Práticas Psiquiátricas (1) - atestado, perícias, remédios, drogarias

Dr. Júlio César de Almeida Barros Psiquiatra com 36 anos de experiência clínica e formação em  hipnoterapia individual e de grupo. Criou e inaugurou o Pronto Atendimento Psiquiátrico em 1987, desde então, adquiriu grande conhecimento e prática em emergências psiquiátricas.

Atestado

Comportamentos dos pacientes na emissão de atestados:

1.      Muitas vezes o psiquiatra está tentando concentrar para elaborar um atestado, o paciente, ou quem está dentro da sala começa conversar com o psiquiatra, faz perguntas. As pessoas são ansiosas e não compreendem que enquanto o psiquiatra está escrevendo deveriam aguardar o término da elaboração do laudo para dar seqüência à conversa. É obvio que as perguntas e as conversas atrapalham a concentração do psiquiatra. Exigir do psiquiatra ao mesmo tempo escrever os termos psicopatológicos do laudo e ainda responder as perguntas dos pacientes ou dos familiares  não é uma tarefa fácil. 

2.      O paciente agenda a consulta e reclama .... ‘’estou estressado, cansado, desanimado, não durmo, esquecendo tudo, preciso de alguns dias para descansar, não consigo trabalhar’.... O psiquiatra emite o atestado afastando-o do trabalho num prazo entre quinze a sessenta dias. O psiquiatra propõe o retorno ao final dos dias licenciados, objetivando avaliar o estado de saúde do paciente para conceder a aptidão as funções laborativas ou prorrogar os dias de afastamento profissional,  mas o paciente recusa vir em data futura.  Cabe perguntar. O atestado é a terapêutica, ou o atestado serviu apenas para que o paciente se ausentasse do trabalho para resolver alguns assuntos pessoais? E os sintomas e queixas são verdadeiras ou mentirosas?

 

Perícia, simulação e ganhos secundários

Eram aproximadamente dez horas da manhã, encerro a terapia de grupo com a presença de quinze pacientes. O terapeuta sai da sala de grupo e  caminha para outra sala onde iniciará o atendimento individual mais focado na prescrição de medicamentos.

No caminho de uma sala para a outra é interceptado por uma das pacientes que diz:

- Estou sentindo muito mal, parece que vou desmaiar.

O marido com olhos arregalados e do espanto  expressa preocupado,  fala reforçando:

- Ela está sentindo muito mal, será que são os medicamentos que ela está tomando. Será que minha esposa poderia ser atendida agora.

O terapeuta informa

- Tenho por hábito atender os pacientes por ordem de chegada.

O marido argumenta:

- Ela está com pericia agendada para onze horas no INSS, temo não chegar a tempo.

O psiquiatra escuta a solicitação do marido e atende a paciente. O típico sintoma conversivo, histérica. O marido insinua o provável efeito colateral dos remédios.

Esta é uma realidade no campo da psiquiatria e na interface com as pericias médicas, especialmente as previdenciárias, do Instituto Nacional de Previdência Social. Pois bem, como tratar esta paciente? A intenção da paciente não é o tratamento, muito menos a cura. Se ela melhorar ‘’passará na pericia, como ela será aprovada’’?

A paciente atua conscientemente, teatralidade psicossomática, se empenhando em demonstrar o máximo possível o quanto está se sentindo doente; desmaios, tremores, depressão, dor de cabeça, medo, e por aí afora.

Estabelece um antagonismo cruel. Se a proposta da medicina é avaliar os sintomas e curar as doenças, neste caso, não haverá desejo de cura. O desejo e atuação da paciente são para conseguir o beneficio que ela julga ser imprescindível para garantir o sustento financeiro.

 

Remédios, Comercial, Genéricos e Manipulados

O psiquiatra tem que lidar com situações alheias ao conhecimento  cientifico. Estas idéias pré-formadas pelos pacientes interferem na eficácia do tratamento.

Exemplo:

- ‘’gosto de tomar remédio genérico, porém não tomo manipulado’’

- ‘’não acredito nos efeitos dos remédios genéricos, só tomo remédio original’’, referindo-se as marcas comerciais produzidas pelos laboratórios.

Uma paciente de capacidade cognitiva limitada e hipocondríaca pela terceira vez consecutiva comprou o remédio e não tomou.

- li na bula o remédio provoca pressão alta. Doutor o senhor poderia prescrever outro medicamento.

- sinto muito, mas não poderei prescrever outro medicamento por que já é a terceira vez que prescrevo um medicamento e a senhora não toma.

Houve um impasse, a paciente se levantou da cadeira pegou a receita e foi embora contrariada.

 

Farmácia só vende certa quantidade de remédios

Outra questão que interfere na prescrição é o controle da fármacovigilância. As normas que são no máximo 3 caixas de um medicamento na prescrição, ou somente 60 comprimidos por mês.

Em tese o médico deveria priorizar à relação médico-paciente, à semiologia, a propedêutica e o tratamento. Entretanto a medida que o tempo passa a burocracia aumenta e o médico perde tempo e sofre interferência desnecessária das normas impostas advindas de outros setores da área de saúde.

Qual é a lógica e a razão desta forma? Se o médico e o paciente entenderem que seria melhor 4 ou 5 caixas. Esta norma foi de comum acordo com os médicos que atendem seus pacientes diariamente, quem teve esta idéia ?

Na dinâmica de grupo, vez por outra conto a seguinte anedota:

No balcão da farmácia:

- Por favor, gostaria de comprar uma caixa de diazepam.

- O senhor trouxe a receita azul

- Não

- Infelizmente só posso vender diazepam com receita azul. Esta é a norma da vigilância sanitária

O paciente vai embora aborrecido. Volta no dia seguinte, na mesma farmácia.

- O senhor tem um vidro de chumbinho (veneno de rato)

- tenho, espere um pouco

Vai lá dentro ao escondidinho e traz um vidrinho e entrega ao paciente.

O paciente surpreso e indignado exclama:

- Ontem pedi uma caixa de diazepam e o senhor não me vendeu, hoje peço um vidrinho de chumbinho e o senhor me vende uma numa boa

- lógico, o diazepam vicia e o chumbinho não vicia

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