Indução da Hipnose -1 - Autor do artigo: Prof. Malomar Lund Edelweiss

(* in memoriam)
Fundador e dirigente do Curso e Grupo de Estudos de Hipnoterapia e Hipnoanálise em Belo Horizonte (MG). Psicólogo com mais de cinquenta anos de experiência em hipnose. Fez psicanálise didática em Viena, no Círculo Vienense de Psicanálise. Fundou, em 1956, o Círculo Brasileiro de Psicanálise.

Há maneiras sem conta de induzir a hipnose. Exponho, a seguir, uma das modalidades entre as muitas que existem: através do relaxamento, expediente dos mais comuns, que amolda a variações de formas e medidas consoantes com as preferências do operador e em vista do sujeito real. É das menos ameaçadoras por ser não autoritária. Não tem, ao mínimo, ares verdadeiros ou falsos de pretender subjugar: propõe, apenas. Note-se, inclusive, que o relaxar puro e simples, sem qualquer outro acréscimo, tem sido aplicado para obter efeitos psicoterapêuticos, com resultados benéficos dignos de crédito. A presente exposição aduz, em seus fundamentos, linhas que, mesmo contendo algumas particularidades, constituem certo padrão disposto a refinar-se, obrigatória e logicamente, pelas adaptações próprias à situação concreta, caso a caso. O objetivo, dentro do meu propósito específico, é induzir o estado de transe com finalidade terapêutica. Na qualidade ancilar de elemento coadjuvante, ele se faz partícipe de boa e preciosa liga com as técnicas válidas existentes, nos tratamentos psicológicos.

Nada obsta, porém, que a indução se faça tão só para estudar o fenômeno em si mesmo, sem outras sugestões secundárias e indevidas, de qualquer natureza.

Da maneira mais simples, convido o sujeito a sentar-se diante de mim com o máximo conforto possível. A cadeira pode ter braços ou não. Se houver espaldar alto, ele permitirá reclinar a cabeça para trás, naturalmente. Como substituto desse, a cadeira poderá encostar-se a uma parede. Será, então, fácil, descansar nesta a cabeça, se o cliente o desejar, pois, em algumas pessoas, esta posição provoca repuxamento da parte frontal do pescoço. Pode convir se coloque uma almofada entre a cabeça e a parede ou o espaldar da cadeira, para maior comodidade.

Não raro, alguns se sentem muito bem mantendo a cabeça ereta, a equilibrar-se, espontânea, solta, sem apoio nenhum. Os pés devem permanecer um pouco afastados, um ao lado do outro, naturalmente sobre o chão, evitando se equilibrem nos artelhos, ou seja, na ponta do calçado, ou de qualquer modo que produza retesamento dos músculos das pernas.

Muitos, à primeira entrevista, mesmo dizendo-se confortavelmente sentados, têm o hábito de colocar as pernas de tal modo para trás, que os pés têm de apoiar-se na ponta, não ficando, pois, como é o normal, toda a planta dos pés assentada no chão.

Sempre que isto acontece, peço que por um momento, não se mexam, mas olhem os pés e observem como estes estão mal acomodados, retesando as panturrilhas (popularmente denominadas batatas ou barriga das pernas). Muito freqüentemente a resposta é: “Assim, você está gastando energia inutilmente. Mudar a posição das pernas ou dos pés, de quando em quando, é normal e ajuda descansar. Mas, desta forma, você está praticando algo semelhante a sair de casa, deixando todas as luzes acesas, sem necessidade, e aparelhos elétricos funcionando no vazio...”

As pernas também, não devem ficar cruzadas. Se o cliente for de estatura baixa um banquinho, ou sucedâneo, remedeia o incômodo de as mesmas ficarem pendentes, com os pés no ar. É comum ver pessoas se sentarem numa posição defeituosa e, por hábito arraigado, nem darem a menor atenção ao fato.

As mãos podem alojar-se, com facilidade, sobre as coxas, mesmo numa cadeira provida de braços, sobre os quais os cotovelos se descansam, caso a altura e o volume do corpo o permita. A palma das mãos, normalmente, toca a parte frontal das coxas. (1). Quem está exercitado nas posições de relaxamento da ioga pode preferir deixar as mãos bem descontraídas, com o dorso sobre as coxas ou sobre o assento da cadeira e a palma voltada para cima. Os obesos, pelo abdome crescido, são comuns se acomodem com os braços e mãos pendentes ao lado do corpo ou os descansem sobre os braços da cadeira.

Nada impede que o sujeito se deite num divã, necessário em alguns casos de deficiência física que impossibilite a posição sentada. Em geral, prefiro a cadeira, pela razão de permitir observar melhor, frente a frente, a postura, os gestos, os movimentos corporais e a expressão fisionômica do hipnotizando. È da maior relevância acompanhar, atentamente, tudo o que está ocorrendo, desde os pés até o rosto de quem está sendo hipnotizado.

Antes de qualquer outra coisa, pergunto (o que também vale por uma recomendação):

- “Você está, de fato, bem instalado aí no seu lugar, bem à vontade, com todo o conforto, ao seu modo? Este é que importa, e não o meu, ou seja, de quem for...” (Ou: “O seu modo é o seu, não o meu!”).

A linguagem do terapeuta será a própria dele, adaptada às condições do cliente, a começar pelas culturais. A naturalidade do operador, sincera, é um dos elementos que contribuem para facilitar a indução. O sujeito poderá responder que está muito bem na posição em que se encontra. Ou pode reacomodar-se melhor. Ou, ainda, poderá o terapeuta, em verificando que haja algo forçado ou tenso na posição do outro, sugerir, por exemplo, que altere tal ou qual coisa no modo como está sentado, seja a posição do corpo na cadeira, a dos pés no chão, etc. Em certos casos, o sujeito só consegue, de início, estar em posição algo rígida, inatural. Em maior ou menor tempo, com toda probabilidade, o processo acabará por atenuar e corrigir o defeito.

O cliente, ainda plenamente alerta, ouve então, de mim, em tonalidade clara, branda, pausada, que vai, cada vez mais, assumindo esse diapasão:

- “Daqui a pouco, vou pedir-lhe para fechar os olhos... e nós dois, juntos, vamos respirar profundamente, três vezes... sentindo o ar entrar friozinho pelas narinas... o que é natural pela temperatura mais baixa do ambiente... e, depois sair morninho, porque se aqueceu nos pulmões... Após essas três vezes... peço que continue de olhos fechados por uns instantes... a respirar normalmente... E uma observação: para respirarmos juntos, de olhos fechados você não mais vai me ver respirar... Mas acho que vai ouvir!"

Respiro a seguir, profundamente, com algum ruído proposital, e interrogo:

- “Deu para ouvir?...” A resposta que recebo é, invariavelmente, afirmativa. – “Então, continuo, “pode fechar os olhos!...”

Faço, devagar, a respiração anunciada, acompanhando o ritmo respiratório do cliente, inspirando e expirando sincronicamente com ele, isto é, começando e terminando, o mais aproximadamente possível, no tempo em que ele o faz. Completadas as três vezes, posso dizer:

- Muito bem...! (Ótimo!) Agora, peço continue, por alguns instantes, de olhos fechados, a respirar normalmente... ...E vou pedir-lhe mais uma coisa: sinta os pés no chão... e deixe-os à vontade...largando-se...como por vontade própria...Para isto, não precisa fazer força nenhuma...nem mesmo  ‘fazer força para não fazer força’... Sentindo os pés, obrigatoriamente você sente os sapatos (tênis, sandálias, etc. – ou, de modo geral, ‘o calçado’, principalmente quando houver dificuldade de definir melhor) que envolvem e protegem os pés... e, se forem de número certo e forma adequada, cumprem essa missão esplendidamente...Sinta a sola ou planta dos pés ...debaixo delas, sinta a palmilha interna que as toca...-E mesmo através do solado dos sapatos...debaixo deles...sinta o chão firme sobre o qual os pés se assentam e se apóiam...”

Quando há tapete, é possível intermediar: “... debaixo do solado e através dele, aqui, provavelmente..., você consegue captar, alguma coisa do macio do tapete (felpudo)... e, mais além... abaixo dele... o chão firme sobre o qual os pés se assentam e se apóiam...”

- "Sinta os tornozelos...dos tornozelos aos joelhos, sinta as pernas propriamente ditas...canelas, panturrilhas (ou batatas, ou barrigas das pernas)...e deixe as panturrilhas, como os pés...à vontade...relaxando...largando-se...como, também, não tem a menor obrigação de conseguir coisa nenhuma..."

É bom momento, a esta altura, o operador, respirar profundamente, como ao início. Serve para verificar a reação do hipnotizado. Este pode de imediato, também respirar profundamente. está, pois, já num bom vínculo para com o hipnotizador, num 'rapport' mais intenso. (Poderíamos dizer, em linguagem psicanalítica e em senso amplo, em relação transferencial positiva.) Em não se dando isto, poder-se á fomentar esse processo dizendo, por hipótese: “Você poderá acompanhar-me quando eu respirar fundo...respirando junto... como poderá, também, fazê-lo por conta própria quando quiser...a qualquer momento”. Há indivíduos que embora hipnotizados, pelo menos de começo, não acompanharão o ato de respirar. Não será nada mau, pouco adiante, se repita a proposta. Entretanto, existem os que muito dificilmente aderem à solicitação de acompanhar o terapeuta nessa respiração, mesmo após algumas sessões. Isto não impede, entretanto, o resultado positivo do transe.

 - “sinta os joelhos... eles estão flectidos (dobrados), necessariamente pela sua posição Sentada... nem haveria outro jeito de eles poderem estar...- Dos joelhos aos quadris...sinta e Deixe relaxarem as coxas... elas fazem certa pressão sobre o assento da cadeira...tanto que na parte posterior delas (“mais para perto dos joelhos”, se for o caso)... você percebe onde começa o assento da cadeira...Na parte anterior das coxas...você sente o peso e o calorzinho das mãos... e, nas mãos, que também relaxam...você sente o calorzinho das coxas...e, mais para a ponta dos dedos, onde a sensibilidade táctil é maior...você capta algo da própria textura da fazenda (ou ‘tecido’) da roupa...” (podendo citar, explicitamente, o tipo da peça de vestuário: calça, short,saia, macacão, etc.).  Evidentemente, isto depende do modo como a pessoa se apresenta. Esta verbalização, supõe que as mãos estejam descansando sobre as coxas, tocando a saia,calças ou que for. Serão diferentes as palavras se a ponta dos dedos tocarem a pele do corpo ou as mãos estendidas sobre os braços da cadeira.

- "Sinta e deixe à vontade os quadris...Assim como as coxas, eles também fazem pressão sobre o assento da cadeira...pelo motivo natural de que o tronco... verticalmente...no espaldar da cadeira... Assim, bem apoiado, pelas costas e pelos quadris...o tronco pode relaxar ‘numa boa’...costas...quadris...nádegas...baixo ventre...genitais...abdome ...se apóia pelos quadris...no assento da cadeira...e o tronco, pelas costas, se apóia nas costas,(barriga)...peito ...à vontade...”

- “Dos ombros aos cotovelos... relaxam os braços propriamente ditos... dos cotovelos até as mãos... relaxam os ante-braços...” (se tocarem os braços da cadeira, será isto lembrado: “que ... apóiam nos braços da cadeira...e você sente... no ponto de contacto... a superfície lisa...e o friozinho agradável...dos braços da cadeira...mesmo através das mangas” – se isto deveras ocorrer). Retrata-se, assim, verbalmente, a situação de fato, o que é muito importante, porque, dentro de si mesmo, sem dar-se conta, o cliente está como que confirmando que tudo é real porque, de fato, o é. “O pescoço pode relaxar todos os músculos...desde o peito e os ombros...até o queixo e a nuca...porque a cabeça está bem apoiada...” ou: “porque a cabeça se equilibra perfeitamente...” – se não houver almofada, nem a cabeça se apoiar contra a parede.

- “O rosto... pode relaxar... músculos do queixo... bochechas... mandíbulas... Os músculos das órbitas dos olhos, ao relaxarem... dão certa sensação de repouso, descanso... e as pálpebras podem até parecer... agradavelmente... um pouco mais pesadas... A testa relaxa... desde as sobrancelhas... até onde começa o couro cabeludo...” (ou: “até onde começa, anatomicamente, o couro cabeludo...” se, porventura, o cliente tiver cabelos escassos). Adaptam-se os termos à realidade do paciente, que poderá ser portador de qualquer outra peculiaridade.

- “O couro cabeludo, igualmente, relaxa... a parte superior, o cimo da cabeça (ou cocoruto)... a parte posterior, que desce até a nuca... e as laterais... direita... esquerda...”- E assim, você está... dos pés à cabeça...relaxando...sossegado...tranqüilo...ao seu modo...no seu ritmo...e na sua medida...nem mais, nem menos...(pode-se, convenientemente, dar  certa  ênfase ao tom de voz, principalmente neste final.

Permita-se, sentir-se assim, por alguns momentos... enquanto eu não lhe pedir outra coisa...”

O sujeito está, constantemente, sendo observado com atenção, de modo a que se percebam as modificações que se operam na postura do corpo, no rosto, nos gestos eventuais produzidos. Habitualmente, o tronco e os membros assumem posição mais descontraída, bem visível. Os traços fisionômicos se apresentam mais distendidos, etc. A seguir, depois de alguns instantes, mais breves ou longos, conforme o que for observado prossigo:

- “Enquanto fui falando aqui... suas pulsações e batimentos cardíacos foram se tornando... pouco a pouco... algo mais lentos... ou, em linguagem mais exata, foram se tornando, saudavelmente... mais compassados... Pelo afrouxamento muscular geral... a circulação se faz mais desimpedida... desde o coração... até todas as extremidades do corpo... e todos os órgãos internos... levando, até lá... nutrição... saúde... bem-estar... E a própria respiração está mais livre... mais solta... (se for conveniente, pode acrescentar-se: “Por mais uns momentos permita-se sentir-se dessa forma...”). E pela sua mente... podem passar mil e uma coisas... imagens... pensamentos... fantasias... sensações... lembranças... seja o que for... Ou pouca coisa... ou, mesmo, nada... como que você, por instantes... desligue completamente... e minha voz pareça distante... ou até suma... em alguns momentos... por completo... (o terapeuta pode baixar o tom da voz para tornar mais real a afirmativa)... Nada disto impede que você esteja aí... como que mais á vontade com você mesmo... sem ter obrigação de haver conseguido coisa nenhuma... e, portanto... sem ser cobrado... do que quer que seja... por ninguém... nem por você mesmo...”

Decorrido certo lapso de tempo, em geral, alguns segundos a mais do que os intervalos entre os fragmentos de frases que emprego para a indução:

- “daqui a pouco, vou fazer-lhe uma pergunta... que, por ser muito simples e natural..., você também poderá responder do mesmo modo... com toda a naturalidade... continuando tal como está... a relaxar de olhos fechados... E a pergunta é, apenas, esta: “Como é, (Fulano), que você está se sentindo agora... Pode responder? ... (ou: dá para responder?...).

Suponha-se a resposta: “Bem!”, ou “Muito bem!”, ou “Relaxado”... “Como anestesiado...” “Flutuando...” “Pesado...” Qualquer coisa deste padrão, pode merecer o reforço: “Ótimo...! curta (saboreie), simplesmente, seu bem-estar... ele é todo seu... sem nenhum artificialismo...! Eu não posso lhe passar coisa nenhuma... Posso, apenas, tentar ajudar-se... somente... tudo o mais é inteiramente seu...”

Se a resposta recebida foi dúbia ou de tal natureza que o terapeuta não entenda bem o que sucede ou o que foi dito, inclusive porque haja incerteza quanto à profundidade do transe, ou, mesmo, quanto à existência deste, pode aclarar-se com a pergunta: “E isto faz você sentir-se bem?... À resposta afirmativa, cabe, então a seguir, a aprovação com a fórmula acima: “Ótimo...! etc.”

Surpreendentemente, há de quando em quando, quem não consiga relaxar de modo nenhum e, ao inverso, se declare ansioso, mal contendo os olhos cerrados, invadido de medo ou agitação interior.

Claro, então, que o processo deve ser interrompido, pelo menos por esta vez, para que se tomem outras medidas oportunas cabíveis, antes de qualquer nova tentativa.

Passados alguns instantes, desde logo, é de bom aviso, promover o condicionamento que tem por finalidade abreviar as induções futuras, com notável economia de tempo e esforço. É prático o formato seguinte, embora possa haver outros:

- “Daqui a pouco..., vou contar de cinco a zero... E, ao contar de cinco a zero... seus olhos poderão tender a ir-se abrindo... devagarinho... sem pressa... de cinco a zero... e, o que é importante... você conservando todo o bem-estar... ao irem os olhos se abrindo... de cinco a zero... Depois de termos trocado algumas palavras, contarei de um a cinco... e, ao contar de um a cinco..., os olhos poderão ir-se fechando... pacatamente... comodamente... aumentando, ainda um pouquinho mais, o seu bem-estar... ao irem os olhos se fechando... à contagem de um a cinco...! Portanto... (ou resumindo) de cinco a zero... os olhos abrindo... e o bem-estar permanecendo... De um a cinco... os olhos fechando... e o bem-estar podendo aumentar ainda um pouco mais...”

Note-se a respiração insistente e a ênfase nos números. Tem isto, por objetivo, escandir o que é mais importante para facilitar a criação do reflexo condicionado apenso à contagem, e que, automatizando-a, facilitará enormemente as induções ulteriores.  A repetição do mesmo conteúdo, com diferentes palavras, robustece as sugestões.  Atente-se ao modo inteiramente permissivo, longe de tudo quanto pudesse lembrar submissão inexorável a um comando: “Seus olhos poderão tender a ir-se abrindo...”

Inicio esta etapa da contagem de cinco a zero, para os olhos se abrirem com uma respiração profunda, mais ou menos ruidosa o suficiente para ser bem ouvida e acompanhada pelo sujeito, e começo a contar ao ritmo da inspiração do ar: “Cinco... quatro... três... dois... um... zero...” – aumentando o volume da voz à medida que os olhos vão se abrindo e a atenção consciente aumenta. As pálpebras se desceram ao ritmo próprio de cada indivíduo.  Às vezes, já ao ser pronunciado o primeiro ou o segundo número.

Doutras, só depois de algum tempo de ter-se dito o zero.  Termino, invariavelmente, a contagem com uma respiração profunda, depois do número zero, tal como faço quando a inicio, respiro fundo, antes de pronunciar o número cinco. Isto intensifica o condicionamento, pois, em geral, mesmo quem, durante o relaxar progressivo, não acompanha o hipnotizador nas respirações que este faça, não deixa de repeti-la ao começo e ao final de cada contagem, estimulado pelo exemplo dado.

Fique bem claro: sempre que se comece ou termine a indução do transe, ela é precedida e seguida de uma respiração profunda. Aos mais renitentes, pode determinar-se de modo claro: “Vamos começar juntos, com uma respiração profunda...”

O sujeito, ao os olhos, pode estar plenamente lúcido ou relativamente sonolento. Ser-lhe-á feita a pergunta: “E agora... como é que está se sentindo?...” – A resposta é um dado útil para que se compare o modo de avir-se do hipnotizado durante o transe e depois deste. Muito freqüentemente, o sujeito repete o mesmo conteúdo que expressou pouco antes, ao ter sido feita, pela primeira vez, a interrogação, sobre como está se sentindo.  Poderá, então, a resposta do terapeuta ser: “Muito bem... (Ótimo, bem relaxado, etc). “- ou algo diverso, que sirva de orientação sobre o melhor rumo a tomar, de acordo com o que foi respondido. Não há como não ter em conta o que foi dito. Se houver a confirmação do bem-estar já manifesto anteriormente pelo hipnotizado, nova e serena aprovação do operador vem com justeza:

- “Que bom que você é capaz de permitir-se sentir-se bem... Afinal, é bom sentir-se bem...! De um bem-estar que é todo seu... nada de estranho... ou imposto de fora... somente seu...!

Nas mais das vezes, é oportuno prosseguir de imediato. Com os olhos fitos nos do cliente, de novo ‘respirar fundo’, aproveitando o momento exato em que o sujeito for inspirar o ar. Tendo ele feito isto – e o que se segue é fatalmente, a expiração – inicie-se, logo, a contagem de um a cinco, fazendo o número um coincidir co o momento preciso da primeira expiração, e continuando, desta forma, a contar os demais, um número de cada vez, sincronizados com o ato de esvaziar os pulmões. (Sublinhando, pois: a indução é condicionada pela contagem de um a cinco, feita ao ritmo da expiração; a dês-indução se faz pela contagem de cinco a zero, ao ritmo da inspiração).

Este passo é restabelecer o transe pela contagem de um a cinco, findo o que, pode louvar-se o desempenho do sujeito mediante palavras como estas:

- “Muito bem... você é um (bom) ótimo aluno... Daqui para diante... em qualquer situação legítima como esta... semelhante (igual) a ela... você, comodamente instalado no seu lugar... por própria vontade... cada vez que for contado de um a cinco... como há pouco... seus olhos poderão fechar-se naturalmente... lentamente... e de lá de dentro de você... virá um bem estar... que tomará conta de você... inteiramente... envolvendo-o por completo... dos pés até a cabeça... relaxando o corpo inteiro... enquanto os olhos vão se fechando...

E, ao ser contado de cinco a zero... também como há pouco... seus olhos poderão abrir-se... calmamente... sem pressa... conservando você... inteiramente... seu bem-estar... que lhe fará companhia... e irá com você para onde você for...!”

Na verdade, houve até agora duas induções: a primeira, realizada pelo relaxamento, passo a passo. A segunda, agora, depois da contagem de cinco a zero, para abrir os olhos, e a contagem de um a cinco para fechá-la. Esta é a segunda, em relação à primeira, que foi feita, ao início ao propor relaxar. Ao mesmo tempo, esta segunda indução é um primeiro ensaio em que se põe à prova o condicionamento da contagem de um a cinco, mediante o qual o sujeito, no futuro, passará a entrar em transe ao simples contar de um a cinco, nas condições expostas.

Repetir tem efeito cumulativo. De modo geral, vale reiterar as sugestões, para fortalecer a percepção do sujeito que, em estado alterado de consciência como o transe, sempre é mais tardo a registar o que lhe é proposto.

Segue-se esclarecimento muito oportuno, absolutamente veraz e que, por isto mesmo, fortifica o processo em curso:

“Isto é uma aprendizagem... ou reaprendizagem... porque, certamente, alguma vez... ou mais, até... você já pode ter sentido um bem-estar semelhante a este... E, como toda a aprendizagem... quanto mais repetir... como todas as aprendizagens que você fez até hoje... algumas delas até esquecidas... Por exemplo... quando um dia, pela primeira vez... lá no comecinho da vida... você em-pezinho... pela primeira vez... seguro nas mãos de um adulto... começou a dar os primeiros passinhos... pondo um pezinho na frente do outro... direito... esquerdo... direito... esquerdo... É claro que você nem sabia o que era direito ou esquerdo... isto você aprendeu mais tarde... mas foi movendo as perninhas... devagar... vacilante... e, pouco a pouco..., quanto mais repetia... mais firmes os pezinhos iam se assentando no chão... e assim, pouco a pouco... cada vez mais firme... pouco depois... largou as mãos do adulto... e começou a caminhar sozinho... com segurança... cada vez mais fácil... cada vez melhor... E aprendeu a correr... pular... brincar... jogar... e muitas coisas mais... cada vez mais fácil... quanto mais repetia... cada vez melhor... Ou mais, tarde, nas primeiras letras... Não era tão simples assim... olhar e guardar, visualmente, a forma das letras... ouvir e guardar auditivamente o som das letras... e sua mãozinha... pegando o lápis... e começando a traçar aquelas retas... aquelas curvas... o m com três perninhas e o n com duas... os olhinhos do o... do a... hastes para cima... como o d e o t... como o p e o q... e quanto mais repetia... mais fácil ia se tornando repetir de novo... e melhor iam saindo as letras... E você foi superando coisa por coisa... uma de cada vez... foi juntando letras... formando palavras... e, tempos depois, estava lendo e escrevendo tudo o que queria... cada vez mais fácil... cada vez melhor... E tudo ficou depositado, lá dentro de você... guardado na sua memória profunda... no seu inconsciente... ao seu inteiro dispor... para poder ir buscar lá... e usar quando quisesse... a seu bel-prazer... Como todas as coisas que você aprendeu até hoje... e as muitas mais que ainda vai aprender vida a fora...  Assim, também, isto aqui... agora... fica registrado na memória... no seu inconsciente... à sua inteira disposição... para usar quando quiser... cada vez mais fácil... cada vez melhor... Toda aprendizagem tem altos e baixos... é como uma linha ondulada ascendente... Ás vezes... numa das curvas... está-se mais baixo do que já esteve... mas a linha continua a subir e chega até lá em cima... Ou, ainda... suponhamos uma estrada em linha reta... da praia de Copacabana aos altos de Ouro Preto... seria monótona... desgastante... para o motor, motorista e passageiros... Assim... a estrada tem trechos planos... faz uma curva... sobe um pouco... desce um pouquinho... torna a subir mais ainda... e se chega ao destino com muito mais satisfação e descanso...”

Há uma vivência regressiva, mais ou menos profunda, inconteste, na lembrança dos primeiros passinhos e das primeiras letras. Observe-se bem a reação do sujeito e prossiga-se de acordo com ela.

Decorridos alguns momentos (podem ser, até, alguns minutos), conforme o tempo ainda livre, a boa disposição do terapeuta e da do cliente, pode ensair-se mais uma dês-indução seguida de re-indução. Trata-se, na verdade, de confirmar, com estes atos práticos, o que se esclareceu, corretamente, em instrução acima: repetir, ainda mais no começo das aprendizagens, e na justa medida, facilita subseqüentes interações e aprimora o efeito visado.  Se decidir fazer esta nova dês-indução, o operador, de modo singelo, se dirigirá ao sujeito em transe, omitindo qualquer intróito especial. Simplesmente, respira fundo, de modo que o cliente acompanhe o ato. Atento ao ritmo da “inspiração-expiração” proceda à contagem: “Cinco... quatro... três... dois... um... zero...” ao compasso da inspiração do sujeito. E, apenas este termine de abrir os olhos, de imediato, com nova respiração profunda, comece-se a reinduzir o transe com o já habitual: “Um... dois... três... quatro... cinco...” a acompanhar a expiração.

Quer esta indução tenha sido feita ou omitida, acrescento: “Toda caminhada, por maior que seja, começa com um primeiro passo... ao qual pode seguir-se um segundo passo, um terceiro... e assim por diante... Indo na direção certa... se chega onde se deseja... se pode... e vai chegar... se quiser...”

Desta forma, pode haver, ao todo, desde o começo, três induções.  A primeira é levada a efeito através do relaxamento inicial, passo a passo. A segunda – quando, (tendo eu, anteriormente, declarado ao cliente, já em transe pelo relaxamento que vou contar de cinco a zero e os olhos poderão abrir-se e isto tendo, de fato, ocorrido, após perguntar como se sente e os comentários que forem oportunos para o fato), conto de um a cinco (o que, também, já fora dito) e o cliente reentra em transe hipnótico, prova de que o condicionamento está ativo. A terceira indução, que me parece ser conveniente sempre que possível, faço-a, em geral, pouco antes do término da entrevista.  É mais um reforço. Facilitará ainda mais induções futuras. Acrescento então, como arremate, com o sujeito ainda em transe, algumas sugestões: “Você levará consigo todo o bem-estar que está sentindo... por todo o final do dia... (ou da noite), para uma boa noite... um bom despertar no dia seguinte... e até uns bons dias sucessivos...”

Chega-se aqui ao término da primeira sessão hipnótica. Costumo acrescentar, com o sujeito ainda em transe, que conversaremos um pouco, depois de ele abrir os olhos. Explico (ainda durante o transe): “Gosto de fazer uma segunda sessão, antes de propor algo mais definitivo. Esta segunda sessão se repetirá parte a primeira e dará mais um passo avante. Durará, aproximadamente, o mesmo tempo desta. Mas a decisão será sua, por própria vontade, evidentemente. Pensará, com calma, o que achar que mais lhe convém.

O sujeito é, então, desipnotizado pela contagem de cinco a zero e pergunto, mais uma vez, como se sente. Se ele der a impressão de que está sonolento, se custar a abrir os olhos ou quase não se permitir mexer-se na cadeira, costumo propor:

“Se estiver com os olhos um pouco pesados, pode respirar fundo uma ou duas vezes, que passará num instante, embora também passe logo, mesmo sem isto”. “Leve seu bem-estar consigo, para um bom resto do dia, uma boa noite e bons dias seguintes”.

Se for o caso, como é de meu hábito com quem deseja terapia, fica aprazada a sessão seguinte, se o cliente assim o desejar. Friso que ele não tem obrigação nenhuma de aceitar essa segunda sessão e, se decidir por ela, poderá tanto marcá-la, de imediato quanto telefonar mais tarde, depois de ter refletido sobre o que, realmente deseja. Prefiro acentuar que a segunda sessão, via de regra, não convém seja logo no dia seguinte, nem muito distante desta primeira. Três ou quatro dias, se possível, são bom intervalo. Repito o que já foi dito em transe, que durará, aproximadamente, o mesmo tempo, isto é cerca de hora e meia.

A despedida segue o modo costumeiro.

 

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