Amizade

Dr. Júlio César de Almeida Barros Psiquiatra com 36 anos de experiência clínica e formação em  hipnoterapia individual e de grupo. Criou e inaugurou o Pronto Atendimento Psiquiátrico em 1987, desde então, adquiriu grande conhecimento e prática em emergências psiquiátricas.

Existem várias formas de estabelecer um relacionamento. Particularmente, penso, em duas situações. A primeira comparo a um espelho e a segunda a uma esponja.

No espelho você vê sua imagem refletida. O espelho pode ser colocado em várias posições, de lado, direito ou esquerdo, de frente ou de trás, mais próximo ou mais distante. A esponja geralmente é usada para limpar e com grande especialidade de absorção. Imagine uma esponja usada na cozinha para limpar e enxugar pia. Ela absorve a água e você espreme e torna esvaziá-la novamente.

Quando duas amigas começam a se relacionar é natural que uma conte a outra sobre suas conquistas, problemas e vivências diárias. Ao aprofundar a amizade, as intimidades de ambas ficam expostas. A cumplicidade aumenta, os segredos diminuem a afetividade envolve os sentimentos e as emoções prevalece sobre a razão.

Os pedidos de ajuda tornam-se corriqueiros, provocando  uma maior influencia e interferência uma sobre a outra. O conselho de inicio é bem vindo e oportuno, mais tarde, ao atingir em maior grau a privacidade da outra, torna inoportuno, inadequado e rejeitado. Quanto mais verdadeira, sincera as opiniões formuladas pela amiga, mais a outra sente agredida e obrigando a adotar uma postura defensiva e encapsulada, tipo casulo.

Passamos então, a discutir a dualidade do certo e errado, o paradoxo das contradições. Se a amiga insiste em esfregar o espelho na cara da outra, esta nada enxergará. A perfomance de autencidade e de lealdade aos seus princípios humanitários e cristãos de ajudar o próximo como a si mesmo, encontrará do outro lado, aquela, preferindo não enxergar tanto, optando, ao bel-prazer, da fácil ilusão, fomento da alma, mas motivos de tantos desencantos.

Outra dialética impõe. A amiga, indaga no profundo do seu eu, se não expresso o que penso, rotular-me-ei de fingida, superficial, falsa e mentirosa. Exclama, isto é, inaceitável para mim. Prefiro continuar verdadeira, é assim que sou. Se coloca no lugar da outra. Agora já funcionando como a esponja. Absorve os problemas da outra e pensa como se fosse outra.

Se eu estivesse no lugar dela agiria desse jeito. Ao final, esvazia seus juízos, racionalmente, projetando na outra seus valores e conceitos. O tiro sai pela culatra. A outra não reconhece o esforço desprendido e maternal da amiga e devolve com aturação, repetição e negação. Em outras palavras, entra no ouvido e saiu no outro. E de sobra a amiga, ‘’tipo esponja’’, fica de saco cheio e magoada.

A neblina ofusca bastante nossos olhos. Os primeiros raios de sol das manhãs clareia um pouco mais, e aquece nosso corpo de forma gostos e agradável. A mesma luz solar que tanto ilumina não nos permite a pertulância e a audácia de fixar os olhos diretamente os olhos diretamente ao sol, cego ficaremos.

 

1ª sessão

 

M.J 34 anos

 

1ª crise em 1993 – não enfrentava fila, não saia sozinha, medo e pânico, insônias. Tratou por 03 meses 01 sessão por semana, com remissão total dos sintomas. Interrompeu o tratamento, porque considerou injustiçada quando cobrei uma sessão que não compareceu. Não pôde comparecer porque estava com o marido no hospital, pois ele estava internado.

Agora retornou dia 06/09/94, passando mal: taquicardia. Fez um grande chek-up e não achou nada. Estou passando mal desde julho e não rompi o tratamento e achei que você  não querer me atender direito, pois interrompi o tratamento e achei que você ia me tratar mal.

RD: Relaxamento corporal.

Ao final diz sentir melhor mas o corpo pesado.

 

2ª sessão

 

Inicia colocando suas duvidas sobre os efeitos  dos medicamentos que prescrevi (Anafranil e Olcadil). Não tomei a dose certa por causa dos prováveis efeitos colaterais que li na bula. Problemas cardíacos, e também medo de provocar dependência.

Faço esclarecimentos sobre os medicamentos. Explico as diferenças: sedativos, ansiolíticos e antidepressivos. Explico a importância do Anafranil na síndrome de pânico. Insiste em querer usar a sub-dosagem  do anafranil. Reafirmo a necessidade do uso de 100 mg por dia.

A seguir coloca sobre o seu problema – comecei a passar mal  em 04 de julho e não tive coragem de te procurar. Fiquei muito chateada com você. Vi você no parque de exposição e me escondi de você. Meu marido disse – Você não pode se esconder dele, você está passando mal e esta semana você tem que procurá-lo.

RD: Você está no parque de diversão. Só que você está com Zezé lá com 4,5,6 anos.

A Maria José com a Zezé. Brincando no Carrossel, depois no minhocão, no pula-pula, comeu algodão doce, maçã do amor. Tirou o chinelo brincou na areia e na poeira. Agora vou deixar vocês a sós. Você a Zezé, vocês duas. O parque é de vocês. Daqui a pouco volto a encontrar com vocês, silêncio... encontrei com vocês novamente, e vocês novamente, e você Maria José está toda satisfeita e feliz. Abre os olhos.

- Fui na roda gigante, mas tenho muito medo da roda gigante.

- Mas eu não te coloquei na roda gigante.

- É, mas eu fui por minha conta, para ver se eu quebro este medo, da roda gigante. Dei muitas voltas sozinha. Engraçado o meu filho me pergunta, por que só eu não andava com eles no brinquedo, os outros meninos andavam com as mães deles. Estou sentindo muito pesada, parece que estou fora de mim. Parece que eu cresci. Quando respiro fundo o peso e a sensação desaparece, parece que fico cheio.

Respire fundo e desaparece.

Reforcei que relaxou profundamente e que seria bom o seu proveito.

 

3ª sessão

 

Esta semana tive as mãos suando. Quando a crise começou, respirava fundo e aí molhava. Não consigo tomar os medicamentos. Quando vejo as bulas do anafranil, não tenho coragem. Tomei apenas 25 mg. 01 comprimido à noite. Mas estou me sentindo melhor, já consigo controlar a crise, mesmo sem remédio. Será que é por que estou mais consciente da minha doença. Antes eu vivia de medico em medico, e não sabia o que era. Desde aquela vez que você me explicou que o que eu tinha era síndrome do pânico, senti melhor. Apesar de ter passado muito mal nesses dois últimos meses, ainda foi melhor do que a outra vez. Consegui trabalhar normalmente. Antes era aquela sensação constante de morte, pensava em doença o dia inteiro. Agora isto desapareceu. Veja bem o meu marido foi trabalhar fora, foi para Barbacena. Só vem no final de semana. No inicio chamei meu filho mais velho para dormir comigo, na minha cama. Eu estava tendo insônia e estava transferido para seus filhos, esta minha ansiedade. Aí eu tive coragem, de voltar com ele para o quarto dele. Agora já consigo dormir sozinha. Agora todos estão mais tranqüilos. O importante é pensar no amanhã.

A paciente vira para mim e diz:

- Fale o que você está sonhando

Respondo. – Vamos para 2ª parte

RD: Respire profundamente. Profundamente dentro de si. Deixe sua mente inconsciente bem a vontade. Gostaria que você concentrasse toda sua atenção nas duas mãos. A mão direita representará a saúde, e a mão esquerda representará a doença. Na mão esquerda estão dois meses de mal estar, taquicardia, tremedeira, medos, insegurança, os exames médicos, pensamentos de morte. Na mão direita está a saúde, bem estar, a segurança, as suas conquistas – conseguiu trabalhar, conseguiu dormir sozinha, conseguiu passar tranquilidade para seus filhos.

Agora gostaria que você virasse a mão esquerda e fosse juntando tudo que seu inconsciente pudesse lembrar de desagradável. E depois de juntá-lo fosse atirado para bem longe, bem longe mesmo, longe de você, e sua mão esquerda vai ficando macia, gostosa. Do outro lado está a mão direita, agora, toda poderosa, única, ela foi capaz de vender a mão esquerda, e ir se juntando a ela. E as duas formarem a saúde e o bem estar. Agora devagarinho, você pode ir se mexendo. Devagarinho você pode ir abrindo os olhos. Abre os olhos, esfregando as mãos uma na outra.

Após a RD a paciente fala espontâneamente.

- Hoje nós fomos muito fundo. Hoje não senti o peso. Você não fala nada, está só me observando. Agora o que é mais interessante. A gente é capaz de muita coisa. A minha mente é forte. Ela domina o físico. Foi 33 anos de minha vida assim. Hoje eu percebo. Percebo quando eu ia crescendo, meus medos iam crescendo junto comigo. Ás vezes deixei de ir a faculdade, deixei de ir passear e ir aos bailes. Uma vez estava na janela do colégio, vinha o medo de atirar da janela, ai vinha a taquicardia.  Se alguém falava em suicídios, alguém se atirou do edifício, eu não passava perto do edifício. Se alguém foi atropelado, eu não atravessava rua. Uma vez eu estava apontando um lápis de cor com uma gilete, a gilete quebrou e eu não consegui achar a outra metade.

Eu achei que tinha engolido a gilete, 33 anos sofrendo.

 

4ª sessão

 

Não tive mais crise. De domingo para segunda perdi o sono. Meu marido ia viajar para trabalhar,eu, ia ficar a semana toda sozinha. Eu era muito agarrada com a mãe, agora transferi para ele.

Fujo da palavra morte. Será que se eu conversar sobre morte eu melhoro? Será que é medo de morrer? Minhas irmãs são tranqüilas. Eu não. Sou agarrada na mãe. Ela criou minhas irmãs mais livre. Comigo não. Vejo minhas fotos, até os 10 anos minhas roupas, eram só roupa de frio, tudo encapuzado. Eu ia para a escola de roupa de capuz. Tampada dos pés a cabeça. Nada de fraldinha, piscina, praia, nada. Da minha segunda irmã, são apenas 03 anos de diferença. E até ela nascer minha mãe tinha medo de me perder. Talvez porque minha avó morreu cedo. Logo que nasci minha mãe contou, que quando no 1º dia viu a minha moleira bater ela fez um escândalo danado. Só me dava banho quando o meu pai estava em casa. Colocava um cobertor em cima da banheira, a janela lacrada de jornal. Era um excesso de proteção. Ela me marcou para o resto da vida. Nós morávamos no distrito de Buarque e qualquer gripinha me trazia correndo para o hospital. Para piorar, quando eu tinha 06 anos, tive uma vertigem na escola, e a professora veio me trazer no colo, gritando, socorro ela está morrendo,e, eu vendo tudo aquilo. Eu tenho medo demais. Até os 02 anos, com sol de rachar, minha mãe me levava no colo com manta e tudo. Até hoje ela fala, quando eu vou sair está levando um agasalho. Quando começo a questionar ela não concorda.  Com o nascimento dos meus filhos, revivi tudo isso. Se estou bem, acho tudo isso que contei engraçado, mas se estou com crises fico perturbada. E quanto mais medo eu tinha, mais ela me forçava. Tinha medo de boi, ela queria que eu fosse nas fazendas e ficasse dentro do curral. Tinha medo de um poço d’água na casa do meu avô paterno, ela me obrigava sempre ir lá perto. Como  eu sofria medo de passar férias sozinha, me mandaram passar férias com a minha tia na praia, chego lá fico menstruada pela 1ª vez, ai foi aquele sufoco.

Só consigo lembrar de coisas ruins da infância. Minha mãe só contava só casos de assombração, no parque morria de medo de roda gigante ela me obrigava a ir na roda gigante.

RD: Numa viagem a passeio, numa viagem de turismo, quase sempre, a programação inclui lugares históricos. Não é atoa que Congonhas, Ouro Preto, São João Del Rey ano após ano, recebe milhares de turistas a cada ano.

A cultura, o modo de viver de cada povo, tem haver com o seu passado, com suas perdas, suas conquistas. E a compreensão da historia é manter viva aquelas imagens, ajuda crescer  e aperfeiçoar o futuro. E cada cidade, cada povo vai se diferenciando em ritmo próprio e características individuais.

Abre os olhos. Hoje eu senti muito pesada. Eu vou muito fundo.

 

5ª sessão

 

Tudo bem. Nestes 15 dias passei muito bem. Tenho observado que na véspera da menstruação e na ovulação sinto impressionada, tenho taquicardia. Ainda não consigo me adaptar a determinadas situações, principalmente velório e morte. Morreu parente do meu marido, não fui lá. Não consigo vencer este medo. As pessoas dizem, que para eu vencer este medo tenho que ir. Eu acho que é pior. Tenho evitado situações tristes, filmes. Acho que estou melhorando, porque antes vivia procurando coisas ruins. Então durante a crise, só queria conversar sobre doenças. Agora não, evito. Fujo do problema. Tenho 33 anos, e me comporto como uma criança, com estes medos. Do meu passado só lembro coisas ruins, não lembro coisas boa.

Externamente não tenho problemas, lido com problemas direto lá na escola e as pessoas ficam admiradas como consigo resolver tudo.

Não lembro nada de positivo do meu passado. Sinto vergonha de falar da minha infância. No ano passado quando te procurei pensei que meu problema era meu marido. Mas não é isso. Agora melhorou. Principalmente depois que ele foi trabalhar fora. Agora ele só vem aos finais de semana, então é dia de namorarmos. Colocava a culpa dos meus problemas no relacionamento.

Quando terminei o 2º grau, pensei em escolher uma profissão que me ajudasse. Pensei em psicologia, porém, não fiz inscrição porque era em Belo Horizonte, aí eu tinha que sair de casa. Não fiz um curso que tinha vontade. Fiz curso de pedagogia, porque, eu podia ir e voltar para casa. Eu ia em Barbacena e voltava. Problema é comigo mesma. Até 06 anos eu ia ao médico de semana em semana. Já na minha vida profissional sou competente, consigo passar segurança. A mãe dos alunos me elogiavam, aquela segurança e tranquilidade. No fundo não era nada disso. Quando adoeci, tirei licença todo mundo surpreendeu.

RD: A neblina ofusca nossos olhos, ligamos o farol baixo para enxergar melhor. Depois os primeiros raios de sol vai dissipando a neblina, clareando o dia... não há nada que resista as mudanças  que os ventos sopram.

Abre os olhos – lembrei duas coisas negativas. A primeira quando fiquei longe de minha mãe. Fui para o Rio de Janeiro, e minha tia obrigou ir a praia. E lá fiquei menstruada pela 1ª vez. Foi aquele sufoco. Outra vez, quando fazia pós graduação em São Paulo, deixei de assistir as aulas várias vezes.

 

6ª sessão

 

Estou me sentindo bem. É engraçado psicoterapia a gente sente necessidade de falar daquilo que chateia. Hoje quero falar do meu trabalho, da minha vida profissional.

Em 55 anos de existência da Escola Profissional, eu sou a 1ª mulher a ser diretora. A maioria das pessoas que trabalham lá são homens. Eles tem necessidade de poder e eu sou honesta demais. Entrei por concurso, no cargo de orientadora educacional em 1986. A escola tinha uma disciplina muito rígida e quando entrei, fui apresentada como aquela que resolveria todos os problemas de disciplina. A maioria das pessoas de lá, tem uma longa historia com a empresa. Eram mais de 30 anos de serviço na RFFSA depois que iam para escola. Eu fui direto e com 04 anos fui para a gerência. Meu pai também foi da ferrovia e falava, chefe não erra. Eu tenho uma outra visão. Hoje teve dois superiores na escola para resolver um problema interno. E um deles, superior a mim, e subordinado e outro, descaradamente, mentiu para se proteger. Ficou a minha palavra contra a dele. Mas aí aconteceu uma coisa boa. Eu não descontrolei. Em outros tempos eu começava a chorar, perdia a calma. Isto aconteceu varias vezes, chorei em varias reuniões. Hoje eu consegui colocar a razão na frente da emoção. Controlei. Recebi até elogio do chefe, ‘’hoje você foi diferente’’. Isto me fez pensar, o quanto eu era criança. Quanto mais eu crescia, passei da infância, adolescência, noivado, casamento,  pior eu ficava. Quanto mais eu conhecia o mundo lá fora, pior ia ficando por dentro. A gente vê o futuro em crescimento, mas sentia por dentro. Quanto mais velha eu ficava mais criança eu era. Mais insegura. Era uma rocha profissionalmente, como mãe, como dona de casa era tudo organizado mas o meu intimo não era organizado. Eu me sentia representando, era uma pétala de rosa por dentro, tão delicada. Hoje tenho coragem de dormir no 2º andar do quarto de um hotel. Tive uma vida de medo. Só medo

RD: Investiu na área intelectual e teve retorno e agora estava investindo na vida emocional e já tenho retorno.

 

7ª sessão

 

Estou me sentindo bem. Meus filhos estavam de catapora, melhoraram. Até minhas leituras melhoraram. Antes só lia livros de pensamentos positivo, agora, estou lendo livros da minha área. Eu estava vivendo só os meus problemas e não estava acompanhando as coisas, que estavam acontecendo.

Lá no meu trabalho, no auditório, pegaram um casal de namorados transando. Pensei, esta escola é rígida, quase um militarismo, o jeito é expulsá-los. Passei a semana inteira juntando dados, investigando para levar para o colegiado. Fiquei surpresa com a decisão. Todos foram unânimes em não expulsá-los, e fazer um trabalho na área da sexualidade dos adolescentes.

Aí parei para refletir. Eu estava indo mal em meu trabalho. Só preocupava comigo e com o trabalho burocrático. Foi uma surpresa para mim a decisão  do colegiado. Conclui, quem estava fora do tempo era eu.

Eu estava preocupada comigo e não acompanhava o pessoal. Eu estava vivendo os supostos problemas imaginários  do passado e não estava vivendo o presente. Só ligada nos meus problemas ligada a minha infância, com meu pai e minha mãe, e não enxergava a atualidade.

Ai comecei a pensar no meu filho mais novo, que tem 02 anos. Desde que ele nasceu que eu estou nessa depressão. O que será que estou passando para ele. O parto dele, cesárea, foi aquele sufoco, aquele pânico. Foi necessário anestesia geral. Piorei muito depois do nascimento dele. Até agora é uma criança saudável. Mas e o futuro dele. O primeiro parto foi tranqüilo. Nem durante a licença maternidade foi tranqüilo. Tem 02 anos que ele não tem uma mãe segura.

A paciente faz uma pausa. Retorna a falar – É incrível, venho para cá, e digo, não tenho nada para falar. Depois tudo sai da minha mente, sem planejar nada. Vem tudo a tona. É incrível e interessante este tratamento: e você fica aí sem falar nada. Mas eu quero continuar bem. Não quero recair – é a pior coisa do mundo sentir que vai morrer. Eu passando mal sentindo tudo naquele hospital. Quando você apareceu e me chamou para conversar, pensei, ele vai me preparar para internar. E você na maior tranquilidade me explicando sobre a doença.

RD: Penso que é possível para maioria das pessoas reorganizar suas vidas. É possível relaxar, deixar sentir bem. Como estava sendo bom, sentir-se bem. Dona de si e segura. É possível parar por um instante, como aqui e agora. E aproveitar este momento para deixar o inconsciente a vontade, que ele estaria trabalhando a seu favor. E eu gostaria você voltasse na segunda gravidez, se percebesse agora, que estava dona de si, e visse como estava naquela ocasião. Deixasse se perceber em todos os aspectos. Pré natal perto, após o nascimento da criança.

Eu sinto relaxada do lado direito (antes sentia o peso geral) agora só lado esquerdo. Sinto meu olho tremendo. Parece que você me dividiu no meio. Lá em casa outro dia estava tentando o relaxamento e lembrei daquela sessão em que você colocou a saúde do lado direito e a doença do lado esquerdo.

- Você pode lembrar do restante que lhe falei. O que estaria na mão estaria na mão esquerda seria jogado para bem longe. E a mão direita toda poderosa se uniria a mão esquerda. Se uniriam num estado de saúde e bem estar. Pega a bolsa, paga e sai.

 

8 sessão

Sempre tive idéias fixa com morte. Medo de morte. Em qualquer situação em qualquer coisa que eu fazia pensava que ia morrer. Até nas férias, quando arrumava as malas, pensava, será que volto. Até nas férias eu não relaxava. Num carnaval, viajamos para praia à noite. Fiz questão de ir a noite, pois, achei que meu filho, podia ter uma insolação.

Não é que um dia depois que chegamos lá meu filho já estava com febre. Levei-o até a pediatra ela diagnosticou insolação. Mas não havia razão para insolação. Será que foi meu pensamento. É assim, tudo eu fazia em função do medo. O medo sempre comandou a minha vida.

Somos três irmãs. A irmã mais nova não tem nada. Meu avô ficou dez anos na cama, por causa de uma fratura na bacia, e quando eu chegava na casa dele, ele começava a contar casos de assombração e terror. A vizinha só contava caso de terror. Uma vez fui para praia eu tinha tanto medo que não fui em nenhum passeio. Quando eu via as ondas, a água naquela altura e profundidade , pensava, a onda vai me levar.

Uma vez fiz um curso de controle mental, aí, o professor sempre me levava a imaginar situações que eu tinha medo. Ele dizia. Se você tem medo do 23º andar de um prédio. Imagine o seguinte – Você está no 23º andar, chega próximo da janela, senta na janela, e coloca os pés para fora. Isto era uma loucura , mais medo eu tinha. Fui fazer esse curso por causa da minha mãe. Nesta época ela estava na menopausa e passando mal. O ginecologista, aconselhou que eu acompanhasse para passar energia positiva para minha mãe.

Eu pensava tanto em doença, e chegava a agradecer á Deus por não me castigar. Pois ia aos médicos e eles diziam você não tem nada. Agora eu perco eu não tenho nada no corpo, mas minha mente estava muito doente.

RD: As pesquisas médicas mostram cada vez mais a integração do corpo e da mente. Se uma pessoa tem um transtorno emocional pode ocorrer taquicardia, suadeira nas mãos, dores de cabeça, úlcera, enfarto vice-versa, as doenças físicas, podem levar uma depressão, stress e assim por diante. Nem sempre sabe ao certo, limites de um e outro.

 

9º sessão

 

Preciso te dizer algo. Estou meio sem jeito. Mas estou aqui para ser sincera. Se eu não disser vou continuar sentindo incomodada. Nas ultimas sessões tenho fujido do assunto, mas preciso dizer. Você me intimidava. Desde aquela sessão, você me cobrou por ter faltado. Eram justificativas muito concretas. Meu marido foi internado para fazer uma cirurgia, eu não pude vir a sessão e você me cobrou essa sessão. Achei um absurdo, você só estava vendo o seu lado profissional, o dinheiro. E se fosse você naquele di anão pudesse me atender por um motivo ou outro. Eu não teria que ficar sem a sessão,e, não poderia falar nada. Achei você muito mercenário. Aí fiquei com raiva e não te procurei, e de propósito, marquei uma consulta e não compareci. A relação é mais de mim para você, do que de você para mim. Ai eu te culpava, mas ao mesmo tempo eu pensava ele foi uma pessoa que abriu meus olhos. Você me ajudou a sair de uma crise. Você me chateou. Eu tive tanta consideração com ele e ele não teve comigo. Aquele lance deixou marcas. Na semana passada meus filhos estavam de catapora e eu não podia vir a sessão. Pensei e agora. Telefono ou não para ele. Vai repetir tudo de novo. Eu não vou poder ir, e, ele simplesmente vai cobrar a sessão. O tratamento não é barato. Tive coragem, e liguei para você, só, que você, imediatamente colocou outro horário a disposição e foi tudo diferente.

Interferi e com minhas mãos  junto do peito e em tom de brincadeira, disse – então estou absolvido da minha culpa.

A paciente continuou – não consigo entender, eu desmarco dentista, medico, manicure, compromissos sociais, porque não posso desmarcar com você? Agora tem mais um problema, vou participar de um congresso em São Paulo, por uma semana, ai voltou tudo de novo: o terapeuta para mim passa um sentimento  de paizão, aquele pai que está sempre pronto para me ajudar. E você não, foi frio e profissional.

Compreendo os seus sentimentos, e realmente eu posso ser um pouco de pai, de marido, de mãe, irmãos. Agora já que você está disposta a analisar aquele lance, vamos ampliar um pouco mais nossa visão do que ocorreu. Se eu sou um paizão, você é uma filha, como é o seu sentimento como filha quando o seu pai te contraria. O meu pai faz isso tudo lá em casa. Ele faz as compras. Nos meus melhores momentos, foi ele, que esteve presente. No meu aniversário de 15 anos, foi ele que organizou tudo. Até meu vestido de noiva  ele estava presente. Agora apesar dele fazer tudo se ele me contrariar um pouco eu fico mais sentida. Se a minha mãe me contraria não sinto tanto, mas se for o meu pai eu sinto muito mais. A reação dele é sempre estar do lado da gente. Quando casei, deitava com meu marido; recebi uma educação severa, que meu pai falava eu achava certo. No inicio do meu relacionamento tive dificuldades. Quantas vezes acordava com meu marido me fazendo carinho, ai eu via a pessoa do meu pai me recriminando.

RD: Vestido de noiva, aniversário de 15 anos, corte do cordão umbilical.

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