Fator estressor e psicose
Dr. Júlio César de Almeida Barros Psiquiatra com 36 anos de experiência clínica e formação em hipnoterapia individual e de grupo. Criou e inaugurou o Pronto Atendimento Psiquiátrico em 1987, desde então, adquiriu grande conhecimento e prática em emergências psiquiátricas.
Caso Clinico
Fator estressor e a psicose
Um paciente evoluindo bem. Estável, sem nenhum motivo aparente, repentinamente, altera o comportamento. Não sendo alcoólatra, vai ao bar e bebe, anda de um lado para o outro, telefona para todas as pessoas que conhece, sem censura, fala tudo que lhe vem à mente, sai de casa cedo e anda de pijama pela rua.
O psiquiatra ao examiná-lo constata recaída de uma crise psicótica. Ajusta a dose dos medicamentos, aumentando-os. Solicita ao paciente para comparecer na próxima semana, para avaliação. O paciente comparece e novamente se apresenta estável, muito bem.
O psiquiatra pergunta ao paciente se ele seria capaz de identificar o motivo da crise na semana anterior.
- Não, não houve nenhum motivo, para eu ficar daquele jeito.
- Posso tentar de ajudar a entender algo. Mesmo você estando bem, poderia ter ocorrido algum fato novo na sua rotina, nada grave, apenas algo que possa ter mexido com sua sensibilidade, em se tratando de você, com um histórico de inúmeras crises, estes surtos lhe tornou uma pessoa muito vulnerável, sensível.
- Ah! Agora estou entendendo, lembro-me que tomei conhecimento da morte de um homem importante na minha cidade. Não cheguei a tempo de ir ao velório.
- Como sentiu não comparecendo ao velório?
- Mas teve os preparativos da festa.
- Festa!
- Onde resido atualmente, sou um dos responsáveis pela festa.
O paciente segue adiante com o discurso dele... - Sim isto é verdade, eu também estava preocupado com um sobrinho, usuário de drogas, queria ajudá-lo, viajei até a capital e tive a procurá-lo numa favela.
- Também foi à semana das eleições e você planejava votar na terra natal, onde você vivencia fortes emoções.
- Com certeza, meu amigo era candidato, eu queria muito a vitória dele.
O psiquiatra então resume.
- Morte, festa, eleições, preocupações familiares. Muitos acontecimentos, nós psiquiatras chamamos todas estas questões de fatores estressores. Tudo isso em apenas um mês.
O paciente fala:
- Engraçado esta vida! Veja, este mês nada disto acontecendo. Tudo transcorre dentro da minha rotina. Agora consigo perceber o porquê da crise no mês passado e porque este mês estou bem.
No psicótico é percebido a diminuição dos impulsos e da vontade por alheamento afetivo. Perturbações cognitivas, o raciocínio do paciente é idiossincrásico. O comportamento é diferente do usual, estranho, fragmentação do pensamento. O paciente pensa e raciocina em seus próprios termos, levando a conclusões fora da realidade. Há uma desorganização da vida mental com certo distanciamento da realidade. Sintomas autistas.
Há a diminuição da capacidade de entrar em contato com o ambiente, de sentir alegria ou tristeza de acordo com a situação. Estranheza afetiva que provoca diminuição dos estímulos.
Notam-se dificuldades com os pensamentos abstratos e simbólicos, portanto dificuldade de insight. O ato perceptivo é lento e regredido. Experimenta as vivências de influência corporal ou ideativa. Dificuldade par dirigir a atenção para uma tarefa, modular o afeto e as emoções. Graves bloqueios nos relacionamentos interpessoais, fobias e paranóias.
A mente construindo e criando estas representações emocionais. De que forma esta mente reage aos estímulos do cotidiano, trabalhar, estudar, empreender, realizar, idealizar e amar?
Estes estímulos são existenciais, dentro do chamado padrão de normalidade, eis o paradoxo, pois se transformam em fatores estressores. Para os psicóticos são verdadeiros tormentos induzindo à despersonalização, dissociação e a obnubilação da consciência. Confusão mental, inquietude e agitação psicomotora também se fazem presentes.
O desafiador para a neurociência é deparar com os estímulos psicossociais capazes de alterar a biologia das estruturas cerebrais, implicações neuroquímicas nas vesículas sinápticas onde estão armazenados os neurotransmissores. Os desenvolvimentos farmacológicos no contexto terapêutico clínico, da aplicabilidade dos medicamentos, consecutiva melhoria da sociabilidade demonstra interação entre psíquico e o somático.
Analisando a frase expressada pelo paciente:
- Ah! Agora estou entendendo, lembro-me que tomei conhecimento da morte de um homem importante na minha cidade. Não cheguei a tempo de ir ao velório.
Dentro do raciocínio lógico eu e o paciente poderíamos prosseguir com o diálogo dentro do mesmo assunto.
- Como você se sentiu no velório?
- O paciente não responde. Parece estar conversando consigo mesmo e as frase são ditas a esmo.
Na Wikipédia, Em lógica, pode-se distinguir três tipos de raciocínio lógico: dedução, indução e abdução. Dada uma premissa, uma conclusão, e uma regra segundo a qual a premissa implica a conclusão, eles podem ser explicados da seguinte forma:
- Deduçãocorresponde a determinar a conclusão. Utiliza-se da regra e sua premissa para chegar a uma conclusão. Exemplo: "Quando chove, a grama fica molhada. Choveu hoje. Portanto, a grama está molhada." É comum associar os matemáticos a este tipo de raciocínio.
- Induçãoé determinar a regra. É aprender a regra a partir de diversos exemplos de como a conclusão segue da premissa. Exemplo: "A grama ficou molhada todas as vezes que choveu. Então, se chover amanhã, a grama ficará molhada." É comum associar os cientistas a este estilo de raciocínio.
- Abduçãosignifica determinar a premissa. Usa-se a conclusão e a regra para defender que a premissa poderia explicar a conclusão. Exemplo: "Quando chove, a grama fica molhada. A grama está molhada, então pode ter chovido." Associa-se este tipo de raciocínio aos diagnosticistas e detetives
Observe que no caso citado o paciente é incapaz de prosseguir nesta lógica da dedução, indução e abdução. Tende para a fragmentação e/ou desagregação. Ele não encadeia e nem concatena o raciocínio. Exemplo: "Fui ao velório, me senti mal e este fato me prejudicou na organização da festa". O raciocínio lógico, premissa, conclusão e regra são quase impossíveis.
Revista de Psiquiatria RS 25, suplemento, Regina Margis e Outros afirma que o termo estresse denota o estado gerado pela percepção de estímulos que provocam excitação emocional e, ao perturbarem a homeostasia, disparam um processo de adaptação caracterizado, entre outras alterações, pelo aumento de secreção de adrenalina produzindo diversas manifestações sistêmicas, com distúrbios fisiológico e psicológico.
O termo estressor por sua vez define o evento ou estímulo que provoca ou conduz ao estresse.
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