Algumas ferramentas da hipnose

Dr. Júlio César de Almeida Barros Psiquiatra com 36 anos de experiência clínica e formação em  hipnoterapia individual e de grupo. Criou e inaugurou o Pronto Atendimento Psiquiátrico em 1987, desde então, adquiriu grande conhecimento e prática em emergências psiquiátricas.

Gosto de usar a analogia da caixa de ferramentas. Se alguém ganha uma caixa de ferramentas e ao abrir esta caixa e ela está vazia, posso dizer que é apenas uma caixa. Quando o proprietário da caixa adiciona alicate, martelo, serrote, chave de fenda, pregos, parafusos e brocas então certamente merecem a denominação caixa de ferramentas.

Os psiquiatras clínicos com as condutas terapêuticas aliviam o sofrimento mental e proporcionam equilíbrio emocional aos pacientes. São inúmeras ferramentas a disposição do psiquiatra para alcançar este objetivo. Desde uma simples entrevista passando por exames sofisticados, prescrição de medicamentos até as técnicas psicoterápicas o psiquiatra está munido de um excelente arsenal.

A hipnose é mais um dos valiosos instrumentos para enxergar, explorar, estimular o saudável do ser na sua unidade psicossomática. A hipnose é uma enorme caixa com múltiplas ferramentas:

  • Relaxamento corporal – “para cada tônus muscular e uma resposta psíquica e vice-versa”. Pedir ao paciente que respire fundo, feche os olhos e sinta cada parte do corpo é um procedimento simples e eficiente para apaziguar a mente e produzir resultados de melhora da auto-estima e do bem estar.
  • Visualização – “o pensar por imagens... é mais próximo dos processos inconscientes do que pensar por palavras”. Pedir ao paciente que sente numa cadeira e se sinta confortavelmente imaginando estar numa praia, num jardim ou num campo em meio à natureza desligando-se dos estímulos externos, voltando-se para dentro, em paz e tranquilo auxilia combater a ansiedade.
  • Regressão dirigida – “o presente sem passado é vazio, o presente sem o futuro é cego”. O terapeuta sugere ao paciente que poderá lembrar fatos e acontecimentos de cada fase da vida. Com um pouco de esforço voltará à infância, imagens da época de criança, depois recordará da adolescência. O terapeuta poderá auxiliar o (a) paciente acrescentando alguns detalhes, o tempo da escola quando brincava com os amigos, na casa onde morava e a presença dos pais, quando andava de bicicleta, jogava futebol, brincava de bonecas, saía de férias, namorava e assim por diante. Ainda que o (a) paciente não se atenha as lembranças sugeridas pelo hipnoterapeuta, por associação, o (a) paciente poderá se ater as próprias imagens, surgidas no momento do transe.Esta regressão dirigida induz ao transe hipnótico com bom proveito para elaborar conteúdos traumáticos, nas soluções de conflitos e no alívio das angústias.
  • Dissociação consciente e inconsciente – “o coração tem razões que a razão desconhece” A dissociação é mais um dos fenômenos hipnóticos natural e comum no cotidiano. Quantas vezes um motorista realiza uma viagem deslocando de uma cidade para outra, ao volante dirigindo pela estrada, mas focado, concentrado e absorvido em seus próprios pensamentos, quando chega ao destino é indagado sobre o estado de conservação da estrada, o fluxo de veículos e a velocidade empregada para chegar tão rápido, ele responde simplesmente de que não se lembra de nada, uma completa amnésia. Para analgesia é um excelente procedimento. Um paciente se queixa de cefaléia. O hipnoterapeuta sugere em transe para o paciente focar a atenção em um pensamento ou imagem, por exemplo, um momento agradável em sua vida, distraindo a atenção da dor para outra ideia mais importante. Nesse momento num ato de esforço e atenção concentrada é comum que esta dor diminua ou até mesmo desapareça.
  • Positivação – “de onde quer que venha, para onde quer que vá... caminhante não há caminho... o caminho se faz ao caminhar”. Todos nós já tivemos a oportunidade, de ouvir ou ler sobre a força do pensamento positivo. Se otimismo não resolve ao menos não atrapalha. Na hipnose as sugestões positivas produzem bons resultados terapêuticos. Uma paciente sofrendo de insônia, ansiosa, aflita, apressada, quando o hipnoterapeuta sugere, sente-se, feche os olhos, respire fundo, de forma calma, tranquila, serena, sem precisar fazer nada e nem mesmo força para não fazer nada e agora surgirá em sua mente um momento agradável uma festa, uma conquista, ou ainda ratificar algo que a própria paciente disse ao terapeuta, que bom que a cirurgia correu bem, que você recebeu alta, que você está em sua casa, saudável, ao final da indução é comum a paciente comentar, nossa como foi bom, eu relaxei, estava muito ansiosa, ou ainda na outra sessão a paciente confirma, passei uma semana tão boa e dormi tão bem.
  • Pedagogização – “ver ou não ver?... Quatro olhos enxergam mais do que dois... a pior cegueira é a voluntária”. Por mais que se apregoa a neutralidade em psicoterapia é praticamente impossível que isto aconteça em sua totalidade. A neutralidade é de fato uma qualidade inquestionável na relação dual. Porém em determinados momentos da terapia se faz necessário um intervenção mais pró-ativa do terapeuta. Sem precipitação, ouvindo e perguntando o terapeuta pode e deve fazer colocações pontuais. Informar, orientar e ensinar. Um paciente em conflito, indeciso da escolha do curso superior. O terapeuta pergunta se ele pensou na possibilidade de se submeter a um teste vocacional e até explica de como o teste vocacional poderá ser útil para clarear e balizar a decisão e a escolha. Evidente que foi uma intervenção de cunho pedagógico e que certamente terá uma boa acolhida pelo paciente.
  • Analogia e metáforas – “assim começa o pão cotidiano que nutre a vida que sempre floresce”. Supondo que um paciente diga que está estressado porque está sobrecarregado, cheio de compromissos, cobranças e pressões na vida diária. Em seguida eu digo; - Uma confeiteira se dispõe a fazer um bolo de chocolate. Ela separa os ingredientes, açúcar, fermento, leite, ovos, chocolate e outros, conforme a instrução da receita. Mistura os ingredientes na dose recomendada. Ao provar da massa do bolo é capaz de sentir o sabor de cada ingrediente embora estejam todos misturados. Não é possível, voltar a separar os ingredientes uma vez que houve a mistura e a massa está pronta para ser levada ao forno. Marcar o tempo e após desligar o forno, retirar o bolo, esperar esfriar e degustar. Nossos conflitos advêm da vida familiar, das nossas relações amorosas, do ganhar e gastar dinheiro, da saúde, da nossa vocação profissional e assim por diante. São os inúmeros ingredientes da vida diária. Todos se misturam dentro do nosso cérebro, a analogia é o forno. A outra analogia  é a  confeiteira, que somos nós,  que deverá ter a habilidade necessária para lidar com todos estes problemas e ainda manter o equilíbrio emocional. A analogia e a metáfora induzem ao transe de forma indireta com maior aproveitamento por parte do paciente.
  • Anedotas - Alberto procura um guru para lhe ajudar, estava desesperado: Vim aqui para que o Senhor possa me fazer uma revelação para a minha vida.  Vá lá para fora e fique na chuva, com as mãos esticadas para o céu, a chuva é uma água abençoada, assim você terá sua grande revelação, recomendou o Guru. Duas horas depois Alberto volta ao guru. O guru perguntou:- E então o que aconteceu?Alberto respondeu:- Duas horas na chuva, estou todo molhado, ensopado, e não aconteceu nada, estou me sentindo um verdadeiro idiota.O guru completou: Não te disse que você ia ter uma grande revelação.

Nas anedotas ou piadas quase sempre estão embutidas metáforas ou analogias, com o acréscimo de causar o riso e a alegria. O bom humor é muito valioso para induzir o transe hipnótico e fixar atenção de forma mais subliminar. A alegria tem o poder aumentar a transferência e se tornar um facilitador para as condutas terapêuticas e aumentar a transferência na relação médico paciente.

 

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