Analogia e Metáforas

Dr. Júlio César de Almeida Barros Psiquiatra com 36 anos de experiência clínica e formação em  hipnoterapia individual e de grupo. Criou e inaugurou o Pronto Atendimento Psiquiátrico em 1987, desde então, adquiriu grande conhecimento e prática em emergências psiquiátricas.

Compreender melhor o que é a Analogia e o que é a Metáfora – ‘’onde começa  e termina a Serra da Mantiqueira’’;’’o mapa do Brasil representa o Brasil, mas não é o Brasil’’. Então, ao invés de buscar nos textos as explicações para Analogia e Metáfora, fechei os olhos e em transe transportei-me para nosso Grupo de Estudo e comecei a ouvir o Prof. Malomar contar as piadas, os casos e as teorizações, e numa associação de idéias, pincei três situações do cotidiano psicoterápico e ‘’qualquer semelhança é mera coincidência’’.

I – Depois da Separação

Há um velho ditado popular – ‘’É na queda que a água cria energia.’’, ou em outros termos, toda crise implica na criação de um novo projeto. Um bom exemplo de crise  é a conjugal, terminando numa separação.

Quem conhece o amor, sem dúvidas, conhece alegria e sofrimentos. Na atração, na paixão e no desejo, a festa do casamento, os desencontros, nas diferenças, rivalidades e competição, a angústia da separação.

No casamento, os preparativos, mobiliar o apartamento, fazer convites, marcar e enfeitar a igreja, escolher o padre e os padrinhos  e madrinhas, a recepção no clube com ou sem coquetel, fotografar ou filmar , a viagem da lua de mel.

Na separação, as dúvidas e perguntas brotam que nem capim em época de chuva. Estou precipitando, vamos dar mais uma chance para nós, e os filhos como ficam, quem sai de casa, a divisão dos bens e do patrimônio, como vou encarar minha mãe e meu pai, meu sogro e minha sogra; será que vou morar com meus pais ou vou para casa de uma amiga.

O desgaste, o stress e agitação é tanta, numa sensação de corredor de 100 metros com obstáculos em final de olimpíadas. Ao romper a fita que delimita a vitória, o corredor cai no chão exausto, sendo necessário levá-lo ao vestiário por horas, até que tenha condições de chegar ao pódio para receber a justa homenagem, a medalha de conquista.

Para quem separou. E agora José, já dizia Carlos Drumond, o que faço. Estar só não significa solidão. Pode ser o primeiro passo para um auto-conhecimento.

Não é hora de compromissos sérios, chegou a hora de relaxar, nada de outras decisões. Reaproximar dos familiares sem envolver na rede de intrigas; aproveitar dos pais. Conversar com os amigos e fazer novas amizades, ir a clubes, jogar conversa fora, dançar, ler um jornal, uma revista, ir ao cinema.

Uma olimpíada é realizada de quatro em quatro anos. Os atletas nesse intervalo passam a vida no anonimato, nos treinamentos, solitários, apurando a técnica. Aqueles mais presistentes e aplicados terão lugar no pódio e a consagração mundial.

Não é hora de novas decisões. Não é hora de grandes mudanças. Reestruturar e permitir o tempo passar e você cuidar de si, de recompor as energias. Ei! Psiu, é só um momentinho!

 

Il -  O valor de um bife

Como de hábito,  o marido levantou-se, numa manhã de domingo, ensolarada e sozinho, disse  a sua esposa: ‘’Vou ao clube, terá um jogo, é dia da decisão do torneio de futebol ‘’society’’ e volto para almoçar’’.

A esposa permaneceu um pouco mais na cama. Afinal era domingo e não havia mal algum o almoço sair mais tarde. Por volta das dez, levantou-se, foi para cozinha e pensou no cardápio. Optou por um bife a parmegiana, prato predileto do seu marido. Caprichou, como caprichou. Para acompanhar um arroz e batata palha. Não podia esquecer da batata palha. Não podia esquecer da sobremesa, o mousse de maracujá, uma delicia. Tudo preparado, era só aguardar a hora certa de levar o bife ao forno microondas.

Uma pequena dúvida, a hora de servir o almoço, resolvida imediatamente com um cálculo cronológico. O futebol marcado para as dez, com uma hora de jogo, daria onze, um bate-papo com amigos e uma cervejinha, mais uma hora. Ao meio dia, ele sairá do clube, mais meia hora de desconto, um banho, estaria pronto, almoço quentinho, para uma hora da tarde.

Embora ele, ainda não havia chegado, ao meio-dia e meio, ela colocou o bife no microondas. Ao ouvir o alarme do forno apitar às uma e quinze, ela correu e desligou. O cheiro estimulava uma salivação gustativa irresistível, que por uma vez, desencadeava, um compulsão oral quase incontrolável.

Mas ela resistiu, até que deu conta de que já passava de uma e meia, e o marido não aparecia. Aborreceu-se, e um tanto irritada coloca o bife à mesa. Às duas e quinze, com fome e  prevendo que ia esfriar, não resistiu, e sozinha comeu sua parte. Para que sua decepção não fosse total, achou que não haveria problema fazer mais um esforço, deixar para saborear a sobremesa na companhia do esposo.

Quando já tampava a comida, escutou o barulho do carro, estacionando na garagem. Finalmente, seu marido acabara de chegar. Apressadamente, numa euforia e satisfação, entrou em casa adentro, comentando a vitória do seu time, e a conquista do titulo, e disse: ‘’Enquanto tomo banho, pode por na mesa tudo para almoçarmos’’.

Novamente, ela esquentou tudo. Ele saiu do banho, sentou-se na mesa e seu único comentário foi: ‘’A batata está um pouco salgada’’.

Sem mais comentário, o domingo continuou sem maiores intercorrências. À noite, cheio de amor para dar, envolvido numa áurea romântica e inspirada, o marido procura a esposa. Ela por sua vez, fria e distante, reclamou o calor da noite, a dor de cabeça, o cansaço, indisposição. Mas ele prossegue , tentando reanimá-la e carinhosamente percorre o corpo dela, de forma suave, delicada e gostosa. Ela por sua vez, vira de um lado para o outro, remexe e sente cócegas.

Algo de errado está acontecendo, presente ele, mas não é muito dado a adivinhações, prefere respeitá-la, põe de molho sua erotização, e juntinho, agarra-se ao corpo dela e adormece.

Ela demora a dormir, e por sua vez remoendo seus sentimentos, numa mistura de desejo reprimido, e raiva manifestada, sente-se vingada: ‘’Bem feito, quem mandou ele demorar tanto para o almoço?’’.

 

lll – Amizade

Existem várias formas de estabelecer um relacionamento. Particularmente, penso em duas situações. A primeira comparo a um espelho e a segunda a uma esponja.

No espelho, você vê a sua imagem refletida. O espelho, pode ser colocado em várias posições, do lado direito ou esquerdo, de frente ou de trás, mais próximos ou mais distante.

A esponja geralmente é usada para limpar e com grande capacidade de absorção. Imagine uma esponja usada na cozinha para limpar e enxugar a pia. Ela absorve a água e você espreme e torna esvaziá-la novamente.

Quando duas amigas começam a se relacionar é natural que uma conte à outra sobre suas conquistas, problemas e vivências diárias. Ao aprofundar a amizade, as intimidades de ambas, ficam expostas. A complicidade aumenta, os seguidos diminuem e a afetividade envolve os sentimentos e as emoções prevalecem sobre a razão. Os pedidos de ajuda tornam-se corriqueiros, provocando  uma maior influência e interferência uma sobre a outra. O conselho de inicio é bem-vindo e uma maior influencia e interferência uma sobre a outra. O conselho de inicio é bem-vindo e oportuno, mais tarde, ao atingir em maior grau a privacidade da outra, torna inoportuno, inadequado e rejeitado. Quanto mais verdadeira, sincera as opiniões formuladas pela amiga, mais a outra se sente agredida e obrigada a adotar uma postura defensiva e encapsulada.

Passamos então, a discutir a dualidade do certo e errado, o paradoxo das contradições. Se a amiga insiste em esfregar o espelho na cara da outra, esta nada enxergará. A performance de autencidade e de lealdade aos seus princípios humanitários e cristãos de ajudar o próximo como a si mesmo, encontrará do outro lado, aquela, preferindo não enxergar tanto, optando, ao bel-prazer, da fácil ilusão, fomento da alma, mas motivos de tantos desencantos.

Outra dialética impõe. A amiga sincera, indaga no profundo do seu eu, se não expresso o que penso, rotular-me-ei de fingida, superficial, falsa e mentirosa. Exclama: ‘’isto é inaceitável para mim!’’. ‘’Prefiro continuar verdadeira, é assim que eu sou.’’. Se coloca no lugar da outra. Agora já funcionando como a esponja. Absorve os problemas da outra e pensa como se fosse a outra.

Se eu estivesse no lugar dela, agiria desse jeito. Ao final, esvazia seus juízos, racionalmente, projetando na outra seus valores e conceitos. O tiro sai pela culatra. A outra não reconhece o esforço desprendido e maternal da amiga e devolve com atuação, repetição e negação. Em outras palavras, entra num ouvido e sai no outro. E de sobra a amiga, ‘’tipo esponja’’, fica de saco cheio e magoada.

A neblina ofusca bastante nossos olhos. Os primeiros raios de sol das manhãs  clareia um pouco mais, e aquece nosso corpo de forma gostosa e agradável. A mesma luz solar que tanto ilumina não nos permite a petulância e a audácia de fixar os olhos diretamente ao sol, cego ficaremos.

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