormir e não consegui dormir.

(B) - você poderia ter morrido

(A) - é a segunda vez que fiz isto, e não aconteceu nada.

Psiquiatra- Outro dia, numa outra terapia, aqui mesmo nesta sala, estávamos reunidos como hoje, aconteceu de alguém contar uma estória interessante.  O Senhor José foi à missa dominical, com sempre faz, rotina. Na missa, no inicio da celebração, o Padre comunicou que era missa de sétimo dia de uma jovem.  Por ser jovem logo o Senhor José pensou que a jovem teria morrido de acidente.  Ao final da missa, a mãe e a irmã da jovem falecida, leram um texto em homenagem póstuma. Para matar a curiosidade Senhor José perguntou na saída da igreja para uma senhora, qual teria sido a causa da morte da jovem.  A Senhora informou que a jovem havia tomado uma grande quantidade de clonazepam e veio a falecer por overdose.

(C)- eu não posso com sulfa e paracetamol. Estes remédios me empolam o corpo todo.

Psiquiatra- É um grande mistério, esta tolerância. Como saber que determinados medicamentos provocam reação alérgica. Como saber antecipadamente que certos medicamentos produzirão efeitos contrários, e porque certos medicamentos são ótimos para determinadas pessoas. E como saber antecipadamente que para outras pessoas o mesmo remédio faz mal.

(D) - comigo foi diferente, vim até aqui, no dia da consulta estava num estresse danado, o Doutor prescreveu apenas um comprimido e no dia seguinte já estava melhor. O remédio deu uma relaxada muito boa. Estou tomando um comprimido à noite e está sendo muito bom. Por isto a pessoa não deve abusar, porque às vezes ela toma o remédio não acontece nada, mas se ela tomar muitos comprimidos ela pode morrer.

(E)- será! que nós utilizamos o remédio, igual eu uso o álcool. Quando eu bebo e paro, sinto os efeitos da abstinência e então volto na cachaça. Quando bebo a cachaça os tremores param e eu consigo dormir. Acho que é a mesma coisa com os remédios, a pessoa vai aumentando a medicação para não sofrer a abstinência.

Psiquiatra- é realmente faz sentido este raciocínio. Ou seja, se a pessoa aumenta o remédio não é para aliviar o mal estar e sim por sentir a falta dos próprios remédios neste caso teríamos a caracterização da dependência dos psicotrópicos.

20

 

 

Emergência

 

A disponibilidade do psiquiatra

 

São 08h30min horas, o psiquiatra se prepara para iniciar a sessão de hipnoterapia de grupo. A secretária adentra no consultório, e diz

- o paciente José está aí fora, ele não está com horário marcado e quer falar com o Sr.

- justamente agora! Está na hora de iniciar a terapia de grupo! –

- ele disse que não está se sentindo bem.

- Ok!  Peça para ele entrar

 

José entra adentra no consultório, apavorado esfregando as mãos, rosto suando, o olhar, e o semblante são tensos e melancólicos.

- Doutor, não estou me sentindo bem.

- Como assim, não está se sentindo bem - repete o psiquiatra em tom interrogativo

- tive um sonho terrível, não consegui pegar no sono. Sonhei que tive um infarto foi apavorante, voltei a dormir e tornei a sonhar foi pior, sonhei que estava nadando numa praia e ia para longe da praia em alto mar, afogando de propósito.

 

O psiquiatra, disse ao paciente.

 

- Como você pode ter percebido, neste momento há mais de dez pessoas esperando para participar da terapia de grupo, e pelo que eu percebi e conforme você mesmo está expressando, você não está bem, então de imediato para te aliviar um pouco, se você concordar, você poderia ficar um pouco de tempo, aqui no Pronto Atendimento Psiquiátrico, aqui na clínica, eu poderia lhe aplicar um sedativo para aliviar este mal estar, inclusive se você quiser poderá participar um pouco da terapia que vai começar agora. Acho que seria uma decisão adequada, você ficar um pouco em observação, agora pela manhã, depois de terminada a terapia de grupo, por volta de 11 horas, poderemos conversar um pouco mais.

 

- Sim, Dr. concordo. Pode fazer a injeção, realmente eu estou precisando, não estou nada bem.

 

O paciente estava sozinho. E assim o psiquiatra aplicou 1 ampola de haldol no músculo e o paciente ficou sob supervisão e ao mesmo tempo participando da terapia.

 

O sonho indica uma idéia clara de morte ou até mesmo de um risco de suicídio.

 

O nível de tensão do paciente era tão alto, que o sedativo não provocou sonolência, mas produziu efeitos relaxantes e diminuiu a angústia e possibilitou a continuação do diálogo, já no período da tarde.

 

José informou que mãe faleceu há quinze dias e que estava sofrendo muito com esta perda. Era extremamente ligado a ela.

 

- não sei se dou conta de continuar vivendo sem a presença dela. Está doendo muito, às vezes imagino que é melhor estar junto dela.

 

O tratamento prosseguiu por mais três meses, e José conseguiu elaborar o luto. Se sente melhor e com a ingestão de doses mais baixas de antidepressivos associados à hipnoterapia de grupo está mais otimista e percebendo as belas cores da vida.

 

Foi fundamental a intervenção da Secretária, ela sensibilizada interviu a favor do paciente. O psiquiatra soube avaliar a condição de emergência do atendimento. Não burocratizou com justificativas comuns – “não está marcado não posso atender”. Analisar contexto dentro de uma visão humanista ainda tem o seu lugar na medicina. Estar disponível nestes momentos te transcender a tecnologia e ir além daquilo que está escritos nos manuais da psiquiatria.

 

O psiquiatra habilmente fez uso da linguagem hipnótica, para sugerir a permanência do paciente por algumas horas bem como a aplicação do sedativo, que não é uma tarefa fácil. Devido ao grande preconceito os pacientes quase sempre recusam tanto a internação psiquiátrica como recusam receberem injeções de psicotrópicos.

 

21

O Acompanhante

 

Trabalho com hipnoterapia de grupo há mais de vinte anos. Vez por outra surpreendo com algumas situações inusitadas.

Adentro na sala de grupo, deparo com uma paciente com uma criança de colo. A paciente veio para uma sessão de terapia de grupo e traz consigo um bebê de oito meses. E manifesta o desejo de participar do grupo com a criança no colo.

Não permito e pergunto:

- Não há alguém que possa ficar com a criança na sala de espera

- A minha mãe (avó da criança) está aí. Mas ela também vai participar da terapia de grupo

- Então, infelizmente não há como você participar do grupo hoje. Depois que terminar poderei atendê-la individualmente

A paciente se retira da sala com a criança e avó entra e iniciou a sessão de terapia de grupo. Dez pacientes presenciaram esta cena.

A avó justifica

- Não tinha com quem deixar a criança em casa

O psiquiatra brinca

- é muito para uma criança de 1 ano participar do grupo. Dizem que até dentro do útero a criança sente o impacto daquilo que a mãe vivencia, imagina aqui então, a criança no colo ouvindo tudo que iremos falar

- é muito pesado (comenta outro paciente)

 

 

A paciente não compareceu. A irmã em tom de voz ríspida e tensa diz:

- não posso suspender o exelon, minha irmã (a paciente) está tomando o remédio. Foi um remédio prescrito por outro psiquiatra

- eu disse para a minha tia que o remédio não estava fazendo efeito para a minha mãe. O remédio que o Sr. está passando para ela está muito bom.

O psiquiatra responde:

- não há mal algum se ela continuar tomando o exelon, porém não conseguir avaliar nenhum efeito terapêutico do medicamento. E se a paciente está bem com Roxetin e Risperidon porque mudar a medicação?

 

Comentários

Use o espaço, mas lembre-se de todas as regras antes de participar!

Por favor leia nossa política de comentários antes de comentar.

Participe da discussão...