Psiquiatria e Tecnologia

Dr. Júlio César de Almeida Barros Psiquiatra com 36 anos de experiência clínica e formação em  hipnoterapia individual e de grupo. Criou e inaugurou o Pronto Atendimento Psiquiátrico em 1987, desde então, adquiriu grande conhecimento e prática em emergências psiquiátricas.

É certo que a medicina avança. Todas as especialidades se beneficiam do aparelhamento tecnológico. Algumas especialidades são tão equipadas que o médico depende do funcionamento destes equipamentos. Eletroencefalograma, tomografias, ressonância, medidas laboratoriais (sangue, urina, hormônios). Tudo isto veio para ficar e são extraordinários para beneficiar o paciente e favorecer a eficiência terapêutica.

E a psiquiatria? Procuramos nos adaptar a este modelo, e até encontramos uma denominação: Neurociências, neurobiologia.

Apesar dos esforços e devemos continuar e nos esforçarmos para isto, à realidade é a seguinte. A psiquiatria ainda conta com poucos recursos tecnológicos. Os consultórios são os mais simples de toda medicina. Mesa, cadeira e as vezes um divã ou sofá, uma estante, um jogo de luz para enfeitar um pouco mais. Não passa disto. Não há nenhum aparelho, às vezes nem um simples aparelho de pressão.

Então a maior ferramenta de trabalho do psiquiatra é ele mesmo. Tudo que se refere à pessoa do profissional passa ser o instrumental maior. O modo dele se apresentar, o modo de vestir-se, o modo de falar, o modo de gesticular. Ou seja, o modo de ser do psiquiatra é a ferramenta valiosa que vai determinar o sucesso ou o fracasso do tratamento. Então enquanto as outras especialidades os médicos investem em sofisticados recursos propedêuticos, ao psiquiatra lhe resta investir em si mesmo.

No ano de 2020 surgiu o COVID -19, Coronavírus. As recomendações da Organização Mundial de Saúde preconizam o distanciamento social como método preventivo. Recomendou o mínimo de 1 metro e 50 cm de separação entre as pessoas. No consultório de psiquiatria o paciente normalmente, na rotina até então, estava bem próximo do psiquiatra. Outra recomendação da OMS, decorrente desta primeira, era evitar aglomeração.

Eu sou um psiquiatra que pratico a terapia de grupo. Então além do atendimento individual aplico a psicoterapia de grupo. Na sala de terapia de grupo estavam distribuídas vinte cadeiras, dez na lateral direita e dez na lateral esquerda. Eu postado no centro. Os pacientes estão lado a lado e todos próximos de mim. Outra característica do meu trabalho é que atendo no Pronto Atendimento Psiquiátrico, uma clínica com quatorze leitos de internação, em regime aberto, onde transitam os familiares e visitas.

Livremente as pessoas circulam entre a sala de atendimento individual, grupo, secretaria, sala de espera, uso de banheiros, consultório de psicologia, acompanhantes e até mesmo crianças. Total interatividade onde o espírito de coletividade predominam.

De um dia para outro tudo mudou. O portão de entrada da clínica foi fechado. Interrompi os atendimentos, paralisia total por quinze dias para uma análise e reprogramação para um recomeço. De que modo?  De que forma ?

Instituído o trabalho remoto de casa. A ferramenta indispensável e essencial foi o aplicativo de Whatsapp. A distância entre a clínica onde a Secretária permanecia da minha casa onde eu estou é de 4 Km. A tecnologia foi a solução e aos poucos fomos nos adaptando, Eu a Secretária, as Enfermeiras, os Pacientes e os Familiares. O paciente agenda a consulta com a Secretária por telefone, ela anota o nome no cadastro e registra no programa. Eu acesso as informações onde consta o número do telefone do Whatsapp ou número residencial ou do celular. Telefono para o paciente ou familiar que atende preferencialmente pelo vídeo chamada e reciprocamente nos visualizávamos eu e o paciente, procedendo a consulta.

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